Estou deitada mas não consigo dormir. Não depois do que fiz.
Cada vez que fecho os olhos vejo flashs do que aconteceu, sangue por todo o lado. Oiço os gritos desesperados do pobre homem.
Eu não estava em mim. Eu nem sei porque não me consegui controlar.
O mais estranho é que eu gostei do sabor a sangue. Matou me a fome. Eu gostei tanto que o meu instinto diz me que voltaria a matar só para voltar a sentir aquele líquido quente a descer me pela garganta, e isto não deveria acontecer.
E se eu magoar alguém próximo? Como é que me vou controlar?
O rapaz! Ele viu tudo e limitou se a olhar.Estou farta de estar às voltas e não conseguir adormecer.
Levanto me e vou para o terraço.
Venho para aqui muitas vezes à noite.
O céu está estrelado e iluminado pela lua cheia o que dá uma cor azulada à rua.
Olho para uma sombra que me chamou à atenção junto a uma árvore em frente de minha casa. Vivo numa vivenda geminada.
Olho mais atentamente e consigo ver que a sombra é de forma humana e pelos ombros largos e o formato do corpo tenho a certeza que é um rapaz. Não lhe vejo a cara mas está virado para aqui e sinto me observada.
Quando se apercebe que eu o vi afasta se calmamente, com as mãos nos bolsos, até desaparecer ao fundo da rua.
Entro no quarto de novo, deito me na cama e puxo os cobertores até só deixar os olhos e o nariz à mostra.
São 4h08, por que raio estava alguém a observar a minha casa a esta hora?!
Admito, estou assustada...e com fome.Parece que o cansaço acabou por vencer o medo porque quando acordei eram 14h03. Dormi até muito tarde.
Levanto me, visto umas calças de ganga e uma t shirt preta. Calço Vans pretos e vou comer.
Como e como mas nada me alimenta realmente. A imagem do sangue nas minhas mãos vem me à mente e deixa me com água na boca.
Abano a cabeça para afugentar a imagem da minha cabeça e dirijo me à porta.
Vou voltar ao prado.Estaciono o carro ao pé do celeiro abandonado e sigo o caminho até ao local onde deixei o cadáver ontem.
Chego ao local, e tenho a certeza que é o sítio certo, mas não vejo nenhum corpo.
Eu deixei o aqui! Eu tenho a certeza!
Será que foi aquele rapaz que o levou? Se o fez, porquê?
Passo as mãos no cabelo e o pânico começa a apoderar se de mim. E agora?
Oiço a relva a ser pisada atrás de mim. Outra vez não...
-Seja lá quem for, vai te embora! - gritei eu sem me virar.
Não houve resposta. Respirei fundo e fui me virando aos poucos para encarar a pessoa ou lá o que fosse.
Os meus olhos encontram os olhos verdes familiares. Olho para ele tentando lembrar me porque é que acho que o conheço. Ele viu me a matar o homem.
Olhava para mim sério e trazia um saco na mão.
-Toma! - disse ele estendendo o saco.
Desconfiada e um pouco assustada aceitei o saco e abri o. Continha uma garrafa branca opaca que não dá para ver o que tem por dentro.
-O que é isto?
-Bebe. - ordenou.
Abri a garrafa e cheirei. Sangue.
Em menos de um segundo estava a beber o sangue tão rápido e quase desesperada. Eu ansiava por voltar a sentir este sabor.
Bebi tudo e voltei a por a garrafa no saco. O rapaz olhava para mim sem mudar a sua expressão.
-Quem és tu?
-O meu nome é Kyle.
-Okay, Kyle... Porque é que me deste isto?
-Porque precisas.
-Mas porque é que me quiseste ajudar?
-Não sei. Senti me na obrigação de o fazer. E eu sou igual a ti. Sei o que estás a passar e não o desejo a ninguém.
-E o que é que nós somos exatamente?
-Vampiros.
Inconscientemente, soltei uma gargalhada. Isto é uma piada?!
Depois comecei a juntar os factos. Caninos afiados, marca no meu pescoço, desejo de sangue... Ele está a falar a sério.
-Tu não estás a gozar.
Ele baixa a cabeça e responde.
-Quem me dera.
-Então e agora? O que é que eu faço? A comida já não me alimenta. Não quero matar mais ninguém.
-Eu forneço te sangue enquanto não souberes caçar.
-Caçar?! - dei uma gargalhada fraca - Estás a falar a sério...
-Eu posso ensinar te se quiseres. - disse ele com um encolher de ombros e mãos nos bolsos. Esta postura é me familiar. Como...aquele rapaz na rua ontem à noite!
-Eu vou pensar... Não sei se quero caçar.
-Não é que tenhas muitas opções.
Olhei para as mãos e respirei fundo. Ele pousa outra garrafa ao lado da minha mala.
-Para o caso de precisares de te alimentar.
Agarrei na mala e coloquei a garrafa opaca lá dentro.
-Obrigada.
Comecei a fazer o caminho de volta ao carro mas antes virei me para ele e perguntei.
-Como é que sabias que eu estaria aqui?
Ele já não estava lá.
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Mordida pelas Sombras
VampireMia não se lembra do que aconteceu. Acorda sozinha num prado e vê sangue por todo o lado. Sente se diferente e esfomeada... Assustada procura respostas, mas ao conhecer o atraente e misterioso Kyle distrai se um pouco do seu objetivo. Mas quem diria...