CAPÍTULO CATORZE: UMA AVE TRAMA A MINHA MORTE

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Eu admito: Precisava de ajuda. Tenzin estava preso em uma jaula com brilho fluorescente. Não tinha nada para me defender.
Kevin, Liah, Tenzin e eu estavamos sozinhos no final do corredor, com um corpo morto e cercados pelos Cinco Mestres das Tribos.
Delfim parecia ainda mais velho do que eu me lembrava. Seus cabelos grisalhos estavam longos e despenteados. Suas vestes de Mestre de Tribo caíam folgadamente sobre ele. O manto dele estava escorregando de seu ombro esquerdo. O Mestre das Águias, por outro lado, parecia bem descansado e pronto para um bom jogo de Torture-o-Magnus. Ele usava o manto branco fresco e carregava novos prendedores nos cabelos. Seu colar de prata em forma de águia brilhava contra o cordão. Seu cabelo liso estava caído, provavelmente para cobrir seu rosto feio. Suas roupas eram tão brancas que ele parecia um grande sorveteiro malvado.
Ele sorriu, como se ele estivesse feliz em me ver, o que talvez teria sido convincente, exceto que seus olhos estavam injetados, brilhando com ódio.
- Delfim, ouça. - Eu disse. - Thotenic é um traidor. Ele fez isso!
Aquilo deveria ter soado um absurdo, mas quanto mais pensava, mais parecia verdade.
- Você vê? - Thotenic exclamou. - Como eu previ, o mortal tentaria por a culpa em mim.
- O quê? - Eu disse. - Não!
A ave voltou a examinar Tenzin, que ainda estava congelado em sua jaula brilhante.
- Magnus Khalid, você afirma ser inocente. Mas ainda sim encontramos você aqui, diante de um membro da Sociedade dos Cinco assassinado. E o que temos aqui? Você, com as mãos sujas de sangue! Felizmente, o encontramos antes de continuar os assassinatos. E quanto a esse camaleão, meu avô também me ensinou muitas habilidades de tormento, que foram bastante... Eficazes. Eu sempre quis experimentar.
Delfim torceu o nariz em desagrado, mas eu não poderia dizer se era por minha causa ou de Thotenic.
- Magnus Khalid - Disse ele. - Eu confiei em você. Eu acreditei em suas palavras. Mas agora eu encontro você diante de um jovem crocodilo morto, que descobrimos recentemente estar sumido do dormitório.
Sobek rosnou.
- Mesmo para vocês, humanos, este foi um ato imprudente de agressão. Vocês mataram um membro da minha Tribo. Vocês não sairão dessa vivos.
Eu olhei para o sangue em minhas mãos
- Não é assim. Eu só o encontrei...
Eu parei. Eu não poderia dizer-lhe que tinha ouvido uma voz. Mesmo se eles acreditasse em mim, isso podia colocar o ser em perigo.
Delfim assentiu como se eu tivesse confessado. E para minha surpresa, Nagato pareceu um pouco decepcionado com isso.
- Como eu pensei. - Pronunciou o Mestre dos Camaleões. - Delfim me assegurou que vocês eram servos honrosos da Sociedade dos Cinco. Em vez disso, eu descubro que vocês não passam de assassinos.
- Liah. - Eu me virei para ela. - Você tem que ouvir. Você está em perigo. Thotenic está trabalhando para si mesmo. Ele vai te matar.
A ave de rapina fez um bom trabalho em parecer ofendido.
- Por que eu iria querer prejudicá-la? Eu sei que ela é inocente. Não é culpa dela que você tem promessas ardilosas. - Ele estendeu a mão para Liah. - Estou contente de vê-la segura, garota. Você não tem culpa da decisão maligna desse humano, tentando suavizar em sua atitude como criminoso. Venha para longe do traidor. Venha para sua Tribo comigo.
Liah hesitou.
- Eu não... Eu não...
- Você está confusa - Disse Sobek. - Isso é natural. Você viu Magnus Khalid assassinar alguém e entrou em pânico.
O Mestre dos Leões bufou.
