"Amor por que vc é tão na sua?"

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Sandro estava, como sempre, em seu escritório, mergulhado no trabalho. Sua rotina era sempre a mesma: trabalhar, tomar café, trabalhar, fumar, trabalhar... Todos os dias repetiam-se como um ciclo interminável.

Ricardo, apareceu de surpresa. Sempre cheio de energia, ele adorando provocar o paulista. Ao chegar no escritório de Sandro, tentou puxar assunto:

— Salve, Sandrin! — disse Ricardo, com o sotaque arrastado. — Tava pensando da gente dar um rolê, só nóis dois. Que tal? — Ele sorria, tentando convencer o amigo a largar o computador por algumas horas.

Sandro nem tirou os olhos da tela.

— Não, valeu, Ricardo. Não tô muito na pegada, não. — respondeu o paulista, desinteressado.

Ricardo, insistente como sempre, cruzou os braços e continuou:

— Pô, qual é, mano? Tu fica o dia inteiro aí, cara! Só trabalho, trabalho e mais trabalho. Cê precisa dar uma descansada, véi. Só pensa em trabalhar, pô!

— Eu não tenho tempo pra isso, beleza? — disse Sandro, a paciência começando a se esgotar. Seu tom já estava ficando mais ríspido.

Mas o carioca não desistia fácil. Ele se aproximou mais, inclinando-se um pouco para frente, com aquele sorriso despreocupado no rosto.

— Ih, qual foi, mano? Vamo dar uma caminhada, pô. Só um rolezinho pra trocar uma ideia. — insistiu Ricardo, com o tom mais leve. — Olha só, prometo que tu não vai se arrepender. A gente pode dar um pulo na feirinha, comprar um pastel... Que tal? Topa, pô?!

Sandro ficou em silêncio por um momento, ainda encarando a tela do computador. Mas então, a voz de Miguel que uma vez ele tinha falado, ecoou em sua mente:

“Ô paulista, dá uma chance pra ele, sô. Num vai matá cê, não.”

Sandro suspirou. Ele sabia que Miguel tinha razão. Talvez um pequeno intervalo fosse uma boa ideia. Olhou de relance para Ricardo, que aguardava ansioso por uma resposta.

— Tá bom, Ricardo. — disse Sandro, meio contrariado, mas cedendo. — Eu vou nessa caminhada com você, mas ó... é só uma horinha, fechou?

Ricardo abriu um sorriso largo, com o típico entusiasmo carioca.

— Aê, moleque! Sabia que ia conseguir te tirar daí. Relaxa, mano, tu vai curtir! — disse ele, batendo de leve nas costas do paulista.

Sandro levantou-se devagar, ainda se acostumando à ideia de sair. Ele sabia que precisava, mas sempre resistia em deixar o trabalho de lado.

— Só não vem me enrolar, hein? Uma hora e nada mais. — avisou, já pegando a carteira e as chaves.

Ricardo, sem se conter, soltou uma risada.

— Relaxa, parceiro, a gente vai aproveitar direitinho!

Os dois saíram do escritório e, assim que Sandro colocou os pés na rua, o ar fresco da cidade o fez sentir uma leve mudança. Talvez Miguel estivesse certo. Uma pausa realmente poderia ajudar a clarear a mente.

— Então, pra onde cê vai me levar, Ricardo? — perguntou Sandro, tentando manter o tom casual, ainda meio desconfiado da ideia.

— Pô, pensei da gente dar uma volta na feirinha que tem ali perto, mano. Pastelzinho, caldo de cana... Vai cair bem. — Ricardo respondeu, animado, enquanto andava ao lado do amigo. — Aí a gente troca uma ideia, fala de qualquer coisa que não seja trampo, beleza?

Sandro sorriu de canto. Apesar da resistência inicial, ele sabia que era impossível não se deixar levar pelo bom humor do carioca.

— Beleza. Mas ó, nem pensa em me fazer rodar a cidade inteira, hein. Uma horinha só, já falei. — lembrou, com aquele sotaque paulistano carregado.

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