Não acordei muito bem hoje. A saudade da família e dos amigos está grande, aqui me sinto tão sozinha, não tenho ninguém para conversar. Decidi ligar para minha mãe, em uma chamada de vídeo. Mas ninguém atendeu. Abri a janela do quarto, mas fechei rapidamente, estava muito frio. Vou tomar um banho que é melhor. Os pensamentos as vezes ficam tão perdidos no meio da saudade, mas consigo afastar estas lembranças e coloco o foco no trabalho e nos cursos. Hoje vou ficar até tarde em Havard. Acabo o banho, coloco uma calça, um coturno preto, uma blusa de manga comprida e apertada cinza e uma jaqueta de couro. Preparo o café e como um pedaço de bolo, escovo meus dentes, arrumo meu cabelo, pego minha bolsa e vou para o trabalho.
"Bom dia Maud." Falei e já estava subindo quando ela falou.
"Bom dia. Alexa a chave da sua sala."
"Obrigada."
"Você está bem?" Ela perguntou preocupada.
"Sim." E já comecei a subir. Tentei ao máximo manter minha postura, passando por eles sem dizer uma palavra. Entrei na minha sala e comecei me organizar. No fundo tinha uma escrivaninha, no lado direito um armário de madeira, no lado esquerdo um sofá e um banheiro. Coloquei meu notbook sobre a mesa, na gaveta coloquei meus livros do curso, por enquanto era só isso que tinha no momento. Abri o armário e vi um monte de cartolina branca, canetas, lápis, borrachas e uma régua.
Alguém bateu na porta.
"Oi Michel." Falei quando vi ele entrando.
"Oi Alexa." Ele falou meio sem graça, mas continuou. "Posso me sentar?"
"Lógico."
"Obrigado. Vamos ser sinceros um com o outro?" Afirmei com a cabeça que sim e ele continuou. "Você não está bem! O que acontece?"
"Está tão na cara assim?" Falei abaixando a cabeça.
"Sim. Ei, erga essa cabeça! Onde está aquela menina de ontem?" Dei um sorriso e acabei falando.
"Todos devem saber que eu não sou dos Estados Unidos."
"Eu não sabia." Fiquei meio perdida mas continuei.
"Eu sou brasileira, e sinto falta da minha família e dos meus amigos, aqui eu não conheço ninguém."
"Entendo você Alexa."
"Obrigada." Falei e logo em seguida percebi que ele não veio aqui perguntar isso. "Vamos direto ao ponto, por que você veio falar comigo? Tem algo que está te perturbando!"
"Sim. E este assunto é o Willian."
"Continue." Falei em um tom firme.
"Desde que entrei aqui, isso faz uns 3 anos, em alguns casos o Willian age de uma forma diferente, dando sinais para algo que não tem nada a ver com o caso. Entende?"
"Sim, e como você viu eu perguntando para ele, por que ele está fazendo aquele sinal, você percebeu que eu vi a mesma coisa. Certo?"
"Exato. Ele sempre me deixava fora de ir aos lugares, já que sempre perguntava isto para ele."
"Assim você não poderia saber se ele continua fazendo este tipo de coisa."
"Pelo menos alguém aqui me entende." Ele disse com um sorriso. "Fiquei sabendo que ele mudou para o mesmo hotel que você!"
"Sim, e achei bem estranho. Antes dele colocar as malas para dentro ele tocou a campainha e me pediu farinha, mais tarde ele me convidou para comer o bolo e fez perguntas sobre minha vida pessoal." Disse rapidamente.
"E você não disse nada."
"Certo." Ele fez uma expressão pensativa e logo disse.
"Ele fez a mesma coisa comigo."
Fiquei olhando para ele com um ar de dúvida.
"Estranho." Falei logo em seguida. "Aonde você guarda os relatórios de outros casos de morte ou de roubos?"
"Só um minuto, vou buscar." Ele saiu, eu peguei uma cartolina e desenhei o meu hotel, a cidade em si e a fazenda. Quando ele voltou, eu perguntei.
"Onde você mora?"
"Quatro quadras da delegacia."
"Obrigada."
"Aqui tem alguns roubos de banco e assassinatos." Ele me entregou os relatórios.