- E ao invés de destrui-lo, deixou impune. Covarde.
Lia olhou para Kenpachi com ódio e me estudou com cautela.
- Lembre-se do por que eu estava aqui - Implorei. - Liah... eu...
As palavras ficaram presas na minha garganta. Seus olhos se endureceram como âmbar.
- Eu não conheço você - Ela murmurou. - Sinto muito.
Thotenic sorriu.
- Claro que não, garota. Você não tem nada com traidores. Agora, vamos levar este jovem mortal herege para o Conselho dos Cinco. Onde lhe será dado um julgamento justo - A ave se virou para mim, os olhos ardendo em triunfo - E, em seguida, executados.
Enquanto Liah caminhava até os Mestres das Tribos, eu revi minha situação e não gostei de sua resolução. Liah estava convencida de que nós éramos inimigos. Eu encontrará um crocodilo morto, tinha seu sangue em minhas mãos e cinco dos mais poderosos deuses menores, Os Mestres das Tribos, estavam prontos para nos prenderem, nos julgarem e nos executarem.
Não necessariamente nessa ordem.
Eu voltei para a parede no corredor sem saída. Sangue vermelho se espalhava em todas as direções pontilhadas. Eu não podia correr ou me esconder, sobrando-me duas opções: render-me ou lutar.
Os olhos injetados de Thotenic brilharam.
- Sinta-se à vontade para resistir, Khalid. O uso da força letal tornaria o meu trabalho muito mais fácil.
- Não - As narinas de Sobek se inflaram. - Quem irá destrui-lo será eu!
- Thotenic e Sobek, parem - Delfim disse cansado, e pareceu extremamente surpreso com a ave recuando. - Magnus, não seja tolo. Renda-se agora.
Há algumas horas atrás, ele realmente parecera confiar em mim. Agora ele parecia triste e cansado, como se a minha execução fosse uma necessidade desagradável. Liah estava ao lado de Sobek e Kenpachi. Ela olhava cautelosamente para Thotenic, como se ela pudesse sentir algo de mal sobre ele.
Se eu pudesse usar isso, possivelmente compraria algum tempo...
- Qual é o seu plano, Thotenic? - Eu perguntei.
O Mestre riu.
- Seguir você até aqui para impedi-lo de continuar a matar. Parece um bom plano.
Ele tentou lançar um olhar de desprezo, mas um sorriso puxou-lhe os cantos do bico, como se estivéssemos partilhando uma piada particular.
- Você não veio para me impedir - Eu imaginei. - Você fez isso. E estava contando conosco para encontrarmos... ele. - Eu apontei para o crocodilo destruído. - E nos culpar.
- Chega, Magnus. - Falou Nagato em um tom monótono.
Eu não entendia o motivo dele parecer tão apático, mas Sobek parecia bastante irritado pelos dois. Pelo ódio nos olhos do Mestre das Águias, eu pude dizer que eu atingi bem no alvo.
- É isso, não é? - Eu disse. - Você iria nos culpar apenas para nos ver mortos? Isso é insano!
O corpo da águia irrompeu em uma energia sinistra.
- Mortal, você não tem idéia do que está dizendo.
- Sim, humano! - Kenpachi interrompeu, bocejando. - Thotenic é um herói da Sociedade dos Cinco. Mesmo que seja um fracote e covarde. - Thotenic rosnou, mas Kenpachi continuou: - Ele mesmo salvou grande parte dos deuses menores à cinco mil anos atrás.
Por um momento eu fiquei chocado demais para falar.
- Isso... não pode ser verdade.
- Você deveria fazer sua lição de casa, mortal. - Thotenic fixou seus olhos em mim, e estranhamente senti conflito neles.
Eu me pronunciei:
- Então você combateu os humanos antigos, e talvez até mesmo o assassinou friamente.
Eu tentei me concentrar nisso. Eu podia ver totalmente o Mestre das Águias como um antigo guerreiro sanguinário.
- Mas se você é um herói...
