Nós encontramos um corredor como nenhum outro no Subterrâneo depois de algum tempo de procura (e por sorte, nenhum terrorista explosivo e obssecado em arte tentou nos matar). Ele era redondo como um esgoto, construído de tijolos vermelhos e com barras de ferros espaçados a cada dois metros. Por curiosidade, eu invoquei fogo em minha mão esquerda e a luz clareou através do vão de uma das barras, mas não consegui enxergar nada. O brilho apenas revelou uma vasta escuridão. Eu pensei ter ouvido vozes do outro lado das traves, mas pode ter sido apenas minha imaginação misturada ao vento frio dos corredores.
Não achando lugar melhor, nós decidimos acampar ali mesmo. O túnel parecia ser uma parte mais antiga do Subterrâneo, e Tenzin decidiu que isso era um bom sinal.
- Devemos estar próximos da entrada na Tribo das Águias. - Disse ele, com um pouco mais de ânimo na voz desde que haviamos deixado o Covil do Shabti Estúpido de Argila. - Então, descansem um pouco. Vamos continuar na parte da manhã.
- Como sabemos quando é de manhã aqui? - Kevin perguntou, enrugando a testa em dúvida.
- Só descanse - O camaleão albino insistiu.
Ele não precisou pedir duas vezes para Liah. Ela começou a remexer furiosamente no interior de sua mochila e eu me lembrei de algo importante.
- Como sua bolsa consegue guardar tantas coisas sem aparentar carregar quase nada? - Eu questionei a felina. - Ela é mágica ou algo assim? Por acaso se chama Bessie?
Ela revirou os olhos.
- Não, seu burro. Ela se chama Rose. O arco é Bessie.
Eu a encarei com a expressão vazia.
- Sério?
- Claro que não, idiota! - Respondeu ela, dando um soco em meu braço. - Minha mochila foi tecida com linhas banhadas em altas concentrações de ka, então ela possui algumas propriedades mágicas. Estou resumindo, mas de qualquer modo, posso guardar qualquer coisa nela, na medida do possível.
- Tenho que admitir: Isso é muito legal. - Eu concordei. - Você pode guardar uma bazuca ai dentro?
Liah franziu a testa.
- O que é uma bazuca?
- Ah, cara... - Eu balancei a cabeça, perplexo. - Ah, isso mesmo. Esqueci que você nunca conheceu o Mundo Mortal. Bem, minha pequena aprendiz, uma bazuca...
Então eu comecei a explicar para Liah sobre a arma anti-tanque e os novos brinquedos militares que os humanos criaram. Tentei convencer Liah de que nós conseguimos grandes avanços na área de destruir coisas com a invenção de bombas nucleares, mas ela não pareceu tão impressionada.
- Cinco mil anos e vocês ainda lutam com armas primitivas.
Eu comecei protestar, mas a felina apenas deu de ombros e me ignorou. Ela puxou uma pilha de palha e alguns cobertores de sua mochila mágica, fez uma almofada para descanso e dividiu as peças de tecido entre nós.
Observei Liah com mais atenção. Ela podia estar tentando fingir parecer bem, mas seu rosto estava branco como cal e seu corpo tremia tanto que parecia estar prestes a congelar até a morte. O ferimento em seu ombro esquerdo havia parado de sangrar, mas o corte estava fumegando e tinha adquirido um tom esverdeado doentio.
E eu tinha quase certeza de que ferimentos não soltavam fumaça.
Mesmo debaixo de grossas cobertas, a felina estava encolhida de frio, mas sua testa estava coberta de suor. Ela também arquejava e se contorcia algumas vezes de tanta dor que sentia. Se não resolvessemos logo isso, o estado de Liah poderia piorar gravemente.
Eu fiz a única coisa que eu conseguia pensar. Eu aumentei a temperatura em meu corpo através de ka e passei meu braço direito envolta de seu pescoço para mantê-la aquecida.
Sim, ok, eu sei como isso soa. Agora, você deve estar pensando: Uhn, safadinho! Ou talvez: Seu sem-vergonha!
Honestamente, eu não estava tentando tirar proveito. Eu só estava tentando ajudar. Liah estava tão gelada que seu pelo chegou a vaporizar ao entrar em contato com minha pele. Mas admito, eu não estava pensando direito. [Tenzin, você ESTÁ com um sorriso malicioso!]
Liah não viu isso como ajuda. Ela me deu um soco forte no estômago, e eu fiz um som como um brinquedo estridente. Então ela se virou para o lado e começou a tossir asperamente. Eu não acho que se aproximar de mim fosse tão ruim assim.
Quando ela se concentrou em mim novamente, seus olhos brilharam com raiva, como nos velhos tempos.
- Não se atreva a me abraçar! - Ela conseguiu dizer.
- Eu não estava... - Eu gaguejei, rezando para não estar vermelho. - Eu não...
Depois de vários chutes e diversos xingamentos criativos, Liah finalmente concordou em apenas se aquecer em mim, mas me ameaçou de algo pior que a morte se eu tentasse algo.
Não que eu estivesse tentado.
Ela se aconchegou em meu ombro e apoiou sua cabeça em meu peito com certo receio.
Perto de nós, eu havia acendido uma fogueira, que estava enchendo o ar de fumaça. A luz das chamas se refletia em uma das barras de ferro. Estavamos em uma espécie de esgoto fechado, mas o lugar não parecia oferecer muita proteção. O vento estava forte. Não podiamos saber se era dia ou noite, pois a escuridão do Subterrâneo pareciam pregar peças em minha percepção.
Eu esfreguei minha cabeça latejante onde havia batido no esconderijo de Nectanebo Falso.
- Quanto tempo estivemos fora? - Eu perguntei a Liah.
Eu a encarei. Ela ainda tremia, respirava com dificuldade e seu rosto estava adquirira uma coloração branca esquisita, como se o sangue tivesse parado de circular. Seu cabelo loiro parecia um verdadeiro ninho de ratos. Sua camiseta regata de linho negro estava coberta por uma blusa laranja chamuscada. Sua calça de linho estava tão esfrangalhada que fazia sua pelo parecer quase limpo.
Acho que eu a estava encarando demais, porque ela desviou o olhar de mim. Seu pescoço ficou vermelho.
- São três da manhã - Disse ela de forma alheia. - Estamos na madrugada do dia que Thotenic planeja destruir a Sociedade dos Cinco.
Eu deveria me sentir aterrorizado com essa informação, mas a única coisa que veio a mente foi responder:
- Hãn, ok.
Liah afastou uma mecha de cabelo loiro de seu rosto. Ela tinha uma mancha de sujeira no seu queixo, e eu imaginei como ela parecia quando ela era pequena, escondida em uma plantação de trigo enquanto sua familia era assassinada por um leão sanguinário. Mesmo quando a felina perdera seus entes queridos e ficara assustada, como agora, eu sabia que ela tinha muita coragem.
- Você parece...
- Melhor? - Ela levantou as sobrancelhas, como se estivesse me desafiando a negá-la. - Como eu poderia estar melhor depois de você nos guiar direto para uma armadilha?
- Ah, então a culpa de termos sido capturados por aquele shabti é minha?
Liah endireitou o corpo. Em uma péssima imitação de minha voz, disse:
- Nectanebo é a nossa melhor opção. Qual é o problema?
- Eu já pedi desculpas. - Suspirei. - Mas deixa para lá. Você é impossível.
- Você é irritante. - Respondeu ela.
- Você é...
- Ei! - Interrompeu Tenzin, remexendo-se em seu cobertor. - Vocês dois estão me dando enxaqueca!
Liah fechou a cara e se voltou para mim, murmurando:
- Mas de qualquer forma, eu gostaria de deixar algo claro - Liah respirou fundo e passou os dedos pelo cabelo, tirando alguns pedaços de argila remanescentes. A luz do fogo deixou as íris dela tão vermelhas quanto sangue. - Sobre a nossa conversa sobre minha familia, se você contar a alguém, eu juro...
Tive a sensação de que a felina queria deixar claro que a história sobre seu pai deveria segredo entre nós. Ou alguns dentes de Magnus Khalid seriam quebrados.
- Não se preocupe - Garanti. - Não vou dizer nada. Afinal, descobrir algo sobre você levou várias horas. E toda minha habilidade diplomática.
As sobrancelhas da felina se juntaram.
- Você tem uma habilidade diplomática?
Eu revirei os olhos.
- Como se você é engraçadinha.
- Magnus - Continuou Liah. - Apesar de você ser incrivelmente irritante...
- Obrigado. Eu tenho meus momentos.
- ... não é tão ruim quanto eu pensava. - Completou ela.
- Tão ruim? - Disse eu sarcásticamente. - Você está amolecendo, Liah.
