capítulo 28

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Uma Conversa Sincera

Depois que a pequena celebração no hospital se acalmou e todos foram para casa descansar, Ana pediu um momento a sós com Myrela. Ela sentia que precisava desabafar e dividir algo que vinha guardando há semanas. Myrela, como sempre, demonstrava um carinho profundo por Ana, e a relação entre as duas era especial.

Ana esperou que o quarto ficasse em silêncio e, em seguida, chamou Myrela para se sentar ao lado dela na cama do hospital.

— Myrela, preciso conversar com você. Algo muito sério, e quero que me escute com calma, está bem?

Myrela assentiu, sentindo o peso da seriedade nas palavras de Ana.

O Pressentimento de Ana

— Eu tenho tido um pressentimento, Myrela. Algo que não consigo ignorar. É como se eu sentisse que a  jornada aqui na Terra está se aproximando do fim , não sei se a minha ou a da minha filha.

Myrela ficou em silêncio, os olhos arregalados. Ela sabia que Ana era de religião de matriz africana (Umbanda), que valorizava muito os pressentimentos e a conexão com o espiritual,pois eram sinais. Embora fosse jovem, entendia que Ana estava compartilhando algo profundo e importante.

— Não estou dizendo isso para assustar você — continuou Ana, segurando as mãos de Myrela. — Mas eu sinto que, se isso realmente acontecer, preciso deixar as pessoas que amo preparadas. E você é uma delas.

Myrela respirou fundo, tentando absorver o que estava ouvindo.

— Você acredita mesmo que... que algo pode vir acontecer? — perguntou, hesitante.

Ana fez um pequeno aceno com a cabeça.

— Não é algo que eu quero, Myrela. Mas às vezes, o universo tem planos que a gente não entende. E eu tenho que confiar nisso.

O Pedido de Ana

Ana ajustou os travesseiros atrás de si, buscando conforto para continuar.

— Se algo acontecer e eu não estiver mais aqui ou não estiver em condições, quero que você cuide das meninas. Especialmente da Jess e da Mariska.

— Da Mariska? — Myrela perguntou, surpresa.

— Sim. Ela está muito apegada à neta, e isso a deixa vulnerável. Você sabe como ela é forte para todos, mas por dentro, ela sente tudo de uma forma muito profunda. Ela vai precisar de alguém para lembrá-la de que ela não está sozinha.

Myrela assentiu, ainda processando o que Ana estava pedindo.

— E Jess... Ela está grávida, e você sabe como é a gestação, cheia de emoções e desafios. Ela vai precisar de apoio, especialmente com todas as mudanças acontecendo ao redor dela.

— Eu entendo — disse Myrela, a voz firme. — Mas por que está me dizendo isso agora?

Ana suspirou, os olhos marejados.

— Porque sinto que você vai entender. Você sempre foi madura, Myrela. E eu confio em você.

O Desabafo de Ana

Ana enxugou uma lágrima antes de continuar.

— Eu sempre quis proteger todos ao meu redor, mas nem sempre consigo. E isso me deixa com medo. Medo de não estar aqui para ver essas crianças crescerem, para ajudar quando precisarem de mim.

— Você faz muito por todos, Ana. Mesmo quando acha que não está fazendo o suficiente — respondeu Myrela, com um tom suave.

— Obrigada por dizer isso. Mas, Myrela, se alguma coisa acontecer, eu quero que você prometa que vai lembrar a todos o quanto eu os amo. Que eles nunca esqueçam disso.

O Conforto de Myrela

Myrela segurou as mãos de Ana com força, os olhos cheios de determinação.

— Eu prometo, Ana. Mas você não vai a lugar nenhum tão cedo. Eu sinto isso. Talvez esse pressentimento seja só o medo falando mais alto.

Ana sorriu, tocada pelas palavras de Myrela.

— Talvez você tenha razão. Mas mesmo assim, obrigada por me ouvir.

As duas ficaram em silêncio por um momento, abraçando-se com carinho. O vínculo entre elas parecia ainda mais forte depois daquela conversa.

Reflexões Antes de Dormir

Depois que Myrela saiu do quarto, Ana ficou olhando para o teto, refletindo sobre o que havia compartilhado. Apesar do medo que sentia, também havia um sentimento de paz por ter dividido seus pensamentos com alguém que compreendia a profundidade de suas palavras.

Ela fechou os olhos, murmurando uma pequena prece:

— Que eu tenha força para continuar enquanto for necessário. E que as pessoas que eu amo nunca se sintam sozinhas.

Com isso, Ana finalmente adormeceu, sentindo-se mais leve e conectada àqueles que tanto amava.

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