Túnel escuro

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Maya

Claro que fui demitida, assim que meu chefe porco chegou na lanchonete, eu estava irritada e não havia um tostão no caixa. Pelo menos ele acreditou que foi um assalto, vai que aquele homem louco cismasse que roubei alguma coisa?

Merda! Que inferno! Como manteria a casa? Se não fosse por mim, nem comida na mesa teríamos.

Fui demitida por não ter chamado a polícia, mas como poderia fazer isso?

Minha colega de trabalho estava em seu turno na hora do assalto, uma boate totalmente fora da lei. Impossível a polícia ir a lanchonete e não querer subir na boate. Era no espaço de cima.

Não interessava que eu não era amiga daquela mulher, não poderia fazer isso.

Aquele bastardo tinha fodido com a minha vida! Quem daria emprego para uma menina de dezessete anos, que mora em um dos bairros mais pobres de Chicago?

Meus estudos eram o meu segundo maior foco, fui bem na escola minha vida toda, tentei ingressar em uma faculdade e graças ao bom Deus, consegui. Se não, seria o fim do meu futuro. Jamais conseguiria pagar uma faculdade particular.

Infelizmente, até agora não havia conseguido botar meus pais em um bairro decente. Não que eles ajudassem... Muito pelo contrário. Meu pai gastava toda a renda que conseguia em bebidas e outras coisas mais. E minha mãe com seu trabalho artesanal mal vendia algumas coisinhas.

Não podia me dar ao luxo de ficar desempregada.

Por isso hoje não voltaria para o meu "lar", sexta-feira era o pior dia naquela casa.

Já haviam dois dias que estava nessa...Não conseguia um novo emprego e minha mãe gritava comigo assim que eu passava pela porta, chamando-me de imprestável.

Hoje dormiria na casa da minha única amiga. Daniela, que é casada com Rick, que por consequência, virou meu amigo também.

Peguei as chaves da casa dela e entrei no prédio. Daniela e eu tínhamos uma grande diferença de renda, era só olhar ao meu redor. O bairro totalmente diferente do meu, parecia que tinha saído de Chicago.

Agradeci mentalmente por ela ter me dado cópias das chaves. Já era tarde e não queria acordar ninguém. Precisava de um banho, jantar e cama.

Subi o elevador de olhos fechados, lembrando da gritaria de hoje.

"Você não serve para nada mesmo Maya, até ser demitida daquele emprego ridículo conseguiu ser!"

As palavras de minha mãe ecoaram e lágrimas rolaram por meus olhos.

Não conseguia entender o que fiz de tão mal para os dois. Segundo minha avó, (que morreu quando eu tinha doze anos) nunca dei muito trabalho aos meus pais e ela gostava de cuidar de mim.

Meu pai era alcoólatra há anos e a única coisa que minha mãe fazia era chorar, brigar e se isolar da civilização.

O trabalho de manter a casa era meu desde que arrumei meu primeiro emprego, minha mãe dizia que eu já era grande o suficiente para "ajudar em casa", maravilha se fosse só isso! Seu trabalho artesanal mal dava alguns trocados, e o máximo que eu conseguia oferecer aos meus pais, era uma casinha apertada, caindo aos pedaços e comida simples na mesa.

Ouvi a voz eletrônica do elevador e pulei de susto. Com um sorriso amargo e os olhos molhados saí em direção ao apartamento.

Abri a porta e as luzes estavam acessas, Daniela estava sentada em uma poltrona creme, dava a visão perfeita da porta. Usava um robe branco e assim que me viu abriu um largo sorriso triste.

Minha Segunda Chance (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora