Bianca.
Desde o trágico dia da viagem até hoje já fazem duas semanas que estamos no Rio. Se eu estou gostando daqui ? Estou, não posso mentir. Mas ainda sim sinto falta de Texas e da escola de lá, apesar de ser mais puxada também era bem divertida. Sinto falta de Sidney e suas palhaçadas na aula e na minha casa sempre que inventávamos de fazer noite do pijama na minha casa. Sinto falta do Phillip e toda a sua marra de garoto popular da escola, garoto que não namora ninguém mas faz todas as meninas se ajoelharem aos seus pés. E já que estamos falando disso, andei olhando o perfil dele no facebook e tenho perguntado bastante dele para Sind, e ela sempre me responde a mesma coisa: "Desencana gatinha, ele não esta mais nem ai pra você. Ele não vai poder tirar a sua virgindade por um celular." Eu não acredito que minha paixão platônica seja assim tão fútil, mas minha melhor amiga não teria porque mentir. E por falar nela estávamos conversando hoje, contei pra ela sobre o emprego que minha mãe arranjou com a minha tia e da prova que minha mãe me obrigou a fazer pra me tornar bolsista da melhor escola do Rio. Ela ficou feliz por eu estar seguindo em frente, mas na verdade eu somente estou escondendo a dor de ter que ficar longe de Sind e suas loucuras e sei perfeitamente que ela esta fazendo o mesmo, encerramos nossa conversa com uma promessa dela de vir pra cá no final do ano, ela quer morar com a gente e a mãe dela até que aceitou isso numa boa, mas só se ela terminar os estudos com notas ótimas. Para ela, isso seria moleza. Estou me revirando na cama sem sono algum, a ansiedade do primeiro dia de aula me acertou em cheio, mas também tenho medo do que pode acontecer lá dentro. Não tenho nenhum conhecido e não sou brasileira totalmente, não sou tão bonita e sociável como as outras garotas que eu vi no dia da prova, eu provavelmente vou ser o assunto do inicio de ano naquela escola. Espantei meus pensamentos disso e me forcei a fechar os olhos até que cai num sono profundo.
"Estava sentada na praça perto de casa com a Sind conversando normalmente quando Phillip e seus amigos vão pra lá andar de Skate. Eles são fascinados por isso e eu amo ver Phillip andar, ele parece até um anjo flutuando quando anda nisso. Fico babando nele não sei por quanto tempo, mas Sind me tira dos meus devaneios com um pedaço de papel que ela sempre carrega no bolso da calça.
- Siind, que isso ? - Olho pra ela rindo, enquanto a mesma gargalha.
- Você estava literalmente babando. Eu sabia que precisaria deste papel um dia, eu sabia. - Volta a rir como se isso fosse a coisa mais incrível que ela já tenha visto.
- Eu não estava babando. - Defendo-me da acusação. - Apenas viajei para um outro mundo onde ... - Não consegui terminar a frase e ela deduziu.
- Ele namora você, ama você e idolatra você a ponto de largar as outras pra ficar somente contigo. Eu sei como é isso. Mas serio amiga, desencana porque ele nunca vai ser assim, você sabe né vai ser perda de tempo... - Assenti um pouco triste, saber que ele não gosta de mim na mesma intensidade que eu gosto dele me machuca. Mas Sind e eu nos surpreendemos quando ele caminha charmosamente em nossa direção.
- Oi princesa. - Ele me chamou de princesa ? Parem agora o planeta terra que eu preciso descer e tomar um ar.
- O...o...oi... - Fico vermelha instantaneamente, de vergonha por não conseguir ser tão confiante a ponto de soltar um "Oi" sem gaguejar.
- Sera que podemos conversar ? - Meu interior praticamente grita que sim, mas me mantenho calada para não assusta-lo. Olho pra Sind que parece finalmente sair do seu transe.
- Eu vou ali na lanchonete comprar algo para comer, querem algo ? - Simpática como sempre.
- Trás uma coca pra mim se não for abusar de você. - Pera ai, PERA. Phillip esta sendo educado, EDUCADO ? Onde foi que abduziram ele, por Deus.
- Eu quero um x-bacon com bastante maionese. - Sorrio pra ela que pega nosso dinheiro e sai andando em direção a lanchonete do outro lado da quadra.