- Por que eu me oponho à vocês? - A águia olhou para os outros Mestres como se eu estivesse perguntado algo obviamente estúpido. - Porque vocês, humanos, destruíram a nossa civilização! No momento em que o Egito caiu e nós fomos banidos para o subterrâneo, eu percebi a verdade. Os antigos laços devem ser destruídos. E aqueles que assassinam deuses menores devem ser... julgados.
Eu balancei minha cabeça.
- Eu ouvi você falar pelos corredores. Delfim, Liah, esse imbecil está mentindo. Ele vai matar todos vocês.
Delfim olhou para mim numa espécie de torpor.
- Chega - Disse ele. - Venha pacificamente, Magnus Khalid, ou será destruído.
Eu dei a Liah mais um olhar suplicante. Eu podia ver a dúvida nos olhos dela, mas ela não estava em qualquer condição de me ajudar. Ela tinha acabado de me ver diante de um corpo sem vida. Ela queria acreditar que a Sociedade dos Cinco ainda era sua casa e que Thotenic e os Mestres eram os mocinhos.
Eu levantei meus punhos.
- Eu não vou pacificamente.
Thotenic assentiu.
- Então, será a destruição.
Os olhos de Sobek se dilataram.
- Você se atreve a nos enfrentar? Senti um formigamento forte nos músculos. Eu olhei para minhas mãos com espanto. Eu nunca senti tanto poder vir a mim tão facilmente.
- Vocês vão me matar de qualquer jeito - Eu disse a ele.
Meu corpo começou a brilhar. Eu golpeei a parede esquerda e a pulverizei em pedaços de pedras do Castelo, mandando blocos de calcário voando pelo ar.
Nagato levantou um escudo de energia para desviar os cacos. Os olhos de Liah se arregalaram. Eu sabia que provavelmente estava aterrorizando-a e convencendo-a de que era o cara mau, mas tinha que protegê-la. Eu não poderia deixar Thotenic levá-la para longe [É, eu sei, Liah. Mas agora que estou vendo seu sorrisinho, penso que deveria ter deixado você com eles! Ai! Por quê você sempre me bate? Ai! Ai!]
- Não tem que ser assim - Eu disse. - Não quero brigar com vocês, mas Thotenic é um traidor. Saiam daqui. Deixe-me lidar com ele.
A ave sorriu, como se tivesse gostado daquilo.
- Lidar comigo? Quão confiante! De qualquer maneira, Mestres, deixe o humano tentar. Eu vou ter a certeza de pegar seus pedaços quando terminar.
Delfim começou a dizer:
- Thotenic, não. Não é apenas sua decisão...
Mas o Mestre das Águias não esperou.
Antes que Delfim terminssse sua frase, a ave agarrou o punho de sua espada de esgrima. Imediatamente, meus instintos de batalha tinham assumido, mas aquilo foi totalmente diferente. Thotenic deu um passo à frente e se moveu com tanta velocidade que apenas consegui enxergar lampejos de sua imagem posterior, embora não tivesse certeza se estava vendo com clareza.
Segundos depois, o Mestre das Águias estava às minhas costas, embainhando sua espada. Senti meu ombro esquerdo explodir em dor e meu corpo fraquejou. Sangue jorrou de meu ferimento como um gêiser. Minha visão ficou turva.
Olhei para o rosto aterrorizado de Liah e dobrei meus joelhos. Dor assolava o meu corpo. Meu sangue molhava as pedras do Castelo. Meus membros se encolheram. Eu podia sentir meu coração desacelerando e minha visão escurecendo. O gosto de sangue encheu minha boca.
Liah gritou.
- Pare! Isso é demais!
- Pelo contrário - Disse o Mestre das Águias, irritado. - Ele merece coisa pior. Mestres, vocês viram como esse mortal nos ameaçou. Ele deve ser destruído.
Liah tentou correr para mim, mas Delfim a deteve.
- Pare, Thotenic - Disse ele. - O humano pode ser contido de formas mais humanas.
- Humanas? Desde quando nós somos humanos?
Os dois Mestres travaram olhares intensos. Então eu mergulhei na escuridão.

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