Mordida pelas Sombras

✳ 33 ✳

-Mia... - sabe tão bem voltar a ouvi lo sussurrar o meu nome.
-Kyle... Não quero acordar. Não me deixes acordar...
-O que é que estás para aí a dizer? - pergunta sorrindo ligeiramente.
-Eu não estou a sonhar?
-Não.
O que é que ele faz aqui? E se o Chris o vê?
-Vim tirar te daqui.
-Mas...
-Eu sei que não falavas a sério quando disseste que o amavas. O primeiro "amo te" sei que era para mim pela intensidade com que me olhavas e o segundo, demorei um tempo a perceber porque estava magoado mas, sei que foi falso. Coçaste o teu pulso quando o disseste e só fazes isso quando estás a mentir. Percebi que era para me proteger. Quando li o teu bilhete naquela manhã fiquei furioso e magoado, mas não surpreendido. Eu sabia que o farias de qualquer maneira. Pões sempre a vida dos outros acima da tua.
Sinto as lágrimas a escorrer dos meus olhos. Tive tanto medo que ele me odiasse, que ficasse magoado...
-Shh... Anda cá. - diz puxando me para os seus braços afagando me depois os cabelos - Está tudo bem agora. - encosta a sua boca ao meu ouvido e sussurra - Eu disse que não te ía perder novamente.

Fico a soluçar durante um bocado e quando me acalmo ele olha me nos olhos e pergunta.
-Tu queres sair daqui?
Fico em silêncio. Eu não posso, para os manter seguros.
-Pára de ser altruísta por um segundo que seja e pensa em ti. Esquece a minha segurança, a da Kate. Diz me só, queres sair daqui?
Podia mentir, mas ele sabe como identificar a minha mentira. Ele conhece me melhor que ninguém.
-Quero. - digo num murmúrio.
Ele sorri e beija me a testa.
-Então vamos tirar te daqui.
-"Vamos"?
-A Kate está lá fora com um amigo meu, à nossa espera ou se algo der para o torto eles entram.
Assinto e vou vestir me rapidamente.

Quando já estou pronta dirigimo nos para o corredor.
-Tu entraste pela varanda porque não saímos por lá?
-Acho que um dos homens da entrada me viu, não vou arriscar.
Ele dá me a mão e descemos a escadaria devagar para não fazermos barulho.
-O diário! - lembro me. Não me vou embora sem ele.
-O quê?
-O diário da Marianne! Tenho de ir busca lo!
-Não há tempo, Mia!
-Eu tenho de o levar!
Com esta discussão toda, perdemos muito tempo e devemos ter feito barulho porque a luz do hall acendeu se.
Ficámos imóveis e a olhar em redor. Uma sombra aparece do escritório e ouve se uma gargalhada. Christopher.
-Eu não te avisei, Kyle? Ela é minha! Vocês achavam que conseguiam sair daqui tão facilmente?
Ele vai se aproximando até ficar no final da escadaria e fita nos.
-Tu vais com ele, Marianne?
Desvio o olhar e mantenho me em silêncio. Eu só quero sair daqui.
-O que vale é que há alguém que me dá valor. - diz com um sorriso malicioso.
Não percebo o que ele quer dizer com isso até ver Kate aparecer do escritório dele, toda sorridente. Aproxima se dele e pousa lhe uma mão no ombro e o Chris segura lhe na cintura.
Mas o que é que...? Depois percebo. É o laço de sangue. Ela não está em si e vai fazer tudo o que ele disser. Isto está a ficar preocupante. Eu não quero ter de a magoar.
-Kate, minha querida, viste o que ela me fez? Tu não vais fazer me isto pois não?
Ele não quer a Kate. Está só a usá la para eu ceder.
-Nunca, querido. - responde ela e acaricia lhe o rosto.
-Ela estava lá fora. Porque não convidá la para a festa? - diz, convencido.
Ela não estava com um amigo do Kyle?
-Kate...
Ela olha para mim e vejo os seus olhos, vazios, sem vida. O laço de sangue apoderou se dela. Ela olha para mim mas não parece reconhecer me.
-Quem é ela, Christopher? - pergunta a Kate.
Não me reconhece...
-Ela quer roubar me de ti.
Então é este o plano dele.
A cara dela adquire uma expressão de raiva e começa a avançar até mim.
-Kate, não me reconheces?
Ela não responde e quando me alcança as suas mãos envolvem o meu pescoço e apertam no. Kyle puxa a e ela desequilibra se caindo no chão. Afasto me e Kyle põe se ao meu lado mas rapidamente é puxado por três homens grandes e musculados. E ainda demora um pouco a acabar com eles.
Kate levanta se e usa a velocidade vampírica para chegar até mim e quando vou a ver estou no chão com ela a apertar me o pescoço. Sou mais forte e tenho mais experiência por isso inverto as posições rapidamente segurando os seus braços com os meus joelhos. Dou graças a Deus pelas lições que tive com o Kyle, que agora me estão a dar jeito.
-Kate, olha para mim. Por favor, ouve me. - o corpo dela parece acalmar e os seus olhos ganham mais cor, como se estivesse a voltar ao normal - Sou eu, a Mia.
-Mia... - vejo o quanto ela está a lutar contra o laço de sangue mas é como se estivesse possuída e volta a tentar atacar me.
-Lembraste de dizermos que não íamos deixar que este laço de sangue prejudicar a nossa amizade?
Ela pára e eu, lentamente, saio de cima dela e deixo a levantar se.
-Estás a divertir te com isto? - grito, dirigindo me a Chris que olha para a situação como se estivesse a assistir um filme.
Ele sorri.
-Nem é mau. Sabes, Marianne... há uma maneira de acabarmos logo com isto. Fica comigo.