- rm rm... - Molho a garganta para começar a falar. - Você disse que queria conversar, seria exatamente sobre o que ? - Estou sentindo calafrios estranhos na espinha. Ele toca a minha mão com delicadeza e meus pelos do corpo se arrepiam com seu toque. Ele sorri pra mim.
- Eu queria te fazer um pedido. - Olha no fundo dos meus olhos e prossegue com o que dizia. - você é linda, encantadora e muito inteligente. E eu gostaria que você me desse a honra de te chamar de..."
PIPI... PIPI... PIPI...
Despertador, seu traidor. Só não lhe quebro porque ainda preciso de você. Estava prestes a ter o melhor sonho de toda a minha vida e na melhor parte dele tenho que acordar, é brincadeira né. Mas nem em sonho a gente fica junto. Levanto contrariada pego minha toalha e meu uniforme e vou para o banho. Fico cinco minutos embaixo da água quente me lavando, sai me seco e colo meu uniforme. Não gosto dele, é uma camiseta, uma calça e a blusa de frio, mas é azul e branca e se tem uma cor que eu odeio é azul ainda mais se for azul marinho (que por ironia do destina é a cor do uniforme). Mas sou obrigada a usa-lo se não serei barrada no portão. Arrumo minha bolsa e desço as escadas, minha está sentada na mesa colocando um copo de leite pra ela.
- Bom dia mãe.. - Sorrio e me sento ao seu lado pegando uma fatia de torrada.
- Bom dia querida, preparada pro primeiro dia de aula ? - Me sinto um E.T com a pergunta.
- Não é como se eu nunca tivesse mudado de escola né mãe, mas confesso que estou um pouco nervosa... - Ela me lança aquele olhar compreensivo e sorri pra mim.
- Não é um bicho de sete cabeças, e logo você terá amigos com quem conversar. Descobri com a vizinha que no final da rua tem dois alunos da mesma escola que você e me parece que também são bolsistas. Você pode dar sorte e eles se darem bem com você... - Ela continua no mesmo assunto e eu me desligo pra comer em paz, quando ela começa com um assunto assim não para mais.
- Mãe to atrasada, to saindo beijo te amo. - Dou um beijo na bochecha dela e saio caminhando para a parada de ônibus escolar que tem em cada quarteirão.
Me encosto no poste e espero a condução cegar. Não demora muito e escuto o barulho dele na rua de trás, e ao mesmo tempo da direção de onde eu vim vejo duas pessoas correndo, uma menina e um menino. Percebe-se de longe que eles jamais conseguiriam chegar aqui primeiro que o ônibus, mas vou segura-lo pra eles. Assim que o motorista para e abre a porta eu coloco um pé pra dentro da porta e deixo outro na calçada, ele me olha como se fosse me levar deste jeito se eu não subisse logo, mas pra me defender eu aponto com a cabeça para os dois atrasados que acabaram de chegar. Nós subimos e eu vou direto para o banco do fundo. Coloco meus fones e automaticamente me desligo deste mundo temporariamente.
No meio da música os dois atrasados me chamam, olho pra eles assustada mas mesmo assim tiro meu fone.
- Sim... - Olho pra eles intrigada, o que eles estavam fazendo aqui afinal ? Oras.
- É... queríamos agradecer você por ter segurado o ônibus pra nós... - A menina é a primeira a se pronunciar agradecendo e eu confesso que não tinha necessidade. Mas quando vou me pronunciar o garoto toma a fala.
- É verdade, obrigado mesmo. Se não fosse por você perderíamos aula hoje estamos atrasados. - Realmente o atraso deles não me interessava, mas eles me pareciam ser legais.
- Oh não precisam agradecer eu apenas fiz o que devia fazer... - Sorrio em consideração a intenção que eles tiveram de vir até aqui me agradecer. Minha mãe sempre fala que conhecemos pessoa boas pelos atoas dela, quando fazemos algo para "alguém" e esse "alguém" reconhece seu esforço e te agradece, ele é uma boa pessoa. Estou quase colocando os fones de novo quando a menina novamente chama a minha atenção.
- Você é nova ? - Sua pergunta me deixou um pouco confusa quanto ao sentido dela.
- Como ? - Pergunto de volta e ela sorri.
- Você é nova aqui não é ? - Sorrio quando entendo o que ela quis dizer.
- Uhun, como percebeu tão rápido ? - Sorrio, talvez seja bom dar a oportunidade de alguém se aproximar.
- Você tem um sotaque diferente, mesmo falando fluentemente o português eu diria que você é britânica. - A olho espantada com a rapidez na percepção.
