Capítulo 13

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Niall's P.O.V.

Já estava de saco cheio desse ensaio maldito. A vontade de ir a ele era pouca, a de ficar e continuar ensaiando era nenhuma. Mas eu devia aguentar até o fim, Anabel já estava com raiva pelo meu atraso e pelo comentário, se eu fosse embora sem dizer nada ela ficaria louca. E eu nem podia inventar uma desculpa como "tenho compromisso com meus pais", porque ela sabia que os dois estavam trabalhando e que nosso relacionamento não chega a ponto de eu deixar de estar fora de casa só por eles. Então só me restava fica e esperar terminar, o que me deixava ansioso. Precisava de um cigarro, mas tinha certeza que nenhum dos presentes tinha. São tão quadrados quanto Anabel.

Assim que a pausa foi dada, esperei a sala esvaziar para ir procurar algum lugar que vendesse pelo menos uma cigarrilha, ainda que esse troço viesse a feder mais que cocô de gato. Não tinha noção nem de por onde começar, não conhecia aquele pedaço de Ealing. Segui em frente na rua em que Julia mora, olhando o tempo todo para os dois lados, para ver se achava um pé-sujo qualquer que estivesse aberto no sábado, quase às duas da tarde. A droga da rua não acabava, não aparecia nenhum "boteco do John", nada. Que porra de lugar eu tinha me enfiado por causa desse teatro?!

Virei na primeira esquerda, iria dar a volta no quarteirão. Pro meu azar, também não tinha nenhum botequim ou padaria aberta. Virei outra curva, seguindo mais uma rua quase sem fim. E dessa vez me ferrei, porque a rua era, além de enorme, sem saída. Estava começando a sentir sede e calor, só batia um ventinho que nem refrescava. Olhei as horas em meu celular, já fazia dez minutos, mais ou menos, que eu tinha saído da casa de Julia. A "pausa pra acalmar os ânimos" – que aposto que ganhou esse nome por minha causa ou de Anabel – já deveria estar acabando e eu não tinha conseguido a porra do cigarro. Voltei todo o caminho, com raiva por ter andado como um otário, perdido tempo livre e ainda ter que me segurar até o fim do ensaio.

Cheguei até a casa de Julia e, bem no gramado, confirmei a ideia de que as "certinhas" são as piores. Anabel estava aos beijos com Zayn, sem se importar se todos viriam. Estava claro o motivo de ela não querer pôr o amiguinho no assunto mais cedo. Mas eu não tinha nada com isso, não ia ficar dando chiliquinhos – até porque ela é quem gosta de fazer isso, ainda não entendo qual a graça. Ignorei a cena, entrando novamente na casa de Julia. A sala estava meio cheia, meio vazia, como quando eu chegara. Emily e seu namorado continuavam sentados no sofá menor, agora entretidos em algo que viam no celular dela. Todos pareciam envolvidos demais em seus próprios interesses, não deviam nem ter conhecimento sobre o que se passava na entrada da casa, o que me deixou revoltado. Se eu estivesse pelado, dançando Y.M.C.A., todo mundo iria ver.

Preferi mais uma vez deixar a imagem de Anabel e Zayn de lado. Mesmo que bem pouco, assumo que me incomodava vê-la com ele após ter me dispensado. Dava a impressão que havia me trocado por ele, logo ele, que é mais novo, mais idiota e ainda é amigo do irmão dela. Devia ser tão idiota quanto o garoto de treze anos, decerto. Só que eu não tinha que ficar remoendo isso, afinal, eu era o que dela? Certo, nada. Absolutamente nada. Então por que inferno me incomodava tanto o simples fato de ela não estar comigo agora? Era orgulho, óbvio, só podia ser! Eu ainda não conseguia admitir que tinha tomado um "rala peito" da quadrada, era isso. Enterrado até o pescoço em minha certeza, fui até a cozinha, pois ainda sentia sede por conta da caminhada inútil. Peguei um dos copos descartáveis disponíveis em cima da mesa, enchi com o refrigerante que ainda restava na garrafa e me saciei rapidamente em poucos goles. Vi Julia surgir por trás do copo branco quando o abaixei.

- Viu a Bel por aí? – perguntou, espetando o lápis que usava no coque que acabara de fazer.

- E eu devia mesmo saber? – falei em tom de indiferença. Julia não era como Anabel, parecia nem se incomodar com alfinetadas do tipo.

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