A felina dobrou os cantos da boca, abrindo um pequeno sorriso. Tenzin olhou para nós, seguindo de Liah para mim, com um sentimento de terror despertando em seus olhos.
- Vocês estão se dando bem?
Kevin parecia tão chocado quanto ele, nos encarando de boca aberta e dizendo:
- Vocês não podem se dar bem! - Disse ele, apontando para Liah. - Você e Magnus não se suportam.
- Isso foi antes. - Liah disse, embora seu pescoço ainda estivesse vermelho.
Kevin continuou:
- ... e agora vocês até mesmo parecem um casal, brigando e se abraçando...
- CALEM A BOCA! - Gritou Liah e eu em únissono.
Tenzin resmungou:
- Você até falam juntos.
- Isso é um pesadelo. - Eu me lamentei.
- Imagine o que eu estou pensando. - Liah cochichou baixinho.
- Ei!
Tenzin sorriu.
- Eu estou curioso, então contem: como Nectanebo conseguiu capturar vocês?
Começamos a contar nossa história enquanto Kevin especulava sobre qual de nós deu a maior mancada de todas os tempos (tendo grande dificuldade em avaliar entre mim ter contratado um estranho sombrio em um labirinto escuro e em Liah ter deixado eu tomar as decisões). Eu estava prestes a perguntar a ele sobre o que acontecera com eles no Subterrâneo, quando meu amigo disse:
- Agora não, cara. - Ele deu um sorriso torto. - Depois de ficar amarrado por tanto tempo no esconderijo de uma estátua sociopata, vou deitar cedo. De manhã, nós poderemos conversar mais e partir para procurar a entrada para o Palácio das Águias. - Meu amigo acenou para nós animadamente. - Dormam com os anjinhos!
Kevin agarrou seu cobertor, se ajeitou no chão e começou a roncar com gosto em questão de segundos. Liah também decidou ir dormir, mas só porque era a única que conseguia pegar no sono com os sons barulhentos causados por meu amigo. Ela se reencostou em meu ombro confortávelmente e apagou na mesma hora, começando a roncar também em pouco tempo em meu peito.
Tenzin e eu permanecemos acordados, conversando ao redor da fogueira. Primeiro, tive medo de acordar meus amigos, mas logo percebi que eu podia ter batido gongos em seus ouvidos, gritado seus nomes e começado a explodir coisas, mas Kevin e Liah continuariam dormindo.
Eles pareciam mais cansados e frágeis que Tenzin e eu.
Também tentei descansar, mas eu não consegui. Alguma coisa relacionada com ser atacado por um estranho explosivo que na verdade era um shabti extremamente psicótico e antissocial tornou muito mais difícil relaxar.
Além disso, Liah estava piorando. Assim que ela adormecera, sua pulsação diminuira gradativamente. O ferimento em seu ombro pareceu piorar a cada momento. Pela tensão de sua respiração, dava para perceber que ela estava sentindo muita dor. Toquei o antebraço dela e e quase desmaiei. Senti o sofrimento da felina. Consegui sentir um orgão perfurado, um osso fraturado e algumas costelas quebradas. Seus batimentos também estavam ficando cada vez mais fracos, mas de alguma forma, percebi que todos os ferimentos poderiam ser curados.
Eu me concentrei. Meus dedos começaram a soltar fumaça no ombro de Liah, e por um aterrorizante segundo, pensei estar cozindo a felina por acidente com meus poderes de fogo. Mas percebi que estava na verdade puxando o ferimento do pelo dela. Foi mais fácil do que pensei. O coração de Liah era forte. O tom esverdeado de sua ferida sumiu. Curei seu orgão ferido e a fratura do osso. As costelas voltaram ao lugar. O machucado se fechou como se alguém tivesse o preenchido com cera quente. Até o pelo da felina pareceu brilhar com mais intensidade.
Minha visão ficou turva. Se já não estivesse sentado, eu teria caído. Lutei contra a náusea e tontura, enviando uma onda de calor para o corpo de Liah. Ela reagiu quase imediatamente, abrindo os olhos e ofegando para encher os pulmões de ar. Então ela revirou os olhos nas órbitas e desmaiou, tendo inúmeros espasmos em meu ombro.
Eu olhei para Tenzin, que estava com um cobertor sobre os ombros, sentado de pernas cruzadas. Ele estava me encarando, como se tivesse surgido chifres na minha cabeça.
- Como você...? - Ele perguntou. - Como?