- É, sou sim. Mas minha mãe é brasileira e me ensinou desde pequena a falar as duas línguas. - Sorrio com a minha resposta, minha mãe é uma verdadeira heroína.
- Oh sim, de lugar você era ? - Arqueio uma sobrancelha, isso lá era sinal de eu estar pensando muito, mas aqui me parece outra coisa porque eu nem lembrei direito e ela já começa a falar de novo - Oh não quero ser intrometida, só achei que seria legal ter uma amizade nova com a gente sabe, andamos muito... - Ela é interrompida pelo amigo.
- Cala a boca Alana, ta assustando a menina não ta vendo ?! - A forma como ele reprende a menina é engraçado, eu gargalho disso e quando me recomponho decido dizer logo meu nome.
- Bianca. - Eles me olham como se eu fosse louca, então reformulo a minha frase. - Me chamo Bianca. - Estendo a mão pra eles e a menina pega a minha mão primeiro.
- Alana, mas se quiser pode me chamar Lana. Esse idiota aqui é o Breno, mas chamamos ele de Brê. - Sorrio e pego na mão dos dois como forma de apresentação.
- Respondendo sua pergunta Lana, eu nasci na Inglaterra mas com 10 anos fui morar em Nova York com meus pais. Mas a mais ou menos um ano atrás meus pais se separaram e eu fui morar com a minha avó no Texas. - Ela me olha maravilhada.
- Texas, sempre quis ir para lá. É pequeno como dizem ? - Sorrio.
- Mais ou menos, ainda da pra se perder um pouco lá. - Ela sorri e continua a fazer perguntas sobre tudo do condado, eu apenas respondo amigavelmente. Bom, posso dizer que segurar o ônibus pra eles foi a melhor coisa que eu fiz.
Chegando no colégio vou na secretaria pegar meus horários e o número da minha sala, acabei descobrindo que estudo junto com Alana e Breno, já vi que isso não vai prestar. Sorrio com meu pensamento. O sinal bate e todos vamos para a sala, Lana e Brê sentam nas primeiras carteiras então resolvi me sentar atrás de Brê na segunda carteira na fileira da janela, onde eu imaginava que não dava para ser vista. Assim que o professor entra, vasculha a sala como se soubesse que tinha algo novo dentro dela e eu acabo me perguntando internamente se as pessoas daqui são tão observadoras assim. Não tem como fugir disso então, vamos de uma vez. Me levanto e vou até o professor que agora vasculha a sua caderneta.
- Aramm... - Arranho a garganta pra ele ver que estou ali.
- Oh sim, sabia que tinha algo diferente hoje. Cadê seu papel ? - Sorrio com a rapidez dele e lhe entrego o pedaço de papel que a mulher da secretaria me deu. - Caros alunos e alunas desta classe, temos uma colega nova na sala. Como se chama querida ? - Ta na hora, respiro fundo e olho pra classe toda para responder.
- Bianca Santana.
- De onde veio Bianca ?
- Texas. - E nessa hora que um garoto sonolento resolve me olhar e eu paraliso meu olhar nele. Não entendi o porque mas me deu arrepios só de olhar dentro do seu olho. Ele sustenta meu olhar da mesma forma e parece tão hipnotizado quanto eu, mas somos interrompidos pelo professor.
- Bom Bianca, meu nome é Gregório mas todos aqui me chamam de Professor Greg, e eu dou aula de Historia. Agora já pode ir se sentar. - Sorrio para ele em resposta e me sento rapidamente sabendo que meus movimentos estão sendo observados pelo garoto dos olhos hipnotizadores.
- O garoto que te encarou agora pouco é o Ian Bitencourt. Ele tem uma irmã chamada Carla Bitencourt e suas amigas gêmeas Fernanda e Gabriela de Couto. Eles são o grupo "popular" da escola, só porque são ricos, metidos e estilosos. E a irmã deste traste odeia mais que tudo os bolsistas desta escola.
- Meu Deus, é muita informação. - Sorrio pra ela que me olha ainda mais serio.
-Ah e tem também o Guilherme amigo do Ian, ele é tão lindo. Mas o que tem de lindo tem de metido e arrogante, argh, odeio essas corjas. - Dou uma risadinha ( na verdade eu queria gargalhar, mas o prof me mataria ) suave da sua feição ao falar deles ela realmente os odeia tanto quanto eles odeiam a nós bolsistas.
