Laços Inquebráveis

capítulo 39

A Força dos Recomeços

Os dias passaram com uma suavidade que há muito tempo não sentíamos. Ana ainda tinha seus momentos de silêncio, de reflexão, mas algo nela parecia estar se reconstruindo. Era como se, aos poucos, ela estivesse se permitindo respirar de novo.

Naquela manhã, Mariska organizou um café da manhã especial para todas nós. O sol entrava pelas janelas, aquecendo o ambiente com uma luz dourada. A mesa estava posta com frutas, pães, café fresco e um bolo de laranja que Joana havia feito especialmente para Ana.

— Está parecendo um café de hotel cinco estrelas — brinquei, servindo-me de uma xícara de café.

— Se é para começar o dia bem, que seja com estilo — respondeu Mariska, piscando.

Ana chegou logo depois, os cabelos presos em um coque frouxo, vestindo um moletom confortável. Ainda parecia um pouco cansada, mas havia algo diferente em seu olhar.

— Bom dia, dorminhoca — disse Jess, puxando uma cadeira para ela.

Ana sentou-se, pegando uma fatia de bolo.

— Bom dia, gente. Vocês realmente estão me mimando muito — disse, com um pequeno sorriso.

— Você merece — respondeu Gabi.

Havia uma energia leve no ar, como se todas nós estivéssemos, de alguma forma, começando um novo capítulo juntas.

A Homenagem

Naquela tarde, seguimos com o plano de plantar uma árvore em homenagem à filha de Ana. Escolhemos um local especial em um parque onde a natureza era vibrante, cheia de vida.

Ana segurava uma pequena muda de ipê-roxo, a espécie escolhida para representar a memória de sua menina.

— Essa árvore vai crescer forte, assim como você — disse Joana, colocando a mão no ombro de Ana.

Ela respirou fundo, segurando a terra entre os dedos antes de começar a cavar o espaço para plantar a muda. O silêncio que se formou foi respeitoso, quase sagrado.

Depois de terminarmos, Mariska entregou uma pequena placa de madeira, onde estava escrito:

"Em memória da nossa pequena estrela, que brilhou por pouco tempo, mas deixou seu amor para sempre em nossos corações." Nós te amamos Olívia!

Ana passou os dedos sobre as palavras, os olhos marejados.

— Obrigada por isso, meninas — disse, com a voz embargada.

Gabi a puxou para um abraço, e logo todas estávamos ali, cercando Ana em um laço de amizade e amor.

A Carta

Naquela noite, Ana pediu um tempo sozinha em seu quarto. Sabíamos que era um momento dela, então respeitamos.

No dia seguinte, encontramos uma carta em cima da mesa da sala. Era de Ana.

"Minhas queridas amigas,"

"Nos últimos meses, passei pela maior dor da minha vida. Perdi minha filha antes mesmo de poder segurá-la nos braços. Enfrentei e ainda enfrento uma batalha contra o câncer. Houve momentos em que pensei que não conseguiria continuar. Mas então eu olhava para o lado e via vocês."

"Vocês foram minha força quando eu não tinha nenhuma. Foram minhas mãos quando as minhas estavam trêmulas. Foram minha voz quando eu não conseguia falar. Vocês me mostraram que o amor verdadeiro existe, e que a amizade pode ser uma das formas mais puras dele."

"A dor ainda está aqui, mas agora sei que não estou sozinha. Sei que minha filha vive em mim, em cada palavra que escrevo, em cada sorriso que eu ainda darei. Sei que, aconteça o que acontecer, eu tenho vocês."

"Obrigada por não desistirem de mim."

"Com todo o meu amor, Ana."

Mariska segurava a carta com as mãos trêmulas, e todas nós estávamos em silêncio, absorvendo cada palavra.

— Acho que nunca li algo tão verdadeiro — disse Jess, enxugando uma lágrima.

— Ela está começando a se reencontrar — sussurrei.

E, naquele momento, soubemos que Ana, mesmo machucada, estava voltando a viver.