- Não sei. - Minha cabeça girava de exaustão. - Sorte? Alimentação saudável? Minha beleza estonteante?
O camaleão albino me observou com curiosidade.
- Sua capacidade de cura é impressionante - Disse ele, pensativo. - Mesmo para os padrões de nós, deuses, você se regenera com uma velocidade surpreendente. Até os melhores curadores demoriam mais para cuidar do ferimento de Liah como você fez.
- Sei sobre isso tanto quanto você. Normamente, tenho dificuldade até de tirar um Band- Aid.
- Mas e quanto as suas recuperações aceleradas?
Pelo seu tom de voz, concluí que ele não estava sendo sarcástico.
- Eu não sei. Não estou cronometrando o tempo. Foram rápidas?
- Muito. - Ele olhou para trás, direto para as extremidades do esgoto, vigiando as entradas. - E sua imunidade ao fogo?
Eu me concentrei no piso gasto do corredor. Ainda estava conseguindo permanecer conciênte, mas a verdade é que cuidar do ferimento de Liah havia me deixado tão debilitado quanto como se eu estivesse me recuperando de uma pneumonia grave.
Considerei a pergunta de Tenzin com cuidado. Temperaturas extremas nunca me incomodaram. Não sei por quê. Claro, eu nunca tive costume de andar em direção a paredes de fogo ou me enterrar em neve, mas você entendeu. Algumas pessoas são hiperflexíveis. Outras conseguem mexer as orelhas. Eu consigo dormir ao ar livre no inverno sem morrer congelado e passar a mão por cima de fósforos sem me queimar. Isso já me fez ganhar algumas apostas no orfanato, mas nunca pensei na minha tolerância como algo especial. Eu nunca tinha tinha testado meus limites.
- Acho que não é exatamente imunidade ao fogo. - Respondi. - Talvez seja por causa de eu ter aptidão para ser um elementalista...
Minha voz falhou. Lembrei de minha conversa com Delfim sobre isso e percebi que possuia mais habilidade em meu currículo: Curador.
Acho que Tenzin não percebeu no que eu pensava. Ele estava distraído demais brincando com uma de suas facas de barbeiro, como se fosse um gatinho.
Então ele me explicou que, depois que nos separamos no Subterrâneo, Kevin e ele percorreram por todo labirinto procurando e chamando por nós.
- É, Nectanebo nos contou. - Eu revelei. - Mas o que aconteceu? Você e Kevin parecem exaustos.
- Aconteceram muitas coisas - O camaleão murmurou. - Cavalos de argila explosivos, armadilhas com espigões, cobras gigantes e... - Ele estremeceu. - Encontramos um Echidna.
Lembrei das cabeças monstruosas de uma mistura híbrida entre dragão e serpente penduradas na Taverna do Chefe.
- Um Echidna?- Perguntei. - Crawler me contou que eles são terríveis bestas mortais e desconhecida pelos humanos. Parecem adoráveis.
Tenzin negou com a cabeça.
- Mas não são. Quase não sobrevivemos.... - Ele olhou para Kevin, que estava roncando como uma verdadeira serra elétrica. - Seu amigo é bastante valente. Quando o Echidna nos atacou, ele enfrentou a criatura sozinho para me proteger enquanto eu estava me escondendo com medo.
Eu franzi o cenho.
- Mas cara, você mesmo enfrentou sozinho o próprio Tenente dos Crocodilos em pé de igualdade e eu não vi nenhum resquício de temor em seus olhos.
- Todos tem medo de algo - Respondeu o camaleão sombriamente. - Ninguém está livre disso.
Eu concordei.
- O Echidna assustou você - Eu disse. - Não há nada de mais nisso.
Tenzin virou seus grandes olhos amarelos para mim, e eu fiquei com a sensação de que eu só havia piorado as coisas.
- Kevin se manteve forte, enquanto eu agia como um covarde. - Tenzin respirou fundo. Seus olhos ardiam com vergonha. - Mas então... nós seguimos em frente para escapar da besta e chegamos até aqui. Devo minha vida a Kevin.
Meus pensamentos pareciam estar prestes a detonar os miolos de minha cabeça com a enxurrada repentina de perguntas.
- Como o Echidna era? Tinha asas? Como Kevin lidou com ele? Crawler não especificou...
- Pare! - Tenzin pediu. Então suspirou debilmente. - Me desculpe, Magnus. Estou exausto e assustado. Mas eu não... Eu não quero pensar nisso agora.
