Madeleine deu alguns passos em direção à janela do chalé, olhando para a paisagem como se buscasse inspiração para começar a falar. Ela sabia que as palavras que viessem a seguir precisavam ser escolhidas com cuidado. Mesmo assim, a pressão no peito parecia sufocá-la.
— Isadora, tudo o que eu fiz nos últimos dias... todo o cuidado, tudo isso – começou ela, ainda de costas para a garota – não foi completamente sincero.
Um silêncio denso pairou no ar. Isadora não respondeu imediatamente, mas Madeleine sentiu os olhos dela queimando em suas costas.
— O que você quer dizer com isso? –Isadora perguntou, sua voz soando confusa, mas ainda cheia de confiança na mulher à sua frente. –
Madeleine virou-se devagar, evitando o olhar direto da garota. Ela sabia que precisava jogar com a verdade, mas não podia se dar ao luxo de contar tudo. Não agora.
— Eu trouxe você aqui porque... eu precisava de um tempo, longe de tudo, para pensar. E, ao mesmo tempo, para tentar proteger você.
Suas palavras eram verdadeiras, mas incompletas.
— Proteger? Proteger do quê? – Isadora franziu a testa, dando um passo à frente. –
Madeleine fechou os olhos, como se isso pudesse bloquear a dor da revelação que estava por vir.
— De pessoas que podem nos machucar. Que podem machucar você.
A mentira estava lá, misturada à verdade, como uma armadilha que ela sabia que Isadora aceitaria.
A expressão da garota suavizou por um momento. A confiança ainda brilhava em seus olhos, embora agora tivesse sido tingida por uma sombra de preocupação.
— Quem está atrás de mim, Karine? – Isadora perguntou, usando o nome que ainda achava ser verdadeiro. –
O som de "Karine" quase fez Madeleine desabar, mas ela se forçou a manter a postura.
— Não importa quem. O que importa é que, por enquanto, aqui é seguro. É por isso que eu preciso que você fique aqui. Só por um tempo, até que eu resolva as coisas.
— Ficar aqui?
Isadora parecia confusa, olhando ao redor como se estivesse finalmente percebendo a prisão disfarçada de refúgio.
Madeleine caminhou até a garota, segurando suas mãos com uma firmeza quase desesperada.
— Confia em mim, Isa. Eu só quero o seu bem.
Por um momento, Isadora parecia prestes a protestar, mas algo no olhar de Madeleine a fez recuar.
— Eu confio. Só... não demore. Por favor. – Sua voz era quase um sussurro, carregada de medo e incerteza. –
Madeleine apenas assentiu, tentando conter as lágrimas enquanto soltava as mãos da garota. Cada passo que dava para longe da porta do chalé parecia uma tortura, mas ela sabia que precisava sair dali antes que sua determinação vacilasse.
Madeleine caminhava pela trilha de volta à casa, cada passo mais pesado do que o anterior. O peso do que acabara de fazer pressionava sua mente como uma marreta. Ela havia acabado de trair a única pessoa que ainda acreditava nela.
Ao chegar à casa, foi direto para o telefone. Ela hesitou por um momento, encarando o aparelho como se fosse um artefato maldito. Por fim, discou o número que vinha assombrando sua mente.
— Está feito. Ela está no chalé – disse Madeleine, a voz fria e profissional, embora por dentro estivesse despedaçada. –
A resposta do outro lado da linha foi rápida e direta:
— Bom trabalho. O pagamento será transferido assim que tivermos a confirmação.
O som da linha sendo cortada trouxe um vazio ainda maior. Madeleine largou o telefone na mesa, passando as mãos pelo rosto como se pudesse apagar o peso de suas decisões. Ela havia escolhido isso, sim. Mas agora começava a duvidar se seria capaz de viver com as consequências.
No chalé, Isadora começou a explorar com mais atenção. Havia algo que não se encaixava. A simplicidade do lugar parecia proposital demais. As prateleiras arrumadas, os lençóis limpos, a comida estocada. Tudo indicava que Madeleine havia planejado aquilo com antecedência.
Ela abriu uma das gavetas da cozinha e encontrou um envelope grosso. Seu coração acelerou ao perceber o nome de Madeleine nele, junto com alguns documentos que pareciam ser falsos. Entre eles, havia uma foto de Madeleine com outra mulher, muito parecida com ela, mas com um olhar mais frio.
A dúvida plantada por Madeleine mais cedo começou a crescer.
— Quem é você, Karine? – sussurrou para si mesma.
No fundo, uma parte de Isadora ainda queria acreditar, mas sua intuição começava a gritar que algo estava terrivelmente errado.
Madeleine, agora de volta à casa, encarava sua própria imagem no espelho do quarto. O reflexo que a encarava de volta não era mais dela. A mulher que ela se tornara Madeleine Novaes, era uma sombra, um fantasma de tudo o que um dia sonhara ser.
Ela sabia que não poderia voltar atrás. Mas também sabia que algo em Isadora havia mexido com ela de uma forma que nunca esperava. O calor da garota, sua fé inabalável, sua pureza...tudo isso era um lembrete cruel de que ainda havia uma parte de Madeleine que queria ser redimida.
E talvez, só talvez, ainda houvesse uma chance para isso.
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O Perigo e a Perdição - Karine Teles
FanfictionKarine Teles sempre viveu nas sombras, mas uma dívida impagável a força a tomar medidas extremas. Ao mudar sua identidade para Madeleine, ela mergulha em um plano arriscado: sequestrar uma jovem como peça de barganha. Mas o que começou como uma miss...