Em Outra Atmosfera

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O mês passava devagar, O retorno à rotina escolar e o ambiente familiar conturbado faziam com que sua mente vagasse para os momentos de cumplicidade e calma ao lado de Karine. Sentia-se dividida entre a admiração e um desejo inquietante, algo que se esforçava para entender e conter.

Numa noite fria de sexta-feira, as duas decidiram se reencontrar. A casa de Karine estava em silêncio quando Isadora chegou, e a atriz, que tinha passado a tarde trabalhando em um roteiro, a esperava na sala com uma garrafa de vinho aberta e uma trilha sonora suave. Trocaram olhares e sorrisos sinceros, como se o reencontro fosse algo mais profundo do que apenas uma visita.

— Isa, vem cá! – Karine puxou a jovem para um abraço acolhedor. –

A proximidade despertava algo em ambas, uma sensação de paz mesclada com uma eletricidade no ar. Sentada ao lado da mais velha, segurou um copo de vinho com as mãos trêmulas, sentindo que estava entrando em território desconhecido.

Conforme a conversa fluía notava o fascínio nos olhos de Isadora, e algo dentro dela a atraía para a inocência e a determinação da garota. Sabia que havia algo ali, tentava fugir, a tensão entre elas era tangível.

Para despistar estes pensamentos, a atriz começa a lhe explicar sobre o enredo que estava escrevendo, já que para disfarçar a conexão, a mais nova olhava para o escrito na tela do computador.

— Quero fazer um filme honesto, com transparência, que cative pelo menos uma pessoa e faça a diferença.
— Isso é lindo...
— Quero transmitir sentimentos, sabe. Ser real, fiel à arte.
— Você é artista de verdade e isso tem que ser muito bem prestigiado no nosso país.

Na vitrola, a música trocou, se já estava um tom suave, aquilo era mais ainda, parece que cada toque conduzia o sangue em suas veias para fazer seu desejo, naquele momento apenas a luz do computador ligado as iluminavam, era visível aos olhos, as sardas espalhadas por todo o rosto da mulher, seus olhos verdes estavam mais escuros e se aproximavam lentamente sem dizer uma palavra.

Os lábios se roçaram, os carnudos de Teles se abriam e queria mais contato com os da menina, faltava pouco para cederem, quando o vento forte passou pela janela da sala escura emitindo o barulho.

Ambas se sobressaltaram e Karine meio desnorteada levantou-se da cadeira e foi para trás com uma cara que havia desespero até suas costas darem de encontro com a parede.

— O que foi isso? Me desculpe, onde eu estava com a cabeça?
— Ei, calma, não tem problema algum – foi a vez dela se levantar e se aproximar novamente da mulher que permanecia na parede. –

Passava as mãos calmamente pelo rosto liso e repleto de sardas quais admirava muito, delicadamente ela acariciava e apenas os olhares se conversavam, estavam se compreendendo, não era estranho para nenhuma das duas o recente ato, queriam, tinham consciência disso tanto quanto era impossível.

Afastaram-se e por incrível que pareça conseguiram agir como se aquela cena não tivesse ocorrido. Isadora foi à cozinha devolver o copo de vinho e organizou umas coisas por ali, enquanto, Karine ainda em choque virava a garrafa que ficara na mesinha de centro para tentar raciocinar os acontecimentos.

Ao voltar para a sala a mais nova se depara com essa visão e impulsivamente tira a garrafa de sua mão.

— Pode parar! Eu vi na cozinha e essa não é a sua primeira garrafa... não precisa fazer isso.

Frustrada com um bico em seus lábios a mulher senta-se no sofá depois de desligar o eletrônico que possuía suas ideias, cruza-se as pernas e os braços enquanto Isadora lhe trazia um copo d'água.

— Não quero!
— Pois vai beber, sim.

Direciona o copo de vidro para que a outra possa tomar o líquido e aos poucos ela ingere.

— Não pode exagerar, Karine! Sei que gosta de degustar as bebidas mas é pra ter cuidado.
— Não faz mal.
— Ah não? Para de ser boba.

Assim que termina todo o líquido que havia ali, deixou no porta copos e levantou-se.

— Vai dormir comigo hoje?
— Não sei se devo...
— Por que?

E ela se via sem respostas, não poderia dizer que estava se esquivando de algo que pode acontecer, quais eram suas provas? Suas certezas? Talvez todo esse clima que se criou seja só na mente dela.

— Tudo bem, eu fico.

A sala estava aconchegante, ficaram ali por mais uns minutos e logo subiram para dormir, Isadora tentou convencê-la de que dormiria no quarto de hóspedes mas a loira fez questão de ficar por perto. Prometera que não haveria mãos bobas e que certos momentos da noite cairiam no esquecimento, apesar de nenhuma conseguir.

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O Perigo e a Perdição - Karine TelesOnde histórias criam vida. Descubra agora