Fulga

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Isadora estava deitada, com a cabeça apoiada no ombro de Madeleine, sentindo o calor de seus corpos após a intensidade da noite anterior. O silêncio era confortável, mas as emoções pendiam entre a tranquilidade e a urgência.

Madeleine, com os dedos correndo levemente pelo cabelo de Isadora, suspirou.

— Não me lembro da última vez que me senti assim... –  ela murmurou. –

Isadora levantou o rosto para olhar nos olhos da mulher.

— Assim como?

Madeleine hesitou, tentando encontrar as palavras certas.

— Amada. Como se eu ainda tivesse algo de bom em mim.

Isadora segurou o rosto dela com delicadeza, fazendo-a encarar seus olhos castanhos.

— Você tem, Karine. Muito mais do que imagina. Só precisa deixar o passado para trás e... –ela fez uma pausa, sorrindo suavemente. – Talvez confiar mais em mim.

Madeleine sorriu de volta, mas seu olhar ficou distante por um momento.

— Quero confiar. Quero tanto. Mas às vezes parece que o passado não me deixa ir.

— Então vamos fugir dele juntas, tá? – Isadora acariciou seu rosto. – Mas isso começa com você sendo honesta comigo.

O tom dela era firme, mas havia carinho ali. Madeleine assentiu, sentindo o peso da promessa que acabara de fazer.

— Eu vou. Eu prometo.

Quando a luz do sol começou a invadir o quarto, as duas sabiam que precisavam se preparar para sair. Madeleine se levantou primeiro, vestindo a lingerie de renda preta que Isadora ainda admirava em silêncio. A mulher olhou para a jovem e sorriu.

— Você vai ficar aí me olhando ou vai se vestir?

Isadora riu, levantando-se com um pouco de preguiça.

— Desculpa, é difícil não olhar.

Enquanto se vestiam, Madeleine analisava mentalmente seus próximos passos. Sabia que a cidade não era mais segura, mas também sabia que precisariam de tempo para planejar os movimentos com calma.

— Precisamos de um transporte, Isa. A pé não vamos muito longe, e aqueles homens provavelmente já têm pistas de onde estamos.

Isadora terminou de amarrar os cadarços e olhou para ela.

— E onde você planeja conseguir um transporte? Não podemos simplesmente chamar um táxi.

Madeleine caminhou até a janela, afastando ligeiramente a cortina para espiar o movimento lá fora. A rua estava deserta, mas a tensão em seus ombros dizia que isso não duraria muito.

— Tem uma oficina mecânica não muito longe daqui. Acho que podemos... pegar emprestado um carro.

Isadora cruzou os braços, claramente desconfortável.

— Você quer roubar um carro?

— "Roubar" é uma palavra muito forte.

Madeleine virou-se para ela com um sorriso maroto.

— Digamos que é uma medida temporária para sobreviver.

— Certo... – Isadora suspirou. – Não tenho certeza de como você ainda consegue me convencer dessas coisas.

Madeleine riu e se aproximou, puxando-a pela cintura.

— Porque você confia em mim, mesmo que não queira admitir.

Isadora bufou, mas um sorriso escapou.

— Confio, mas com ressalvas.

Pouco depois, as duas saíram discretamente pelos fundos do motel, com Madeleine liderando o caminho. A oficina ficava a alguns quarteirões de distância, e a mulher parecia saber exatamente o que procurar.

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O Perigo e a Perdição - Karine TelesOnde histórias criam vida. Descubra agora