- Desculpe.
- Você devia dormir. - Disse ele, com ombros curvados.
- Não é possível. - Respondi.
- Mas você está bem?
- Claro. Primeiro dia do fim do mundo. Tudo bem.
- Nós vamos impedir Thotenic - Ele garantiu. - Nós vamos encontrar a entrada da Tribo das Águias antes do ataque a Sociedade dos Cinco.
- Eu apenas queria que essa missão fosse lógica - Eu reclamei. - Quero dizer, viajamos até aqui, mas não temos nenhuma idéia de onde vamos acabar. Como nós podemos andar da Taverna do Chefe para onde-quer-que-estejamos, em quase três dias?
- O espaço não é o mesmo no labirinto do Subterrâneo. - Respondeu Tenzin, apertando a barra da coberta.
- Eu sei, eu sei. É só... - Eu lancei um olhar hesitante para ele. - Tenzin, eu estava brincando comigo mesmo. Todo aquele planejamento e esperança... eu não tenho a menor idéia de onde nós estamos indo.
- Você está indo muito bem. - Tenzin me apoiou. - Além disso, nós nunca sabemos o que estamos fazendo. - Seus olhos brilharam com rebeldia. - É sempre assim. Lembra da confusão do Castelo da Cidadela?
Eu aspirei fundo.
- Quase morri, cara.
- E o ataque a Cidadela, lembra de como você conseguiu nos livrar daquele situação com Oceano, Tenente dos Crocodilos?
- Nos livrado? Isso foi totalmente sua culpa com seus tornados sinistros!
- Viu? Vai ser ótimo. - Ele sorriu, o que eu estava contente de ver, mas o sorriso desvaneceu-se rapidamente, tornando-se azedo. - Magnus, o que Nectanebo quis dizer quando ele revelou que você escondia algo de nós?
- Não sei.
Eu me senti um péssimo amigo mentindo, mas não tinha escolha. Não era o momento certo para contar sobre a existência do ser. Não ainda.
- Nos diria se você soubesse?
- Claro. Talvez...
- Talvez o quê?
- Talvez, se você me dissesse um pouco mais sobre o Echidna...
Tenzin se arrepiou.
- Não aqui. Não no escuro.
Nós ficamos em silêncio, ouvindo barulhos estranhos e gemidos lamentosos no Subterrâneo, com um eco de triturar pedras, como se os túneis do labirinto estivessem mudando. Crescendo e se expandindo. Senti um calafrio ao considerar a ideia. O escuro me fez pensar sobre as visões que eu vi de Yami e Kouga, e repente, um quebra-cabeça desagradável começou se formar em minha mente
- Tenzin - Eu comecei. - Precisamos encontrar a entrada o mais rapidamente.
- Só por quê o fim do mundo seria hoje ao entardecer? - Respondeu ele, com suas palavras soando descontraídas, mas com seu tom de voz estando tenso.
- Não - Eu disse, sério. - E se Thotenic tiver enviado esquadrões de defesa envolta da entrada? E se guerreiros-águias estiverem aqui em algum lugar, nos caçando agora mesmo?
Tenzin ficou quieto por um longo tempo.
- Magnus, eu espero sinceramente que você esteja errado. Mas se estiver certo...
Ele encarou as chamas da fogueira, que estava criando sombras sobre os muros de pedras. Tive um sentimento de que ele podia estar considerando que esse poderia ser seu último dia de vida. Eu estava conformado com isso. Meu objetivo era apenas impedir o Mestre das Águias e parar seu exército maligno antes que destruissem a Ordem do Universo e, se possível, dar um bom chute no traseiro cheio de penas de Thotenic.
Se eu morresse no caminho, morri. Sem arrependimentos. Mas Tenzin não parecia ter aceitado essa possibilidade tão bem.
Ele nunca me pareceu mais cansado.
- Deixa que eu pego o primeiro turno de vigia? - Disse ele, por fim. - Eu acordo você se alguma coisa acontecer.
Eu estava prestes a discordar, mas me sentia tão cansado que acabei fechando os olhos e adormecendo instantâneamente.
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Sociedade dos Cinco e a Jornada pela Cidadela
AventureOlhe, se você estiver ouvindo essa gravação, saiba que eu não queria ser tão "especial". Eu não queria participar do fogo cruzado de uma guerra entre feras lendárias, não queria ter "acidentalmente" incendiado sua casa ou destruído seu jardim de flo...