Acerto de contas

141 22 10
                                    


Maya

Eu não precisava perguntar a minha mãe o que havia acontecido, era bastante claro em suas roupas rasgadas, olhos fundos e unhas quebradas.

Por um momento, permaneci apenas observando o cenário a minha volta. Era bem diferente do meu último sequestro. O ambiente não tinha luz e nenhuma ventilação adequada. Tudo era iluminado por lampiões antigos, criando um ar mais sombrio do que se esperava de um galpão.

Minha mãe parecia fazer a mesma observação que eu, e aos poucos tentei me aproximar. Evitei tocá-la, já que ouvira alguns relatos nas aulas de autodefesa de vítimas de abuso sexual, nenhuma delas sentia-se confortável em relação ao toque.

— Maya... Você não deveria estar aqui – ela disse, enquanto olhava fixamente para minha barriga proeminente.

Sim, ela estava certa. Eu sabia que era completamente e totalmente irresponsável pelo risco que estava correndo, mas também sabia o que escolhas erradas eram capazes de fazer. E deixar Dianna contando com a própria sorte, nunca seria certo para mim.

— Você deu tudo de si mesma. Tudo que tinha e não tinha.

Ela sorriu, mas não como se estivesse feliz pelo que eu havia dito e sim, extremamente triste. Minha teoria logo se provou verdadeira, quando lágrimas escorreram de seus olhos.

— Eu dei tudo que tinha, meu amor. Mas nunca foi e nunca será o que você mereceu. Filha, o que você passou durante todos esses anos com Nathan, não é a forma que uma mãe deseja que sua filha cresça. Eu nunca quis que você perdesse sua pureza tão cedo, que visse o pior lado da vida de forma tão abrupta. Penso que se eu tivesse priorizado o que realmente importava, você teria melhores chances, menos sofrimento e muito mais sonhos a seguir. Você está certa, eu dei tudo de mim, mas não para quem merecia. Fiquei tão focada em salvar uma ideia de um casamento, que um dia fora bom, que não fui capaz de olhar o que estava bem a minha frente. A pessoa que realmente precisava de mim, você. Eu sei o que está fazendo, e por mais que me sinta grata...Se algo lhe acontecer, só poderei me sentir culpada.

Desde de criança, me considerava uma pessoa esperta. Sempre pronta para os principais imprevistos e perguntas indesejáveis. Nunca falhava em responder o que muitos consideravam difícil. Porém, Dianna nunca foi uma pessoa de grandes discursos e na verdade, nem de agradecimentos. E ali, naquele instante, via-me sem reação, sem resposta e sem raciocínio lógico. Como poderia contestar aquilo? Ainda mais agora que eu seria mãe?

Eu simplesmente não podia.

Não sabia se eram os hormônios, ou apenas a tristeza em saber que ela estava certa, mas lágrimas rolaram de meus olhos, sem permissão alguma. Ao contrário do que imaginei, minha mãe não se manteve distante, esticou os braços em minha direção e prontamente, aceitei seu abraço.

Infelizmente, não durou muito. Logo ouvimos o som de passos se aproximando. Dianna pegou o lampião antigo que estava no chão e logo vimos que se tratava de Nathan.

— Finalmente a família está reunida! — riu. — As duas mulheres da minha vida... Prontas para pagarem por seus pecados. As duas mulheres responsáveis pelas desgraças de todos esses anos, finalmente aqui...Presas e ao meu dispor. Sabem, quando estava lá confinado, pensei e repensei nas opções que tinha; Podia me tornar um de meus colegas de cela, loucos e bitolados na bíblia, mortos de arrependimento falso e desejos obscuros... Ou, poderia ser esperto e pensar em como fazer aqueles que mereciam, pagar. Não demorou muito tempo para me decidir – sorriu novamente. — Vocês vão adorar tudo que preparei para este momento tão íntimo.

Minha Segunda Chance (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora