A luta do Peito de Aço contra o destino implacável

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Existe,por parte da maioria das pessoas, um senso de que tudo tem que serjusto. Mas numa luta de boxe tailandês, no porão do velho Big Dog,justiça era um conceito bem vago. Para o Mão Pesada tinha vindo como Conselho Tutelar e o Abrigo de Menores do Estado. Enquanto elesurrava o Peito de Aço imaginava aquela velha lazarenta que cuidavada cozinha do Abrigo. E ela gritava: "Por favor! Não!" E eleurrava com mais força quando o sangue espirrava na sua cara. Eracomo se a justiça estivesse finalmente sendo feita. Para o DomNarigudo não. Para ele justiça era as apostas dele vencerem. Nãoimporta a que custo. E ele tinha apostado que o Peito de Aço ia cairno quinto round. Ele tinhagarantido que o Peito de Aço ia cair de qualquer jeito. "Sevocê não matar essa lata velha eu mesmo mato!". Já passava dosexto assalto e parecia que as pernas do Peito também eram de Aço."O que você esta fazendo imbecil? Você vai morrer de qualquerjeito. Acaba com isso!" Pela falta de regras o páreo só acabaquando alguém cai desacordado e, apesar dos punhos baixos e dogingado cambaleante, parecia que não ia acontecer tão cedo com oPeito de Aço.

A galerabradava qualquer coisa que soasse como a libertação do ódio. Tudoque podia ser arremessado para dentro do ringue, era. "Apostealguma coisa neste filho da puta. Estou sentindo que ele não vaicair." O Dom Narigudo queria tentar baixar o prejuízo, enquanto oPeito de Aço começava a marretar a cara do cansado, de bater, MãoPesada. Sem esconder de ninguém o caminho Dom Narigudo entrou nodepósito disfarçado de vestiário. Duro na Queda estava sentadonuma cadeira bebendo qualquer coisa forte num copo americano. "Issonão é uma luta, é um jogo. Se eu vencer neste jogo, você tambémvence. Entende?" O durão apenas acenou com a cabeça. "Diga: 'euentendo', porra!". "Eu entendo." "Para nós vencermos vocêtem que cair no terceiro round.Diga." "Eu tenho que cair no terceiro round.""Eu VOU cair no terceiro round.Vamos." "Eu vou cair no terceiro round."O barulho de um saco de carne desabando no chão interrompeu aconversa. Depois veio os gritos do público. "Espero que aqueledesgraçado não tenha morrido para eu poder matar ele com aspróprias mãos." Dom Narigudo tirou uma garrafinha de metal dobolso do paletô, deu um longo gole, e olhou nos olhos do Duro naQueda. "Veja bem. Em algum momento uma coisa chamada consciênciapode te enganar com uma estranha sensação de orgulho. Mande ela amerda e caia no terceiro assalto! Entendeu?" "Eu entendo."

Quandoele voltou para o porão o ringue já estava vazio. Dois garotoslimpavam as poças de sangue espalhando elas com um pano. Um capangase aproximou. "Ele venceu, pegamos ele e levamos para o quarto decima." "O que ele disse?" "Esta desmaiado." "Quero matarele vendo ele engasgar até se arrepender de não ter caído. Quandoele acordar me chame." Duro na Queda e Pernas Voadoras seapresentavam ao grande público. Não tinha modelo anunciando ocomeço da luta, nem juiz, nem gongo. O ringue se esvaziou e os doisavançaram um na direção do outro. Duro na Queda queria fazer oserviço perfeito. Não deixava o corpo no alcance das PernasVoadoras e ainda acertava uns golpes leves. O tempo ali não corria,se arrastava. Três minutos se transformavam em dez em nome do sangueescorrendo. "Vou te matar antes do terceiro round."Parecia que o Pernas Voadoras tinha algo a provar. Os dois seemaranharam no chão e quando Duro na Queda conseguiu encaixar umachave de braço em Pernas Voadoras a invasão dos técnicos anunciouo fim do primeiro assalto.

Aindaprocurando amortizar o prejuízo com o futuro falecido Peito de Aço,Dom Narigudo encostou do lado do caixa. "Como esta o PernasVoadoras para o terceiro round?""Pagando 10 para 1." "É isso mesmo. Qualquer aposta suspeitavocê me avisa. Esse vai cair no terceiro." O caixa fez OK com amão. "Não me faça sinais, porra! Só diga que entendeu.""Entendi." Dom Narigudo se voltou para a luta e tempo de verPernas de Aço quase por tudo a perder no segundo round.Mostrando uma elasticidade digna de um Super Herói ele deu com apalma do pé violentamente na bochecha do Duro na Queda, queinvoluntariamente caiu se desmanchando como uma banana podre. Oscapangas do Dom Narigudo entraram no ringue para encerrar o segundoassalto e acordar o Duro na Queda com um balde de água gelada e umasérie de tapas na cara. "Ainda falta um assalto. Levanta porra!"Gritava o Dom Narigudo de com as duas mãos apoiadas no ringue e obafo de mofo na cara do fora de órbita Duro na Queda. Os gritos demarmelada eram abafados pelos urros de 'mata, mata, mata' vindos dotorcedores alucinados com a perfeição plástica do golpe das PernasVoadoras.

Depois de muita água na cara, e um pouco de cocaína, Duro na Quedaconseguiu se equilibrar nas duas pernas para cair na hora certa. Seconseguisse ver a cara com que Dom Narigudo o encarava cairia antesmesmo de ter levantado. A luta recomeçou com o coro de fora doringue pedindo: "Voadora! Voadora! Voadora!" Pernas Voadorasestava louco para satisfazer a vontade do povo. Deu três passos paratrás, pegou embalo, fez pose de Liu Kang e acertou Duro na Queda nopeito. Ele voou para trás como um saco de areia arremessado parafora do caminhão. Dom Narigudo abriu um sorriso de orelha a orelha ecomeçou a olhar para os lados como se ele fosse o ganhador. Umestouro arrombou a porta do quarto de cima, mas os barulhos davitória de Pernas Voadoras não deixaram ninguém perceber que oPeito de Aço tinha ganhado sobrevida e carregava uma doze nas mãos.Ele deu dois tiros na direção de Dom Narigudo e viu um corredor degente caindo se abrir entre os dois. O sangue dos acertados espirrouem Dom Narigudo, que sacou uma .44 e mandou duas azeitonas queexplodiram no peito de Duro na Queda. Dom Narigudo se aproximou eainda deu mais dois tiros na cara dele antes de sair pela porta dosfundos.

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