As taças quebradas e o vinho derramado

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Era aporra de uma festa de ano novo e aqueles veados estavam falandoalguma coisa sobre o trabalho. O Scott era psicanalista de um montede riquinhas querendo rola. O Ted era o advogado corrupto dos maridosdas riquinhas frustradas. A Mary era a diretora do canil que chamavamde escola onde as filhas das peruas com os pilantras estudavam. Eu sótinha que servir as bebidas, mas era difícil não rotular os filhosda puta que tinham dinheiro para estar numa festa no topo do FuckinTower. "Olha só, a ruiva branquinha na perto da janela. Opanaca que tá com ela tá travado de pó e tomando wiskey nogargalo. Toda vez que levo uma água pra ela parece que ela grita:'ME TIRA DAQUI!', pra mim." Não importa onde a gente tivesse, oHandsome conseguia tirar uma casquinha de alguma coitada. Na verdadeo que a gente queria mesmo era o pó que aqueles cretinos tinham."Desencana dela agora, olha o cretino indo pro banheiro. Pega oscoletes....me encontra na porta." Encostei na porta e o Handsomechegou com os coletes de segurança. "Tá fácil!" Entramose o infeliz estava cheirando no balcão. Tentou disfarçar, mas jáfui chegando de mansinho: "com licença senhor, posso ver o quevocê tem no bolso do paletó?" O safado começou a se borrartodo. "Olha só, isso é uma festa de ano novo, estamos todoscomemorando." "Ou o senhor entrega o que tem no bolso evamos ter que pedir que o senhor e seus convidados se retirem."O playboy na fralda entra em choque com o discurso do Hand. "Omeu Deus, eles vão falar com meu papai..." Ele tira dois minisaquinhos ziplocks cheinhos do pó branco mágico e coloca em cima dapia. Depois abaixa a cabeça e sai. "Você devia ter vergonha.",diz o Hand, num tom moralista, pro otário já de costas. Antes delefechar a porta já tinha esticado dois raios no mármore do banheiro."Vou pegar a mulher dele também", continua ele antes de seabaixar e mandar sua parte pro nariz.


Vou daruma volta na cozinha para fumar um cigarro e sentir o efeito dafarinha, depois de uma meia hora volto para o salão, e dou de caracom a Roberta. "Oi Mark!" Acabou de chegar com um cretinoqualquer e quer um pró-seco. "Que bom que você tá aqui. Tenhoalguém pra conversar." Ela está fantástica com o cabelocomprido até o ombro e toda de branco. Certeza que esse Zé Ruelanão merece uma garota como ela. Descolo o pró-seco, mas enrolo umpouco no balcão só pra ela ficar me olhando. "Como vai suafamília?" A gente estudou junto e se cruza na rua as vezes.Acho que ela me deu bola numa ou outra vez que nos encontramos, masfui perceber só meses depois. Sou um idiota. Deixo ela com o escrotoque já está fedendo a whiskey e vou dar mais um tiro para suportara pressão. Quando entro no banheiro escuto um barulho de meteçãoem uma das cabines. Entro na do lado para preparar um carreira eescuto a mina gozar, depois o cara. Logo depois de mandar tudo paradentro escuto uma voz vindo de cima. "Mark?" Puta quepariu! Quase tive um treco. Era o Hand com a ruiva que tavam sepegando. O desgraçado sempre consegue alguma coisa na noite. Ajudoos dois a sair do banheiro e volto para o salão. O Hand fica com oúltimo tiro e eu começo a beber vodca com água e a fumardesesperadamente.


Já sãoonze e meia. Começaram a distribuir os champanhes. Pego uma bandejacheia e entro na festa bailando para cá e para lá. Parece que estoudesviando das pessoas, mas estou só tentando me equilibrar mesmo.Uma senhora me abraça com uma mão e me dá sustentação. Com aoutra ela pega uma taça e cochicha no meu ouvido. "Você nãoquer me mostrar onde fica o banheiro dos funcionários?" Doumais uma prova de que sou um idiota sentimentaloide. "Não."Ela coloca umas notas de cem no meu bolso. Confirmo para o mundominha imbecilidade e nego. Ela tira o dinheiro do meu bolso e começaa pular. Deixo a bandeja vazia no bar e pego uma cheia. Viro duastaças e cuspo nas outras três. Saio cambaleando para escolher osculpados. Os fogos da meia noite começam a estourar e levo um susto.CRASH! Foi tudo para o chão. Alguém pensou que fosse parte dacomemoração da virada e jogou uma taça no chão. Então todo mundoachou que isso foi planejado, junto com o preço surreal da entrada,e começou a quebrar tudo como se fosse um casamento judeu. O dono dobuffet entrou em surto psicótico e começou a gritar: "Não,não, não.....parem com isso!!! São de cristal!!!"


Talvezele não tenha percebido que fui eu que comecei com tudoacidentalmente, mas achei melhor sair de lá antes que eledescobrisse. Peguei como pagamento duas garrafas de vodca e umaslatas de energético. Procurei o Hand mas nenhum sinal daquelebastardo. A Senhora fome de sexo deve ter encontrado ele, que deveter achado que tirou a sorte grande. Desci pelo elevador social paranão ser incomodado e sai pela frente fumando como um trem a todovapor. Peguei o metrô e parei no centro da cidade onde milhares deesquecidos por Deus e suas famílias se amontoavam para virarestatísticas no jornal de amanhã. "1 milhão saúdam a chegadado ano na avenida", "Centenas de arruaceiros são presos emfesta da virada". Não demorei muito para ser achado pela Jill ea Saphire, que vinha com um sorriso cego e um Valium na mão quedizia "feliz ano novo!" "Estamos indo pra casa da Lê!A galera tá lá! Vamos com a gente!" Não lembro bem o querespondi, mas tomei o comprimido com uma talagada e fui. Entramos emum táxi e a Saphire acendeu um baseado. O motorista ficou puto, masnão pediu pra gente apagar. Eu estava derretendo naquele banco decarro enquanto as duas pareciam ligadas para o ano inteiro. "EntãoMark, podemos ir nos três para sua casa? O que você acha?""Hã?" Dei mais uma prova incontestável da minha falta deentendimento do mundo feminino e fomos parar na casa da Lê.


Estavatodo mundo curtindo o rolê. O Jimmy, a Panny, a Marsha, até o Handjá tava lá com a ruivinha branquinha chapada e o marido muitolouco. "Consegui mais uma coisinha para te ajudar", o Handtira um saquinho de pó branco mágico do bolso e minha alma treme."O otário é muito mais otário do que ele e a gente imaginava."Enrolei uma nota, coloquei ela dentro do saquinho e puxei tudo quedeu. Senti aquele gosto amargo na garganta e um estalo como o doPopeye quando toma espinafre. Pensei na proposta da Jill e da Saphireno táxi e sai como um retardado atrás delas. Primeiro trombei oWorms. "Hey Mark! Que bom que você veio cara!" "Obrigado,pra você também....você viu a Jill e a Saphire." Eu estavaestriquinado, olhando para todos os lados de uma vez. "Você táparecendo um travado paranoico. Toma isso daqui." Ele tirou doiscomprimidos laranjas de um potinho. Me deu um e colocou outro dentrodo copo dele. Peguei e mandei goela abaixo por puro reflexo. Fuilubrificar a garganta com a cerveja dele e o outro entrou poracidente. Dez minutos depois eu estava estatelado no sofá da salacomo um zumbi desesperado para morrer. A Lê sentou do meu lado ecomeçou a falar qualquer coisa, mas eu só entendia uns grunhidos.Fechei o olho e quando abri de novo não tinha mais ninguém lá.

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