"Obrigada."
"Agora são onze horas, meu horário de almoço, logo após é o seu." Fiz que sim com a cabeça e comecei ler.
Muitas coisas passaram sem ser notadas nestes relatórios. O carro que assaltou o banco ontem é o mesmo carro que está constando nesta imagem, então o local é o mesmo. Fui fazendo linhas de cores diferentes e anotando legendas.
"Alexa, agora é seu horário de almoço." Michel disse vindo até mim.
"Observe." Apontei a placa do carro apreendido ontem e a foto da câmera.
"É o mesmo. Quem cuidou deste caso foi Willian." Disse Michel. "Deixe que eu vou ler, vá almoçar."
Quando sai da minha sala dei de cara com Willian.
"Ficaram amigos você e o Michel." Disse em um tom provocador.
Dei um sorriso e falei. "Não é da sua conta."
Cheguei em casa, fiz um arroz, fritei um bife e fiz uma salada de tomate. Almocei rápido e voltei ao trabalho. Este foi o tempo de almoçar e escovar os dentes, já estava na hora de voltar para o trabalho.
"Michel, achou mais alguma coisa?" Falei, ele ainda estava na minha sala.
"Sim, de todos os carros que apreendemos ontem, tem alguma história nestas câmeras. O que está me deixando confuso é como não consta nas câmeras de banco ou lanchonetes, onde 2 foram mortos."
"Que estranho." Falei pensativa. Olhei para cartolina e ele tinha feito os mesmos desenhos que estava fazendo antes. "Quando eu estava saindo ele disse como nos havíamos ficado amigos."
"Ele sempre desconfiou de mim."
"É porque você é o mais intelectual que trabalha aqui." Ele ficou um pouco vermelho.
"Depois que você chegou eu virei o mais bobo." Quem ficou vermelha desta vez fui eu. Quando me dei conta ele estava olhando pra mim com um olhar, que eu sinceramente não sei explicar.
"Tem algo no meu rosto?" Comecei a passar a mão no rosto. Michel deu uma risada.
"Seu rosto é lindo." Tentei não demonstrar nenhum tipo de agitação no sangue.
"Obrigada."
Ficamos observando os casos a tarde toda, quando Maud entrou na minha sala para avisar que Percy havia nos dispensado, ela olhou fixamente por uns segundos para Michel e logo saiu.
"Vai fazer algo hoje Alexa." Michel perguntou.
"Apenas o curso."
"Boa sorte."
"Obrigada."
Quando sai, percebi que Willian estava no térreo, parecia estar esperando alguém. Fiquei atrás de um carro, e observei suas expressões, quando Michel desceu ele foi ao seu encontro, pegou pelo colarinho, mas Michel se soltou.
"O que foi Willian?"
"Você sempre me acusou de estar escondendo algo! Eu até relevei, mas não coloque coisas na cabeça de Alexa, ela tem uma imaginação bem fértil. Meu maior sonho é matar você, mas se continuar assim, quem morre é ela, eu percebi como você olha para ela. Então cuidado." Percebi que ele estava pegando a arma. Andei na direção da saída, para parecer que estava entrando.
"Está acontecendo alguma coisa? Quero participar da conversa também!" Willian me olhou desesperado.
"Não querida, só estávamos conversando sobre o roubo de ontem." Willian falou. Passando por mim segurou meu rosto e deu um beijo na minha bochecha.
Dei sinal para ele Michel subir e ele fez isso. Observei Willian indo embora. Michel estava na minha sala. Corri ao seu encontro e deu um abraço apertado nele. Ele estava aflito.
"Eu ouvi tudo. Não precisa se explicar." Eu falei, e ele me abraçou de volta. "Quando eu vi ele sacando a arma, não me segurei."
"Obrigado." Michel disse. "Não se preocupe com o que ele falou sobre eu olhar para você de uma maneira diferente."
"Tudo bem." Respirei fundo. "Aqui tem câmeras, vamos ver as imagens."
Ele pegou na minha mão e me conduziu até a sala de imagens. Comecei a mexer e não vi nada, desde que ele saiu, não consta que ele voltou.