Ía responder quando sou apanhada de surpresa pela Kate que me empurra contra uma cadeira de madeira que se parte quando caio em cima dela.
Kyle agarra em Kate e segura a. Ele não lhe vai fazer mal a não ser que eu diga para o fazer. Ou não houver outra solução. Mas há sempre outra solução.
Agarro numa das pernas partidas da cadeira e escondo a no interior do meu casaco. A seguir levanto me lentamente devido às dores e viro me para Chris.
-Está bem. Eu fico contigo.
-Não, Chris! Tu queres me a mim, não é? Diz lhe! - grita Kate em desespero.
Ele sorri e não sai do sítio.
-Admiro o que fazes por eles. A Kate pode ir, mas tu sabes o que vai acontecer ao Kyle.
Kyle coloca se ao meu lado e dá me a mão.
-Ela não vai contigo! Ela não te ama!
Chris olha para mim.
-Eu vou contigo.
Kyle olha para mim e vejo a aflição nos seus olhos. Aperto levemente a sua mão e sussurro.
-Confia em mim.
Aproximo me do Chris e ele pergunta me.
-O que ele diz é verdade? Não me amas?
-Claro que amo! - minto.
Oiço os gritos de Kate a tentar debater se na cadeira onde Kyle a prendeu e tento ignorá los.
-Eu amo te Christopher, e quero ficar contigo. Para sempre.
-Para sempre?
Engulo em seco.
-Para sempre.
De seguida e com movimentos rápidos, retiro a perna da cadeira do meu casaco e espeto a parte partida e bicuda no seu peito. Ele cai de joelhos e ruge alto. Matas o teu Progenitor com algo teu e voltas a ser humana.
Rapidamente tiro a pulseira da Kate e encosto a ao sangue que lhe escorre do peito. Vejo a vida a desaparecer dos seus olhos lentamente. Voltei a matar, mas não me sinto tão mal como da primeira vez e isso assusta me.
Mesmo antes de morrer ainda consegue dizer.
-Eu sabia que o teu lado negro iria sobressair em breve. - e morre.
Afasto me do corpo e olho para Kate. Está aterrorizada, olha para Chris e desmaia. Deve ter sido do choque, vai ficar bem. E humana.
-Estás bem? - pergunta me Kyle.
-Agora estou.
Ele olha para mim como se não estivesse muito convencido disso. Senti tanto a sua falta.
Puxo o pelo pescoço e beijo o. A sua boca sabe a sangue e menta. O beijo é intenso e apaixonado. Ele cola os nossos corpos puxando me pela cintura.
Finalmente acabou. Vamos poder viver em paz.
-Vou levar a Kate para o carro. Vai lá buscar o tal diário para sairmos daqui.

Ouve se um barulho vindo do escritório depois de Kyle sair. Entro devagar e procuro a origem do ruído. Vem de um baú grande. Abro o e sou surpreendida por um rapaz lá preso.
-Deves ser o amigo do Kyle. - digo.
-O próprio. - solto o e ele apresenta se - Ethan.
-Mia.
Ele sorri.
-O Kyle está completamente apanhado por ti.
Sorrio envergonhada e digo lhe para ir ter com eles que eu ainda tinha de ir buscar uma coisa ao quarto.

Guardo o diário e saio. Paro junto das rosas do jardim. É uma pena este sítio ficar abandonado agora.

As palavras de Chris passam na minha mente. "Até uma rosa branca, tem uma sombra negra".