Semanas se passaram, e pelo menos uma vez por semana eu recebia coordenadas de Abe pelo celular, sempre pedindo que eu fosse a algum lugar. Até que decidi viajar novamente.
Dessa vez, deixei um recado para meus pais, informando a cidade para onde estava indo e pedindo desculpas. Também precisei avisar Abe sobre o meu destino, para que ele providenciasse um carro e documentos, além de uma lista de lugares onde eu poderia me hospedar. Mesmo assim, ele sabia que eu sempre preferia ficar em uma pousada ou hotel. Ele também insistia em me enviar uma quantia que chamava de "dinheiro de precaução".
Minha nova cidade seria Novosibirsk, e eu sabia que precisaria ter um cuidado extra enquanto estivesse lá. Aparentemente, era a nova área de caça dos Strigoi, e eu teria que encontrar um emprego no turno da manhã, por ser mais seguro. Talvez em uma cafeteria ou livraria, se tivesse sorte.
Quando desci do trem, experimentei aquela breve sensação de liberdade ao chegar a uma nova cidade e poder explorá-la — pelo menos até Abe me dar uma missão ou até eu arrumar um emprego e me estabelecer.
Depois de conseguir um quarto de casal, com uma cama grande e confortável em uma pousada, tomei banho e me senti mais disposta. Troquei de roupa, tranquei o quarto e saí para explorar a nova cidade. As mensagens de Abe indicavam onde eu encontraria um carro, dessa vez um Honda Civic 2008 azul-marinho, que parecia elegante demais para alguém que precisava ser discreta como eu.
É claro que fui primeiro atrás de um restaurante. Depois de almoçar, deixei o carro estacionado por perto e caminhei até encontrar uma banca. Comprei uma revista turística que mostrava os pontos mais bonitos da cidade.
Comecei a visitar os lugares próximos ao centro. Uma foto de uma ponte alta chamou minha atenção. Olhei no relógio e achei que ainda tinha tempo para ir até lá e assistir ao pôr do sol de cima. A ideia me animou, e decidi ir imediatamente.
Antes, passei em uma confeitaria que me trouxe uma memória agridoce dos momentos amigáveis com minha mãe antes de partir. Permitindo-me um instante de tristeza por tê-la deixado novamente, comprei alguns cupcakes e outros doces. Entrei no carro, pensando se um dia meus pais teriam a chance de viajar comigo. Parecia tão impossível quanto a liberdade que eu tanto desejava ou a chance de explorar outros países.
Enquanto dirigia, perdi a noção do tempo e percebi que havia subestimado a distância até a ponte. Talvez a revista tivesse um erro de digitação. Quando notei, a noite já havia caído, trazendo uma chuva fina que prometia piorar. Considerei voltar à cidade, mas achei que a ponte ainda poderia valer a pena, mesmo no escuro.
Depois de dirigir por mais de uma hora, comecei a sentir medo. Estacionei o carro para me acalmar e refletir. Quando liguei os faróis, vi alguém sentado no chão da estrada. Assim que as luzes a iluminaram, reconheci os olhos assustados de Rose. Sem pensar duas vezes, saí do carro.
Ela estava encharcada, com roupas sujas e o cabelo desgrenhado. Seu olhar carregava pânico e tristeza, algo incomum para alguém como ela. Ao se levantar, reconheceu-me e começou a chorar. Notei que seu tornozelo estava inchado, além de outros machucados pelo corpo.
— O que está fazendo aqui? Achei que tivesse ido embora! — perguntei, enquanto o vento e a chuva nos deixavam encharcadas.
Ela não respondeu. Sem hesitar, abracei-a e levei-a para o carro.
Não sabia como ela tinha chegado ali ou o que estava fazendo, mas o mais importante era tirá-la daquele lugar.
Quando a trouxe para o quarto, ela ainda parecia em estado de choque, mas, aparentemente, entrou em piloto automático. Mancando, foi até o banheiro. Peguei mais toalhas e deixei-as na porta, junto com roupas minhas, torcendo para que fossem do tamanho dela.
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Shadows of the past - VAMPIRE ACADEMY FANFICTION
VampirosEssa é uma história que começa em Promessa de Sangue (Blood Promise). Ela não altera nada significante da história original criada por Richelle Mead e tem como objetivo apenas fechar alguns assuntos que ficaram abertos nos livros.