"Cadê as imagens? Só mostra quando ele saiu, e não que ele voltou." Falei.
"E muito menos que estamos aqui." Michel disse. Um calafrio correu pelo meu corpo, fechei os olhos e falei.
"Estou com medo." Ele me abraçou. Nunca tinha me sentindo daquele jeito.
"Você não pode dormir no seu apartamento!" Michel falou. "É muito perigoso."
"Não tenho para onde ir."
"Fique em casa. Por favor." Aqueles olhos verdes me olhando fixamente."Alexa eu me importo com você."
"Tudo bem, mas hoje tenho curso. E quero pegar tudo que preciso em casa e aqui no escritório."
"Eu levo você onde precisar."
"Obrigada."
Descemos para o escritório, peguei tudo que consegui. Saímos rapidamente, passamos no meu apartamento, lavei a louça bem rápido, peguei tudo que precisava para uma semana e depois saímos as presas.
"Pode me deixar aqui na Havard mesmo." Falei. "Passa - me o endereço que vou a pé para sua casa." Ele passou o endereço e foi embora.
Meus pensamentos estavam agitados ao máximo, mas consegui prestar atenção nas táticas de perito. Quando terminou fui para aula de tiro ao alvo, passei nos testes e fui dispensada. Quando sai da faculdade Michel estava me esperando no carro.
"Eu falei que ia a pé." Falei e ele sorriu.
"Prefiro não arriscar."
"Obrigada pelo que está fazendo por mim."
"Alexa, eu quero seu bem." Ele parou o carro, e colocou na garagem. "Chegamos."
Sua casa era bem aconchegante, dois quartos (uma suíte e o de hóspedes), uma cozinha, uma sala, um banheiro e um escritório.
"Coloquei suas coisas no quarto de hóspedes. Enquanto você toma banho eu faço o jantar." Michel disse.
"Tudo bem." Fui tomar banho, como eu vou ficar aqui eu tenho que pagar as contas, é também do apartamento, duas casas, não é fácil. Nossa! Agora não vou poder usar pijama, preciso de roupas mais comportadas. Acabei o banho, coloquei um shorts de tecido preto, e uma blusa bem larga de ombro caído vermelha, fiz um coque no cabelo e fui para cozinha.
"Demorei muito! Você já acabou até o jantar." Falei.
"Você foi rápida até de mais. Vem, vamos jantar." Michel falou.
"Não consigo tirar aquela sena da minha cabeça."
"Muito menos eu." O resto do jantar foi um silêncio. Levantei fui lavar a louça, e ele foi secando e guardando.
"Vamos assistir um filme para relaxar." Michel disse.
"Desculpa, mas já é meia noite e preciso dormir." Ele fez que sim com a cabeça. Entrei no quarto, fechei a porta e comecei a chorar desesperadamente. Aonde eu vim parar? Por que isto está acontecendo comigo? Meus pensamentos era apenas isso. Sentei no chão, encostei na cama, coloquei as mãos nos rostos e chorei. Não queria que Michel me visse assim, mas ele bateu na porta bem na hora dos soluços gigantes.
"Posso entrar?" Ele ainda estava do outro lado da porta. Ele abriu um pouco, dando visão para me ver e quando me viu no chão daquele jeito, chorando, ele foi até mim, sentou e me abraçou. "Eu não devia ter te falado tudo. Coloquei você em perigo."
"Não é sua culpa." Ele continuava me abraçando.
"Vamos para sala. É mais confortável." Não respondi. Ele me ajudou a levantar. Na sala ele sentou ao meu lado e me abraçou novamente. Não tinha forças para me liberar do abraço, muito mais porque ele estava me acalmando. Quando parei de chorar virei para ele e falei.
"Obrigada por tudo que está fazendo por mim."
"Alexa, você não precisa agradecer."
"Vou dormir, boa noite." Ele se levantou junto a mim, dei um abraço e um beijo em sua face. "Obrigada." Falei baixinho e sai.
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SSG
RandomSonhar é a melhor coisa. Ter alguém para confiar é algo extraordinário. Descobrir mistérios e fazer parte de um, não é fácil. Para quem batalha: NADA É IMPOSSÍVEL.