Mordida pelas Sombras

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Isto de estar em casa sem poder fazer nada está a dar comigo em doida. Kyle, não faças nenhuma parvoíce!
No dia seguinte bem cedo liguei à Kate. Depois de resmungar que eu a tinha acordado e que precisava de dormir pelo menos dez horas e que só dormiu cinco, finalmente me ouviu e apressou se a vir.
-Ele vai matar se?! – Kate pergunta incrédula, quando chegou a minha casa.
-Acho que sim.
Ficámos um pouco em silêncio a pensar no que fazer. Temos de o encontrar e impedi lo de fazer alguma estupidez.
-Temos de o encontrar! - exclama a Kate e eu concordo com um aceno de cabeça.
Estou a caminho da porta quando Kate fala.
-Mia...? – chama me com um ar preocupado.
-Passa se alguma coisa? Porque estás com essa cara?
-Eu estive a pensar... o Chris é Progenitor das duas. Achas que isso nos vai prejudicar?
Nunca tinha parado para pensar nisso. Eu e a Kate temos o mesmo Progenitor. Será que haverá mesmo um problema?
-Acho que não. – respondo sem ter a certeza.
-Espero que não.

Procurámos o dia todo. Pelo prado, de uma ponta à outra. Na floresta e até no celeiro. Se eu ao menos soubesse onde ele vive.
Fui ao hospital e disseram me que o Kyle não foi trabalhar hoje nem ontem. Isto deixa me ainda mais preocupada. E se já for tarde demais? Não pode ser.
Voltámos para minha casa e eu não conseguia estar quieta. Andava de um lado para o outro. Se eu me sentásse iria sentir me inútil e eu odeio sentir me assim. Não é que eu esteja a fazer muito mas se eu me sentar penso demais no assunto e vou dar em louca.
-Mia, vai descansar, amanhã continuamos a procurar.. - diz me Kate meigamente.
As lágrimas explodem dos meus olhos e começas a cair compulsivamente.
-E se amanhã for tarde demais?! - grito entre soluços.
Kate corre até mim e abraça me deixando me chorar à vontade. Só volta a falar quando me acalmo.
-Nós vamos encontrá lo, Mia. Ou eu não me chamo Kate Williams. - faz um pequeno sorriso que me conforta - Mas agora tens de descansar. Queres que fique contigo?
-Não, obrigada. Também precisas de descansar e eu preciso de estar sozinha.
Ela dá me um beijo na cabeça e vai para casa, ficando só eu e a escuridão da sala.

Vou para a cama com a ideia de ir dormir. Mas como adormecer quando a cabeça está cheia de pensamentos que não dão descanso?
Só estás a perder tempo, Mia!
Olho para o relógio e são 4h56.
Levanto me e vou até à varanda. A rua está azulada pelo céu escuro e iluminada pelo quarto crescente. Está também muito silenciosa e sei que na vida de um vampiro o silêncio não costuma ser bom.
Observo a rua com atenção em busca de algo suspeito. Há uma sombra humana ao pé de um carro estacionado. É me familiar. Aquela postura descontraída de mãos nos bolsos mas protetora só pertence a uma pessoa.
Kyle vê que estou a olhar para ele e começa a correr.
-Kyle, espera!
Mas continua a correr.
Desço rapidamente as escadas e já ía disparada para o seguir mas vi uma coisa no chão por baixo da porta. Uma carta. Abro e começo a ler.

Mia, nem sei bem como começar... Queria ver te uma última vez.
Desculpa ter te transformado, nunca quis que sofresses.
Eu sempre pensei que as mulheres na minha vida eram passageiras. Aventuras de uma noite e depois desaparecer. Achava que queria essa vida para mim até te conhecer.
Achava piada à tua personalidade. Fazias te difícil e isso só me cativava mais. Quando coravas e achavas que eu não via eu batia palmas dentro de mim por ver o efeito que tinha em ti.
Depois comecei a sentir coisas, coisas que nunca tinha sentido por mais ninguém durante todos estes séculos. Queria estar contigo a toda a hora, a todo o momento. Pensava no teu sorriso antes de dormir e desejava acordar contigo ao meu lado. Ficava nervoso. Menti a mim próprio durante muito tempo dizendo que era impossível estar a apaixonar me. Nunca acreditei no amor. Até que te beijei e tive a certeza dos meus sentimentos por ti. Só pensava "O que é que estás a fazer comigo, Mia?". Mudaste me e quero agradecer te por isso.
Queria dizer te uma coisa que também nunca disse a ninguém. Que te amo e que nunca amei ninguém por isso desculpa se não consegui demonstrá lo. Antes tinha dúvidas mas agora tenho a certeza que o que sinto por ti é mais forte do que qualquer laço de sangue.
Amo te e quero que sejas feliz mesmo que não seja comigo.

Kyle

Fiquei sem palavras. O Kyle disse que me amava. Amo te uma palavra com tanto sentimento. Limpo as lágrimas que nem me apercebi que tinha e liguei à Kate.
-Mia? Sabes que horas são? Eu já te disse que preciso de dormir pelo menos...
-O Kyle!
-Vou já para aí!

Dois minutos depois estava a entrar em minha casa.
-Esta coisa da velocidade vampírica é mesmo boa! Então, viste o?
-Sim. Estava lá fora. - estendi lhe a carta - Lê isto.
Ela começa a ler e depois olha para mim.
-Tens a certeza que queres que eu leia? Isto parece um bocado pessoal...
-Lê!
-Ok, ok.
Sei que acabou quando vejo o seu olhar comovido.
-Temos de o encontrar!
-Sim! - gritei eu.
-Onde é que ele pode estar? No prado já sabemos que não, na floresta também não e no celeiro muito menos...
Começo a pensar. Já sei onde o encontrar!
-Na verdade, acho que estás enganada.
Corremos até ao carro e conduzi até ao local fazendo primeiro uma paragem numa farmácia a pedido da Kate.
Chegámos ao prado e a Kate arqueou a sobrancelha quando o viu mesmo lá.
-Não percebo... Ontem não estava cá, porque está agora?
Sorrio.
-Onde nos conhecemos.
Começo a correr na sua direção. Ele tem um frasquinho de veneno na mão.
-Kyle!
Ele assusta se deixando cair o frasco.
-Mia?! O que fazes aqui?
-Vim impedir te de fazeres algo estúpido.
-Vou acabar com esta ligação de uma vez por todas para não teres de sofrer mais. Sei que queres ser humana de novo e...
-Eu não quero ser humana! Quero te a ti!
-Por favor, Mia. Vai ser rápido e indolor.
-Kyle, não o faças!
-É para o bem dos dois.
E beija me suavemente sem pressas nem brutalidade. Um beijo que sabe a despedida. Quando acaba sussurra me ao ouvido.
-Amo te.
E pega no frasco bebendo tudo e caindo à minha frente.
-Não! - grito.
Mas já é tarde demais.
Caio de joelhos ao lado do cadáver, incapaz de me mexer. O Kyle está morto.