Memórias

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Maya

Eu me lembrava, lembrava nitidamente de quando o inferno começou. Se houvesse um real purgatório na vida, eu já havia passado por ele.

Minha família estruturada e feliz, passara rapidamente da felicidade a desgraça. Tudo desmoronou como se fosse feito de areia, e talvez fosse. O único selante de tudo era meu irmão, Joseph. O primeiro filho, o irmão mais velho, o sensato. Ele era o preferido de meus pais, sempre fora nítido, mas eu nunca havia me importado, não havia como sentir inveja de uma pessoa tão amorosa. Seria burrice ter raiva do meu maior protetor.

Ele era o meu preferido também, era. Joseph havia deixado a minha família, havia me deixado por um mundo de aventuras ilícitas. E eu senti inveja, por que ele podia se livrar de todas as amarras e eu não? Mas, tão rápido quanto a inveja veio, ela se foi. Joseph nunca havia ficado livre, não com tanta desgraça que deixara para trás. Eu o sentia por perto.

Arrependimentos eram irrelevantes, eu não o perdoava por ter me passado o fardo de cuidar dos nossos pais. Nunca perdoaria, era o que eu pensava.

" Quem ele acha que é porra? Como ele pode me deixar sozinha com esses dois loucos? Joseph seu merda, seu covarde!

Minha maior vontade era sacudir o corpo de Joseph até que ele voltasse a vida, mas eu não podia, não podia porque eles não diziam o que tinham feito com o corpo do meu irmão, provavelmente havia sido queimado em algum beco fedorento e escuro.

Eu gostaria de pensar que ele merecia tal fim. Mas não conseguia, como podia culpá-lo de fugir de algo que eu mesma já pensara em lagar?

Eu tinha respostas para as minhas perguntas, só não queria aceitá-las. Joseph foi embora quando tudo ainda estava perfeito. Quando ainda éramos uma família, ele era o culpado de tudo, de toda a minha desgraça, mas eu ainda o amava. Eu ainda o amava com uma força incontrolável e sentia sua falta.

No momento que a notícia foi dada, eu soube que só poderia esperar o pior de Dianna e Nathan.

Eu quis ensinar ao meu irmão de que não se abandona aqueles que se ama, não se joga fora a força que possuímos dentro de nós mesmos. Era preciso lutar, e eu lutaria.

Eu não sentia nenhum vazio, nenhuma dor exorbitante, eu sentia raiva, raiva por tê-lo perdido por algo tão banal, por entender de uma vez por todas que meu irmão não era exemplo de nada, ele não era mais evoluído que qualquer outra pessoa. Era fraco e inconsequente. Eu não seria igual. Não! Não! Nunca. Eu não faria escolhas erradas, eu não me descontrolaria. Eu aguentaria até onde pudesse.

Joseph havia me tornado forte com a sua morte, mas ao mesmo tempo, raivosa. Quando as desgraças vieram, eu não pude culpá-lo por ter ido embora, talvez ele já soubesse o monstro que Nathan era. Talvez ele soubesse que nosso pai era muito mais fraco que ele. Talvez ele soubesse que não teria uma vida emocionante cuidando de dois desequilibrados. Talvez ele confiasse em mim. Só talvez. Tantas perguntas...Tantos questionamentos.

E nada importava.

Nada importava mais.

Porque eu estava desmoronando.

Minha família estava caída e só eu poderia segurá-los. E foi o que eu fiz desde o dia que o meu protetor se foi. Passei a tentar proteger meus pais deles mesmos."

Perdera a conta de quantas vezes tivera pensamentos desconexos e recheados de pura fúria. Demorara anos para aceitar que Joseph não havia feito nada mais do que escolher um caminho. Ele tinha aquele direito, era a vida dele. Eu não havia perdido tanto quanto imaginava, pelo menos ainda estava viva. Ainda tinha uma chance de redenção, de felicidade. Joseph nunca mais a teria.

Minha Segunda Chance (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora