" era como uma casa assombrada, mas o fantasma era eu"
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Querido leitor,
Você tem estado muito quieto ultimamente... Será que está com problemas? Não se preocupe, uma história animará você.
Após muitas brincadeiras do lado de fora, chegou a hora de entrar. Romênia falava rapidamente sobre várias combinações de cores e como amava misturar todas. A menina não parava de falar enquanto segurava a mão de Vanessa, o que surpreendeu a mulher, já que a criança costumava ser tímida e de poucas palavras. No entanto, Vanessa ficou feliz ao ver como Romênia estava confortável. Conduziu a garotinha até o quarto para que trocassem de roupa, pois a dela já começava a ficar molhada devido à neve derretida.
— Eu quero muitas bolhas na banheira, muitas mesmo!
— dizia a menina, estendendo as mãos para mostrar um tamanho grande.
— E também quero patos, barcos e um polvo na água!
— Claro, claro, tudo o que meu anjinho quiser
— respondeu Vanessa, sorrindo.
Delfine estava em seu quarto, concentrada no livro, quando a porta se abriu com um estrondo, revelando Eloise, que entrou furiosa e se jogou na cama.
— Levou uma bronca, não foi?
— disse a mais velha distraidamente, virando a página.
— Ela conseguiu até colocar o papai do lado dela!
— resmungou Eloise, cruzando os braços.
— Eloise, acho que já deu dessas atitudes infantis
— Delfine falou, sentando-se e olhando diretamente para a irmã.
— Não há motivo para agir assim com Romênia. Afinal, só você está sofrendo com isso. Ninguém mais. Já percebeu?
A menina parou por um momento, refletindo sobre as palavras da irmã, mas algo dentro dela crescia cada vez mais, e ela não sabia explicar o porquê.
— Urgh, até você?! — exclamou, saindo e batendo a porta com força.
Delfine observou a cena pensativa. Desde muito cedo, Eloise sempre teve suas vontades atendidas, não importava quais fossem. Quebrou um chocalho? Bastava um resmungo e sete empregadas apareciam com modelos diferentes em cada mão.
Não gostava da comida? Pratos e mais pratos de sobremesa surgiam à mesa. Sua mãe, com medo de ser tão restritiva quanto foram com ela mesma, acabou liberando demais. Delegou a educação e os caprichos da filha às babás, que atendiam sem resistência ao menor choro. Delfine apenas esperava que, no futuro, Eloise se tornasse alguém melhor.
De banho tomado, Romênia parecia bastante sonolenta. Depois de uma tarde correndo e pulando, sua energia tinha se esgotado. Vanessa vestia nela um pijama rosa pastel com bordados brancos. A menina já não falava, apenas chupava o polegar preguiçosamente. Vanessa apressou-se; do contrário, Romênia dormiria antes do jantar.
Deixando seus longos cabelos soltos, a mulher conduziu a menina ao andar de baixo, onde os empregados começavam a montar a mesa. Como ainda tinham tempo, Vanessa a levou até o escritório, onde Edmundo estava.
Ao abrir a porta, deparou-se com o marido bastante concentrado. Sua postura era rígida enquanto avaliava papéis com os óculos de leitura. Ele não a viu chegando, mas era quase como se sentisse sua presença antes mesmo de ser anunciada.
Vanessa deu duas batidinhas suaves na porta para chamar sua atenção e, em seguida, entrou.
— Oh, eu não tinha visto vocês aí — disse Edmundo, retirando os óculos e relaxando a postura.
— Temos algum tempo antes do jantar e você passou o dia fora. Achei que quisesse passar um tempo com ela — Vanessa disse, colocando a garotinha no colo dele.
— É verdade. Me desculpe, querida, eu ando tão ocupado... Você perdoa seu pobre pai? — ele perguntou, fazendo uma cara triste.
Romênia riu, suas bochechas rosadas se destacando.
— Pobre papai... Deve estar cansado — disse, alisando levemente a cabeça dele.
— E o que você fez hoje? — ele perguntou, observando-a deitar a cabeça em seu peito.
— Eu brinquei muito com a Vanessa! Corremos na neve, fizemos um castelo e também... — Romênia foi interrompida por um bocejo.
— Parece que alguém está com sono, não é mesmo?
— Ed disse, com um sorriso na voz.
— Melhor irmos jantar.
Ele se levantou, carregando a pequena no colo.
Romênia podia sentir o cheiro amadeirado do perfume do pai e os botões de sua camisa, com os quais começou a brincar. Era aconchegante estar assim tão perto, sentir o calor de outra pessoa. Uma sensação reconfortante.
As meninas já estavam sentadas à mesa quando eles chegaram. Ed poderia ter colocado Romênia em uma cadeira, mas ela estava tão adorável em seu colo que ele simplesmente quis aproveitar o momento.
Foi tirado de seus pensamentos quando Vanessa mencionou a viagem para a casa dos pais dele.
— Oh, é mesmo, eu já havia me esquecido... Romênia, querida, já que estamos no final do inverno, temos a tradição de caçar. Você disse que gostava, não é?
A menina assentiu.
— Muito bem! Seu grande pai vai ensiná-la tudo sobre estratégia. Mas, se quiser saber sobre armas, seu avô será um professor melhor.
— Edmundo! Ela é muito pequena para armas! Onde já se viu?!
— Vanessa o repreendeu com humor, cortando um pedaço de carne.
— Você vai gostar muito da cabana, Romênia! Vovô conta as melhores histórias — disse Delfine, entrando na conversa.
— E você verá alces, raposas, cervos... Então, Fantasma poderá mostrar suas habilidades!
— Você também poderá... Papai, acho que ela não está te escutando
— disse Ellie, com a boca cheia de macarrão, apontando para Romênia, que ressonava tranquilamente, o polegar na boca.
— Oh, é melhor colocá-la na cama. Logo volto para falarmos sobre a viagem, querida
— disse Edmundo, levantando-se e subindo as escadas com a filha.
Ed estava vibrando. Nunca as coisas pareceram tão certas. Ele amava aquela criança com todo seu ser. Tinha tanto a mostrar, tanto a ensinar. Poderia recuperar os anos perdidos, e estava tudo bem.
Ao colocá-la lentamente no berço, sentiu a presença de Fantasma, que se enfiava debaixo do berço. Quando estava pronto para sair, sentiu um puxão em sua camisa.
Romênia estava sonolenta, mas com os olhos abertos.
— Papai... Nós vamos mesmo viajar?
— Sim, querida. Agora descanse. Amanhã falaremos mais sobre isso.
— Estou com medo... — ela disse, receosa.
— Medo de quê, minha querida? — Ed perguntou, preocupado, alisando seus cabelos.
— De isso ser um sonho, De eu acordar e tudo ter desaparecido, De o monstro aparecer novamente...— Sua voz era apenas um sussurro, mas Edmundo percebeu o medo em suas palavras.
Ele apertou a filha contra si e beijou sua testa.
— Querida, está tudo bem. O monstro se foi. E Seu pai está aqui.
Cantando uma antiga canção de ninar, ele a viu fechar os olhos novamente. Afinal, o papai estava ali.
Querido leito não precisa ter medo, afinal os mostrou que te assombram desaparecem quando você está aqui.

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pequena solidão
ChickLitRomênia é uma garotinha doce e bastante esperta, e com a companhia do seu lobo fantasma viverá uma nova vida