Cap. 13 - Nono mês: a maior reviravolta de nossas vidas

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Era difícil não perceber a tensão no ar. Vee estava exausto. Eu sabia que ele não gostava de demonstrar quando as coisas estavam difíceis para ele, mas, àquela altura, era impossível esconder. Ele vinha se esforçando tanto, tentando conciliar o trabalho e a universidade enquanto eu me concentrava na reta final da gestação. Ele ainda sentia que precisava ser o pilar em minha vida, e, claro, isso significava que ele não poderia se afastar completamente da sua rotina. Mas eu via o quanto ele estava sobrecarregado.

Nos últimos dias, Vee andava com um olhar distante, e os cansaços que ele disfarçava logo se tornavam visíveis. Às vezes, ele ficava horas em frente ao computador, os dedos correndo pela tela com pressa, mas sua expressão era sempre a mesma: um misto de frustração e preocupação. Eu percebia que ele tentava, de todas as formas, se manter equilibrado, mas a pressão estava me afetando também.

— Vee, você está bem? — Perguntei com voz suave enquanto ele olhava para a tela do laptop, os ombros tensos.

Ele me lançou um sorriso forçado, mas eu sabia que não era o suficiente. Seu sorriso não alcançava os olhos, e isso me dizia tudo o que eu precisava saber.

— Estou só... um pouco cansado. — Ele disse, mas eu podia ouvir a fraqueza em sua voz. — Tenho tanto para fazer... mas vou dar conta disso. Não se preocupa.

Eu não sabia o que fazer. Eu queria tanto aliviar esse peso para ele, mas, ao mesmo tempo, sabia que ele estava no fim do seu curso e precisava dessa fase para avançar na carreira. No fundo, ele estava tentando garantir que tudo fosse perfeito para nossa filha, mas ao mesmo tempo, sentia que não estava conseguindo ser o parceiro que eu merecia na reta final da gravidez.

Olhei para Vee, de coração apertado, e então respirei fundo. Não podia deixá-lo sozinho nesse momento, não agora. Ele estava em um ponto de sobrecarga, e eu sabia que precisaríamos dar uma pausa para respirar antes que ele se quebrasse. Mas, ao mesmo tempo, como podia pedir isso para ele, quando ele parecia tão determinado a garantir que tudo saísse da melhor forma possível?

Eu me levantei e fui até ele, colocando minhas mãos nos seus ombros.

— Vee, você não precisa ser perfeito em tudo. Você é o meu apoio, e eu só quero que você seja o melhor parceiro possível nesse momento. Eu vejo que você está se desdobrando, mas não me deixe sozinho nisso. A gente pode se ajudar. Juntos, a gente consegue.

Ele suspirou e finalmente se virou para me olhar. Os olhos dele estavam cansados, mas havia uma ternura ali que me fez sentir que ele ainda acreditava na nossa força como casal.

— Eu sei... Eu sei que estou... um pouco distante. Mas eu prometo que, assim que essa fase passar, vou estar completamente com você. Não quero te deixar nessa fase sozinho. Eu só... — Ele pausou, claramente lutando contra os próprios sentimentos. — Eu só quero que a nossa filha tenha tudo o que ela merece. Quero que você tenha tudo o que precisa também.

Segurei suas mãos.

— E você já me deu tudo, Vee. Já. Olha onde estamos, olha o quartinho dela, as coisinhas dela. Eu só preciso de você. E sei que a nossa filha também precisa. Agora, me permita ser o apoio que você tanto foi para mim. Você não tem que carregar o mundo sozinho.

Ele assentiu, e, pela primeira vez em dias, pude ver um leve alívio em seus olhos.

Naquela noite, decidimos colocar de lado os compromissos de trabalho e estudo por algumas horas. Vee precisava descansar, e eu precisava dele por inteiro, com todo o amor que eu sabia que ele sempre esteve disposto a oferecer. Nos deitamos juntos, e, por mais que houvesse muitas coisas ainda para fazer, o simples ato de estarmos ali, lado a lado, foi como um alicerce para o que viria pela frente.


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