Eu o deixei partir

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Agora começa minha saga com datas, as quais nunca esqueci. O tempo não me deixou esquece-las.

Era uma terça-feira de junho, para ser exata dia 24, ensaiávamos uma quadrilha que apresentaríamos no sábado, mas faltava um cavalheiro para uma das meninas. Ao longe avistei alguém e sem saber quem era pronunciei as palavras que mudariam o ruma da minha vida.

- Ei moço, vem dançar com a gente. Precisamos de mais um para formar um par.

Não é que ele veio, e dançou. Não comigo, mas segundo ele, os olhos deles estavam voltados para mim e eu sinceramente nem notei sua presença naquele dia. Só fui reparar no sábado mesmo. 

Todos estavam lindos em seus trajes caipiras e eu era a noiva, com bochechas caprichadas no blush, cheia de bolinhas pretas e dois rabos de cabelo (a famosa maria chiquinha). A festa acabou por volta das 22:00 horas e resolvi sair um pouco na rua, ver o movimento. Não, não fui daquele jeito. Passei em casa tirei a maquiagem e troquei de roupa. Sim, eu sai de maria chiquinha, mas isso não impediu que ele se aproxima-se e pedi-se para ficar comigo. Eu achei que ele queria ficar com a menina que dançou com ele e que estava comigo naquela noite, mas não o assunto era comigo mesmo e eu aceitei. 

No dia seguinte combinamos de sair novamente, e lá estávamos nós. O pedido de namoro foi feito e eu aceitei. Meu primeiro namorado e o qual eu jamais esqueceria, a história é longa mas em algum momento vocês irão entender o motivo pelo qual dediquei um capitulo inteiro a ele. Ah um grande amor.

Tudo corria bem entre nós. Ele sempre ciumento, mas eu também era. Eu saia para fora do portão e o sensor dele logo me encontrava aonde quer que eu estivesse a qualquer hora do dia. Isso nunca me incomodou. 

Aparentemente meus pais gostavam dele, mas nunca soube ao certo os sentimentos deles. Todos pareciam se gostam mutuamente, ele com minha família e minha família com ele. Mas eu nunca conheci a família dele, não deu tempo. Eu o deixei partir ou eu o mandei embora, sem nunca ter conhecido sua descendência.

Confesso que os sonhos dele, me assustavam. Casamento, filhos, faculdade, casa. Aos seus olhos nossa vida estava traçada, e isso me assustou. Eu tinha apenas 14 anos, como teria maturidade para assuntos tão sérios como esses.  

Dia 04 de Agosto foi o dia em que sai com namorado e voltei solteira. Até hoje não consigo entender o porque. Porque terminei com ele? porque quis ficar sozinha?, perguntas que nunca consegui responder. Nunca consegui entender porque fiz isso. 

Na manha seguinte, o telefone tocou bem cedo e uma voz implorava para que eu reconsidera-se, mas não voltei atrás na minha decisão. Estava convicta do que queria e nem ao menos sabia porque. Hoje penso ser apenas o medo. Medo de amar, de me entregar aos sonhos que ele tinha e nunca saber como seria ter encontrado outra pessoa. Não fui capaz.

Parece piada, mas fiquei de castigo por isso. Minha mãe me ensinou que não devia falar acabou, que eu deveria falar a ele para darmos um tempo. Segundo ela, dessa forma eu poderia reconsiderar. Mas acho que já era tarde demais. 

A cidade inteira estava em festa, tudo fechado. Por isso levou alguns dias para nos falarmos novamente. 

Era dia 08 de Agosto, uma quinta-feira qualquer, fui chamada na direção como se tivesse feito algo, mas quando cheguei apenas recebi um buque de rosas vermelhas, com um cartão lindo "Ainda penso em você" e no verso uma letra linda dizendo que sabia que eu ainda o amava e devia dar mais uma chance para nós. Guardei o cartão por muito tempo, muito tempo mesmo, mas ele acabou desaparecendo, ou desapareceram com ele. Nunca mais gostei de rosas, elas sempre me lembravam ele. E de novo o medo me abateu.

Chamei-o para conversar, e pedi a ele que me desse um tempo, mas a resposta que tive não foi a que eu esperava.

- Tempo não existe, se você quer terminar, vamos terminar.

E assim eu o deixei ir embora. Deixei meu grande e unica amor partir e nunca mais o veria, até se passar nove anos do nosso termino. Como pude deixa-lo ir. Um novo fracasso para o meu acervo, mas esse eu carregaria por todo a minha vida, levando a mais fracassos ainda.

Em pouco tempo depois perdi meu avô paterno, o único com o qual sonhei dançar um dia. A valsa dos 15 anos, a do casamento, da formatura. E enquanto os meus sonhos com meu avô eram enterrados junto com ele, eu apenas queria que aquele amor estivesse comigo. Que ele estivesse ali para me abraçar, para que eu me senti-se protegida, porém nada. Eu estava só, apenas a depressão me encontrou. 

Ela é minha amiga a anos, convivemos o dia todo juntas e ninguém percebe. Aprendi com a vida a esconde-la da sociedade e da minha família. Chorei muito. Na verdade passei a chorar todos os dias, mas nunca ninguém percebeu.

Tudo que eu sabia, eram as noticias que chegavam para mim. "Ele tentou se matar", "Ele tacou fogo em si mesmo, por causa de você". E eu me sentia culpada, sem saber onde encontra-lo e de castigo sem poder sair. Um amigo dele, chegou a me falar que ele havia ido embora e que estava namorando. "Que bom" - pensei comigo - Ele seguiu com a vida, exatamente como me falou e eu, eu não sabia o que ia fazer. Sim ele sempre foi meu grande amor e eu fiquei iludida com as coisas que os outros falavam dele para mim. 

Eu o deixei partir e me arrependeria disso amargamente pelo resto de minha vida. Eu fracassei novamente, e perdi aquele que foi meu grande amor. Só restava umas duas fotos e o cartão que veio com as rosas, guardados com muito carinho até meus 26 anos, quando sumiram.

Eu o deixei partir, e não tive coragem de ir atras e traze-lo de volta. A coragem que esperavam de mim no meu nascimento, nunca existiu. O medo me tornou em um fracasso.

Em busca da felicidadeWhere stories live. Discover now