POV Liam
Acordo com os raios de Sol a incidirem sobre a minha cara, o que quer dizer que devem de ser 06 AM, aproximadamente.
Todos os dias a rotina é a mesma. Acordo, sento-me à beira do passeio com um pedaço de cartão a separar o meu corpo do chão sujo e frio, a pedir esmolas. Ao fim do dia, conto quanto as pessoas, que realmente se preocuparam comigo, me deram. Atravesso o passeio e entro num mini-mercado vendo o que consigo comprar. Por vezes, fico dias seguidos sem comer. Apenas bebo a àgua dum bebedouro existente num parque perto da minha "casa de cartão".
Ao fim do dia, quando a biblioteca está prestes a fechar, pego no livro "Dicionário - Inglês", e encontro palavras novas, nunca ouvidas ou ditas por mim.Cresci em Wolverhampton com os meus avós, mas desde o falecimento de ambos, caminhei até Londres, onde agora me encontro "hospedado", à frente da porta de uma biblioteca.
Devido a questões financeiras, os meu avós nunca tiveram a possiblidade de me meterem numa escola. Foram apenas eles. Foram eles que me ensinaram a andar, a falar, a escrever, a ler e a contar.
Mas tudo o que sei até agora sobre algumas disciplinas, como física, geografia e língua inglesa, é o que os livros me transmitem. O que o autor escreve para o leitor. E esse, é o meu trabalho. Ler livros. Ler livros para aprender mais, para conseguir arranjar emprego e conseguir sustentar-me.Tentei várias entrevistas de emprego, mas devido à minha aparência e aos poucos recursos que tenho, ninguém me aceitou.
A minha aparência é assim apenas por não ter condições para fazer a minha higiéne, não ter roupa lavada e passada todos os dias, entre outras coisas que fazem de mim um mendigo.
E os recursos? É o facto de na minha candidatura, na pergunta "Tem ensino até que ano?" eu não colocar nada.Mas os livros ensinam-me. Todos os dias aprendo coisas totalmente novas. Como se estivesse na escola. Mas não. Apenas estou numa biblioteca.
Por vezes, em pequenos pedaços de post-it que encontrei na rua, escrevo frases ou palavras que tenha aprendido nesse dia. Fico a lê-las durante horas, até memorizá-las. Assim que as decoro, vou até ao bebedouro e molho a folha de post-it de maneira a não desfazê-la. As letras escritas por mim com o lápis apagam-se assim que a àgua entra em contacto com o carvão escrito na folha. Caminho de novo até à minha "casa" e deixo o papel a secar ao Sol, ou, como em Londres é raro haver dias solarengos, inspiro e expiro cm meu bafo quente em direção à folha, para esta secar e ao outro dia poder escrever nesta de novo.
Numa pequena pedra de xisto, faço vários traços a contar os dias que continuo sem habitação, alimento e vestiário.
Retiro estes pensamentos da minha cabeça e acabo por me levantar das escadarias da porta da biblioteca.
Vou em direção ao bebedouro e lavo a cara, voltando de novo para o lugar que me guarda desde à um ano.Ao contrário do que a maior parte da gente pensa. Eu sou um rapaz feliz. Basta o sorriso das pessoas para eu me senti feliz. Elas olham-me e sorriem, e eu não hesito em demonstrar o meu melhor sorriso.
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Door of a library. || L.P
Teen Fiction☁ Um mendigo que acaba por conquistar algo. O coração de uma bibliotecária. ☁