O tempo parece passar rápido, ou apenas uma relatividade, como nos relógios de Dalí.Já é metade do segundo bimestre, meio do ano. Terceiro ano, formatura, saída da escola. Claro que todos já estão carregados de trabalhos e estudos para provas.
João acelerou seus amigos nas últimas duas semanas, para que todos se juntassem para deixar coisas adiantadas, para ficarem livres nas duas semanas de férias de junho.
É o penúltimo dia de aula antes dessas férias, e finalmente todos do grupo organizaram suas atividades e trabalhos, podendo respirar tranquilamente, enfim.
Depois da aula, eles decidiram "dar um perdido", pode-se dizer.
— E o quê a gente vai fazer, nesse tempo todo? — João pergunta.
— Basicamente, meu amigo, vamos andar o dia inteiro pela cidade, sem rumo algum. O objetivo é aproveitar a companhia uns dos outros, não um destino final — Renan explica.— Mas... temos pontos de parada — Malu diz — Na real, o Lucas teve uma ideia interessantemente ruim.
— Meu medo é genuíno — Pedro diz.— Basicamente... podemos comprar uma porrada de porcarias para comermos e sentarmos nos bancos da praça, que ficam embaixo das árvores — Lucas diz com um sorriso, sabendo que as chances de dar errado são altas.
— Bom, o que pode dar errado aqui: todo mundo morrer de uma dor de barriga — João diz, com uma cara de paisagem, realmente pensativo.
— Pelo menos não é você bêbado — Malu dá de ombros.
— Me mire mas me erre, vá — João rebate, entre risos.Pedro observa a cena, tendo uma atenção especial voltada para João. Ele tem o notado estranho, nos últimos quase dois meses.
João parece ter algum tipo de alterações de humor, perto de Pedro. Em um momento, está tudo bem, eles estão bem; mas em outro, ele parece pensativo, distante, e isso apenas com Pedro.
Tófani tem observado isso com muita vontade de chamá-lo para conversar, saber se está tudo bem. Mas por algum motivo, nunca conseguiu.
Apenas tenta não pensar muito nisso, quando está tudo bem.
Os amigos passam em uma bomboniere que havia perto da escola, compram chocolates, salgadinhos, suco, refrigerante. Tudo o que um grupo de adolescentes (quase adultos) precisaria para fazer um estrago no próprio estômago.
Vão rumo à praça com mais árvores da cidade, uma vista bonita, sem muitas pessoas para julgar cinco jovens que passariam horas ali, e sem espaço para ficarem expostos muito tempo ao sol.
Após um bom tempo de estarem ali, a cena é: em um dos bancos, que, pra alegria dos amigos, são grandes o suficiente, está Renan, com a cabeça deitada no colo de Malu, e as pernas em cima das pernas de Lucas; e João deitado com a cabeça no colo de Pedro, enquanto o mesmo brinca com os cachos de sua cabeça.
Pedro escuta Malu e Lucas insistirem para Renan dizer sobre o tal encontro que teve há quase dois meses, que ainda estava rendendo saídas. Ele prefere não entrar no assunto, embora também esteja muito curioso sobre.
— Seus olhos ficam lindos, vistos daqui — João diz, voltando a atenção de Pedro para si — Seus olhos são lindos, na verdade.
— Você é muito galante, quando quer, João Vitor — Pedro brinca — E você já me disse isso uma vez, eu acho.
— Bom... é que talvez eu seja um pouco vidrado neles — João dá de ombros e sorri de canto.— Assim como eu gosto de te ouvir falar — o mais novo diz, sorrindo sem os dentes — É interessante te ouvir quando tá explicando algo que você tem conhecimento.
— Você é suspeito em falar disso, vida — Romania o olha com sobrancelha arqueada.
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Suas Linhas - Pejão
RomanceOnde João faz um amigo muito próximo, e logo percebe que talvez queira percorrer cada traço de suas linhas.