O Perigo e a Perdição - Karine Teles

O Plano

Os dias começaram a pesar em Karine como uma corrente invisível, mas impossível de ignorar. A dívida parecia um abismo que se abria a seus pés, e cada ameaça dos credores era como um golpe a empurrá-la para mais perto da beira. Ela passava o dia com Isadora, entre risadas e momentos de cumplicidade, tentando sufocar a escuridão que parecia crescer dentro dela. Mas, à noite, enquanto a garota dormia pacificamente ao seu lado, sua mente se enredava em pensamentos obscuros.

A palavra "sequestro" continuava a ecoar como uma resposta inevitável, uma solução desesperada que sussurrava em seu ouvido, insistente. Era como se algo frio e implacável tivesse começado a tomar forma dentro dela, corrompendo o amor que sentia por Isadora. Karine sabia que ao cruzar essa linha não haveria retorno, mas também sabia que estava ficando sem tempo.

Cada noite, enquanto Isadora dormia, Karine começava a planejar, sua mente correndo através de cada detalhe. Precisaria de um lugar isolado, longe de qualquer possibilidade de fuga. Haveria provisões suficientes para os dias em que Isadora estaria "desaparecida". As amarras, os métodos de controle, a desculpa para mantê-la ali. Era um plano que exigia meticulosidade e sangue-frio. Karine, no entanto, continuava se justificando: pagaria a dívida, resolveria os problemas, e talvez até conseguisse perdoar a si mesma.

Na época em que se envolvia com essas coisas pesadas, era conhecida como Madeleine, Madeleine Novaes. E ela voltaria a ser: a mulher seduzente, cativante e segura de si.

Os homens desejavam-a o tempo todo, e ela não era mulher de se negar, teve bastante divertimento em seus tempos de trabalho duvidoso. Era cobiçada.

Falava ao telefone com os ajudantes:
— Tem que ser um lugar bonito, pra que ela não estranhe nada, vou ver se consigo a casa de férias da minha família, ninguém usa mais aquela porcaria.

Arranjou um lugar combinado com o grupo e inventou para Isadora ser uma viagem de sossego e que soasse como um refúgio para as duas, afastado de tudo e todos, uma casa rústica no meio do mato. Oferecia silêncio absoluto e privacidade, por ali o que se ouvia era apenas o canto dos pássaros; Natureza.

Antes de seguir viagem Karine foi ao salão de beleza, ficou loira, fez uma franja, cabelo ondulado nas pontas. Esse seria o visual de Madeleine agora, relembrando os velhos tempos.

Ao se verem, Isadora notou as mudanças em Karine, a elogiou e ficou olhando por longos minutos, parecia realçar toda a beleza natural da mulher.

Chegando por lá, a mais nova ficara encantada com o cenário rústico, sem saber que aquilo se transformaria em sua prisão.

— É a casa de férias da minha família, eles emprestaram para curtimos esses dias, estou animada!
— É lindo aqui, me desculpe mas não entendo como seus pais deixaram acabar as economias com tantas chances, essa casa já lhes dão uma boa vida.
— Nem eu entendo, só sigo o que devo fazer.

Andaram por toda casa, mostrando os quartos, banheiros, salas, áreas de lazer, era uma casa completa; mais que o necessário.

Instalaram-se por lá e foram ao lago, no horário do pôr do sol enquanto andavam de barco e conversavam.

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