Me pede, já sabe que eu dou

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Pedro acorda ainda sentindo uma presença no quarto, mas quando se mexe na cama, sente que está sozinho nela.

Ele abre os olhos lentamente e vê João sentado em sua cadeira, olhando para o nada, aparentando estar pensando em mil e uma coisas.

— Bom dia pra você também — Pedro diz com a voz arranhada.
— Bom dia — João dá um sorriso de canto, quase imperceptível.

— Tá bom, fala logo — Pedro esfrega os olhos e senta na cama — O que está te incomodando?
— Eu não vou ter coragem de olhar na cara da sua mãe depois do que aconteceu ontem a noite — João diz rápido, como se estivesse apenas esperando o aval de Pedro.

— Não é como se ela fosse saber disso, né, meu bem — Pedro diz e João o olha com a sobrancelha arqueada — Tá bom, talvez uma pequena desconfiança.
— Viu?! — Romania bate as mãos contra as coxas.

— Haja naturalmente, anjo — Pedro dá de ombros — Quem não deve, não teme, não é? E minha mãe também é muito tranquila com isso.
— Não fale como se você também não fosse uma pessoa pensativa, Pedro — João diz, quase o repreendendo.

O mais novo balança um pouco a cabeça para os lados, concordando com o outro.

Pedro nunca vai dizer o que ele e sua mãe conversaram no dia que João veio até sua casa, depois de Pedro tê-lo beijado.

João vai até a cama e deita olhando para o teto, como se esperasse respostas do universo. Pedro se aproxima e o observa com o olhar um pouco vazio.

Ele deixa João com seus pensamentos e vai até o banheiro. Escova os dentes, lava o rosto, e volta para a cama.

— Bom... — Pedro dá um selinho em João para tirá-lo do mini transe — só age naturalmente.
— Esqueci como se faz isso — Romania senta na cama e cruza as pernas. Após alguns segundos, olha para Pedro com um sorriso de canto — Você foi escovar os dentes só pra isso? — ele se refere ao selinho.

— Não só pra isso, mas... — ele deixa no ar e faz menção a levantar da cama.
— Me pede e já sabe que eu dou, mesmo — João o puxa pela mão e o beija de verdade dessa vez.

Enfia os dedos em seus cabelos e se deixa sentir o contato da língua quente de Pedro em sua boca.

João sente que viaja e praticamente se perde em todas as vezes que Pedro o beija desse jeito. Concordando consigo mesmo de que, não só o olhar, mas tudo nele é feitiço.

— Acho... — João separa seus lábios e olha Pedro ainda muito perto — acho que é melhor a gente descer, já passam das 8h.
— Eu juro, você tem que parar de fazer isso — Pedro levanta para procurar uma blusa.

— Isso o quê, vida? — Romania dá um sorriso cínico.
— Você às vezes é meio cretino — Pedro sorri, incrédulo. Ele abre a porta do quarto e passa a mão nos cabelos — Vamos?

Eles descem e Ana está na cozinha, terminando de passar um café.

Pedro percebe sua mãe um pouco cabisbaixa e vai até ela.
— Tá tudo bem? — ele pergunta baixo.
— Está sim, é só... — ela respira — só seu pai, de novo. Nada que seja uma novidade.
— Mãe, se precisar conversar...
— Não, querido, de verdade, está tudo bem — ela sorri — Qualquer coisa, prometo que te falo.

Pedro decide que vai conversar com ela mais tarde, sabe que, mesmo se houver algo, ela não vai falar na frente de João.

Ele se vira para trás e vê João sentado à mesa, observando o nada.

Pedro sente seu corpo inteiro gelar ao ver a pele pálida do pescoço de João com algumas marcas de mordidas.

Ele coloca a mão na boca e segura uma risada que insiste em sair, enquanto sua mãe ainda passa o café.

Tófani vai até a mesa e senta ao lado de João, ainda tentando não rir. Logo consegue se recuperar, sem avisar ao outro o que tinha visto ali.

— Ela não parece muito bem... — João diz baixo, apenas para que Pedro escute.
— Meu pai — Pedro responde, isso é autoexplicativo — Não é como se a gente tivesse muita paz, mesmo depois dele ter ido embora.

Pedro respira e encara o nada por alguns segundos, se sentindo cansado dessa parte de sua vida.

— Tá bem? — João pergunta, tocando seu braço.
— Tá, tô sim — Pedro responde enquanto balança a cabeça, tentando se esvair dos pensar.

— João, querido, bom dia — Ana coloca a garrafa de café na mesa.
— Bom dia, tia Ana — ele responde com um sorriso.

Ela senta no lado oposto da mesa, de frente para os meninos.

— Pedro, você acordou cedo hoje, não te vi na sala quando levantei — ela diz, enquanto entrega uma xícara para João.

Ele coloca seu café e olha para Pedro, um pouco confuso, enquanto o mais novo arregala um pouco os olhos e tenta pensar em algo rápido.

— Você não havia me dito que ia dormir na sala pro João dormir na sua cama? — Ana fala, tentando fazê-lo lembrar.
— Ah... — é só o que sai da boca de Pedro.

Ele havia esquecido completamente que tinha falado isso para sua mãe.

— Nós dois acordamos cedo, na verdade — João diz — Ele foi pro quarto e ficamos conversando até agora, quase. Não queríamos te acordar — ele dá um sorriso simpático.
— É, foi isso — Pedro concorda e dá um gole em seu café, passando muito perto de se queimar.

Ana começa um assunto que toda mãe puxaria: como está indo a escola? Pedro agradece internamente pelo rumo da conversa ter se tornado esse.

                                            ☆ ☆ ☆

O começo da tarde e a noite de sábado foi preenchido por um plano de última hora.

Malu, Pedro, Renan, João e Lucas decidiram sair. Uma pequena distração.

E oficialmente adotaram Lucas para o grupo.

A melhor opção para eles foi: praça central, comida, bebida, e pessoas para julgar.

Já estavam indo fazer o quinto pedido de sorvete, enquanto observavam o movimento por ali.

Malu e João que foram pedir, dessa vez. A garota observa o olhar de João para a mesa, que está sendo completamente direcionando para Pedro.

— Se olhar mais um pouquinho, vai desgastar o menino — ela diz, fazendo João olhar para ela sem graça.
— Me deixa, vai — ele diz, com um sorriso envergonhado — Eu só... fico feliz de vê-lo se divertindo, se distraindo — ele lembra de mais cedo.

— Bom... — Malu diz — não muda o fato de que você está com esse olhar desde que chegaram. E a propósito: chegaram juntos.
— As coisas entre nós dois estão dando certo, se é o que quer saber — João diz de uma vez.
— Glória a deus, admitiu — ela olha para o alto, realmente agradecendo.

— Deixa de ser palhaça, vai — ele ri. Pedro se vira por uns instantes, o olhando de longe. João sorri de canto a canto, sem os dentes, e Pedro retribui.

— Olharzinho de apaixonado... — Malu cantarola perto do ouvido do amigo.
— Apaixonado?
— Claro, o quê mais seria? — ela dá de ombros, falando o óbvio — Tá bem nítido que você está apaixonado, João.

— Maria Luísa Alves — a atendente chama.
— Vamos pegar os pedidos logo — Malu arrasta seu amigo até o balcão.

Foi um tom brincalhão, mas deixa João pensativo.
Apaixonado?

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Acho que a pior lerdeza é de uma pessoa que se nega a admitir o sentimento de paixão.

Até o próximo capítulo :)

Suas Linhas - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora