O Perigo e a Perdição - Karine Teles

Conexão

Madeleine apertou o punho de Isadora com força, como se aquele gesto fosse suficiente para protegê-la de tudo o que estava prestes a acontecer. Cada passo que davam para longe do chalé parecia ecoar na escuridão da floresta, mas a mulher sabia que não poderiam usar a trilha principal — era o caminho que os homens esperariam.

— Para onde estamos indo? – Isadora perguntou, sua voz um sussurro rouco, mas carregado de desconfiança. –

Madeleine olhou para a garota com determinação.

— Para o único lugar que eles não vão prever.

Ela puxou Isadora para uma trilha menos evidente, escondida entre as árvores. O chão era irregular e coberto de folhas molhadas, dificultando o avanço. Cada estalo de galho parecia um alarme, e Isadora começou a se perguntar se era realmente mais seguro fugir para a floresta do que enfrentar os homens de frente.

— Madeleine... ou seja lá quem você é... você precisa me contar o que está acontecendo. – A garota parou de repente, obrigando a outra a virar-se para ela. – Se eu vou continuar com você, preciso saber de tudo.

Madeleine olhou para os olhos inquisidores de Isadora, vendo a força misturada ao medo. Parte dela queria protegê-la da verdade, mas sabia que isso já não era mais possível.

— Meu nome é Karine mas essas pessoas que nos querem me conhecem por Madeleine, então resolvi adotar novamente esse nome para proteção de identidade. Tudo que eu te disse até aqui é verdade... pelo menos até nossa vinda a esta casa no mato.

— E por que você quer me ajudar ao invés de ganhar dinheiro pelo meu corpo ou coisa do tipo?!

Lágrimas saiam do rosto das duas moças, Madeleine tocou o rosto de Isadora delicadamente.

— Porque eu te amo, princesa! Eu quero salvar sua vida...

— E fez o que fez?

— Foi tudo por autodefesa.

Seguindo pelas matas escuras, as duas de mãos dadas se afastavam, longos minutos depois elas finalmente conseguiram avistar luz... era um barco que estava encostado na margem do rio

Um senhor educado estava no volante e cuidadosamente a mais velha lhe pediu carona até a entrada da cidade.

O barco era antigo mas tinha aparência de uma recente reforma, nada muito chique, era simples. Madeleine não sabia como obteve a sorte de encontrá-lo ali, mas estava grata.

— Obrigada, senhor! Você está nos salvando.
— De nada, minha filha. Deixarei vocês meio afastadas do centro tudo bem? Não tenho outro lugar que conecte a cidade.
— Está ótimo, sem problemas.

Sentadas em um banco, elas estavam em silêncio, uma tensão no ar, não tinha o que conversar, nem justificativa para todos os acontecimentos.

Madeleine cortou o silêncio segundos depois:

— Isa, eu não queria... eu fiz pois era a minha única opção, há muito eu já estava sem chão.
— Não, não sou a sua única opção de dinheiro, credo! Eu não sou peça de barganha!
— Eu sei, meu bem... me perdoe...

Seus olhos claros e iluminados, agora estavam marejados, suas mãos encostavam na pele da jovem novamente.

— Portanto, não tem perdão... Justo?
— Justo...

Madeleine não as segurou, seu olhar já era profundo ao se encontrar fortemente com o castanho. A distância diminuía aos poucos e o silêncio permanecia.

Os lábios de Madeleine encostaram levemente aos de Isadora, um beijo suave iniciara, passando a mensagem de zelo e arrependimento, uma mistura.

Suas bocas se encaixaram bem, era vontade que tinha naquele gesto como um "finalmente".