O restante das aulas foram tranquilas até, no intervalo Lana e Brê me levaram para conhecer o colégio e acabamos esbarrando na tal Carla, que tratou a gente como lixo, mas não falei nada pra ela apenas a ignorei e continuei andando. Segundo a Lana, ela odiava ser ignorada por qualquer pessoa, isso libertava a fera que existia nela, mas eu realmente não estou preocupada com ela e a sua fera, por mim ela se jogava no inferno com a fera dela junto. Menina irritante. Depois deste episódio decidimos irmos para a lanchonete da escola comprar algo para comer, optamos por dividir um pacote de fandangos que eles conheciam e realmente era gostoso. Voltamos para a sala e demos continuidade as nossas aulas até dar 13:00h e nós fomos "libertados" (frase da Lana, só pra constar).
Assim que demos na parada perto da nossa casa caminhamos juntos até a nossa rua (sim nós três moramos na mesma rua) e então Lana me chama.
- Bia ?! - Olho pra trás e ela caminha até mim. - Se quiser mais tarde podemos ir dar uma volta pra tomar um sorvete e você conhecer um pouco daqui. - Ela está receosa mas eu adorei a ideia.
- Claro, mas só posso sair depois das 17:00h . É o horário que minha mãe chega do serviço. - Ela sorri e me abraça inesperadamente, me assusto de primeira mas retribuo ele com a mesma intensidade.
- Pode ser sim, e obrigada mesmo. Nós nunca conhecemos uma pessoa tão legal e segura que nem você. - Olho dentro dos seus olhos antes de reponde-la.
- Eu que agradeço por você serem simpáticos e amigáveis comigo no meu primeiro dia de aula, eu adorei conhecer vocês. Hoje definitivamente foi o melhor dia desde que vim morar aqui, e ele tinha tudo para ser o pior. - Desabafo sorrindo e eles sorriem pra mim. Nos despedimos apenas com um aceno de mão e vamos para nossas casas, afinal eu tinha muita coisa para fazer antes de sair e eles também.
Entrei dentro de casa e já joguei minha mochila no sofá pra comer alguma coisa, estava morrendo de fome. Esquento a nossa janta de ontem e sento na frente da tv para almoçar assistindo qualquer coisa de bom que esteja passando naquele horário, passo de canal em canal duas vezes até decidir assistir um seriado de comédia. Termino de almoçar e ligo meu celular no rádio para ouvir musica enquanto dou uma organizada na casa para a minha mãe, se ela chegar e a casa estiver suja sera castigo na certa. Começo organizando meu quarto, depois o banheiro e vou para as escadas, varro elas e passo um pano já pra ter certeza que a parte de cima da casa esta limpa, Ai vou na cozinha e limpo a mesa, lavo o pouco de louça do café da manha e almoço que tem ali e limpo o fogão pra fechar a tampa dele. Varro a cozinha e a sala juntando o lixo na porta, passo um pano úmido com desinfetante e coloco os tapetes no lugar, tiro meu celular do rádio, desligo a música e vou conferir meu facebook enquanto isso. Mal entro e vejo que tenho duas solicitações de amizade, uma da Alana e outra do Breno. Aceito os dois.
Olho mais um pouco, vejo as mensagens de despedida deixada na minha linha do tempo e curto todas elas mas não respondo nenhuma exceto a da Sind que foi a única a ir se despedir de mim pessoalmente. Estou prestes a sair quando vejo que tenho mais uma solicitação de amizade "mas como se não conversei com mais ninguém além dos dois aqui." meu pensamento já esta a mil quando abro a solicitação perco o ar, meus batimentos aumentam cem por cento e eu estou quase tendo um colapso ao ver seu nome ali. Ian Bitencourt, sem reação adiciono ele aos meus amigos e em um minuto mais ou menos ele já tinha curtido a minha foto de perfil e uma outra que postei assim que me mudei. Resolvi sair do face e ir descansar um pouco para mais tarde. Seria difícil, o garoto do olhar penetrante não saia da minha cabeça, mas acabei adormecendo pensando nele.

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Transcendendo Limites
RomanceBianca Santana, uma garota simples e ingenua que sonha em um dia encontrar seu amor verdadeiro e viver um romance como nos livros que ela costuma ler. E até poderia ter essa oportunidade em Texas, mas sua mãe muda completamente seus planos quando de...