Capítulo 29

10 1 0
                                    

Anabel's P.O.V.

"Eu teria minha liberdade integral de volta", eu disse. Que ingenuidade a minha. Mal haviam se passado algumas horas desde a última vez que nos vimos, e eu já estava encolhida em minha cama, pensando em Niall. Eu estava livre apenas em corpo, pois minha mente estava entregue em suas mãos, ainda que ele não soubesse. Não por insistência ou falta de sensatez; tínhamos, sim, brigado, eu continuava bastante magoada, mas ele não podia ficar sozinho. Quem em sã consciência iria dar as costas a alguém que adora tanto, mesmo que a contragosto? Eu não conseguia ignorar o que sabia sobre Niall, justo agora que o passado e o presente dele se fundiam de forma assombrosa. Não seria eu mesma, se o fizesse.

Entretanto, somente a minha bondade não consertaria tudo. Nem o faria querer me ver com a mesma intensidade que eu o queria. Por mais que minhas intenções fossem as melhores, eu devia respeitar sua decisão de ficar sozinho, pelo menos enquanto eu soubesse ser saudável para ele. E durante esse pequeno espaço de tempo – que mais parecia infinito –, íamos nos afastando sem que eu pudesse sequer correr atrás. Essa era a única liberdade que eu tinha, e nem de longe era a que eu desejava. Uma liberdade falsa, visto que eu continuava presa à sua imagem. Uma ilusão de liberdade, que funcionou apenas durante as primeiras horas para diminuir o impacto da briga. Assim que a farsa acabou, restou apenas a solidão.

No fundo dos meus pensamentos, eu implorava para que Deus, o Universo, as forças místicas ou qualquer tipo de proteção caísse sobre os ombros de Niall e o tirasse desse mar de tristeza em que ele estava preso. E o trouxesse de volta para mim, para que eu visse de perto suas feridas sararem. Eu pedia pela sua felicidade. Não era algo impossível. Caso ela valesse as minhas noites de sono, pagaria a partir deste sábado. Sonhar não seria um luxo ao qual me daria, devido às circunstâncias.

Poderia parecer exagero meu, não me importava. Desde que somente ocorresse no meu íntimo, não seria nenhum problema. Eu sempre soube que não era tão forte assim, para aguentar as porradas que a vida dá sem pensar ao menos uma vez que era minha culpa. Dentro de mim, precisava desabar. Precisava ser sincera comigo mesma, para ter firmeza suficiente para mentir para os outros. Eu poderia estar um trapo, no interior, contudo, no exterior, estava intacta. Dessa forma, não havia necessidade de buscar ajuda com qualquer pessoa que fosse. Um monólogo me traz tantas respostas quanto um diálogo, era hora de pô-lo à prova.

Assim, no domingo, tudo que fiz foi ficar em meu quarto, longe de contato humano, testando meus limites. Eu estava a um passo de perder o controle de mim mesma e chorar por horas a fio, por mim, por Nialler, por nós dois... Havia algo em mim que não conseguia se manter apático a tudo que acontecia, e eu precisava doutriná-lo. Tinha que me obrigar a não reagir antes do tempo à vontade de me ater a qualquer esperança de que nos acertaríamos. Devia ser fria, esquecer o lado pessoal e me focar no profissional. Mesmo que o Apocalipse estivesse acontecendo, ainda havia a peça e as últimas provas. Não podia vacilar, deixar outras pessoas e meu futuro na mão. Por mais que Niall estivesse recebendo destaque nos últimos dias, ele não era o único no meu mundo.

Então, na madrugada de domingo para segunda, me rendi à exaustão e adormeci. Um sono pesado, atormentado, sem sonho. Suficiente para que eu suportasse algumas horas de tortura dentro da sala de aula, na presença distante de Niall. Todavia, ele não estava lá quando cheguei. Nem apareceu no segundo horário, terceiro e todos os outros, me deixando presa entre o misto de conforto e frustração. A falta de Nialler me aliviava e magoava simultaneamente. Eu queria vê-lo, mas não o encarar por vergonha. Queria tê-lo perto, mas não me deixaria aproximar por medo. Queria exatamente que não estivesse ali, mas morria de saudade do seu sorriso. Eu queria tudo e não queria nada.

Theater(N.H)Onde histórias criam vida. Descubra agora