Acordei abruptamente naquela manhã, olhando ao redor do quarto como se fosse encontrar alguma criatura estranha disposta a saltar na minha cara a qualquer momento. Havia perdido as contas de quantas vezes havia ocorrido ao longo do mês. O pior de tudo era que eu não conseguia me lembrar direito do sonho, como se alguma coisa estivesse bloqueando a minha memória. Sempre que eu tentava forçar um pouco mais, uma forte dor de cabeça se instaurava, como se me alertando a não tentar prosseguir mais do que aquilo. Eu tinha certeza que meu sonho eram fragmentos de memória querendo voltar e pareciam estar querendo me dizer alguma coisa, visto a frequência com que perdi o sono nos últimos dias. Isso tudo perto do meu aniversário.
Desviei minha atenção para o relógio que ficava em cima de uma mesinha de cabeceira, que ficava no lado direito da minha cama: cinco horas da manhã. O barulho de seus ponteiros sempre me deixavam irritado ao dormir, mas o mesmo fazia jus à sua causa. Minhas aulas começavam as sete, o que me deixava com duas horas livres. Me levantei sem muita pressa, frustrado por não ter tido mais algum tempo de descanso e arrumei minha cama de maneira conveniente para quando chegasse. Peguei o uniforme escolar que estava pendurado em um cabide no meu guarda-roupas, seguindo em direção ao banheiro, que ficava no mesmo andar que o restante dos quartos.
Entrei no chuveiro e deixei a água cair lentamente sobre minha cabeça. Eu já tinha problemas de mais para me preocupar e não podia me dar ao luxo de ficar pensando no que raios poderia ter ocorrido a, sei lá, oito anos atrás. Estava ansioso demais pelo meu ingresso ao ensino médio superior, cheio de boas espectativas com a nova escola. Será que eu conseguiria me encaixar em alguma turma? Como seriam as aulas? Será que os professores eram rígidos como haviam me dito?
Desci as escadas em direção à cozinha, para preparar meu café. Por causa do trabalho dos meus pais, que diga-se de passagem eu não faço ideia de qual seja, e pelo fato de eu ser filho único, tenho morado nesta casa sozinho a muito, muito tempo. Não consigo me lembrar ao certo quando foi a última vez que os vi, mas, se fosse chutar, diria que faz uns seis ou sete anos. Pelo menos, nunca tivemos problemas financeiros. Eles sempre mandam uma boa quantia em dinheiro para que eu gerencie o lugar. O melhor disso tudo é que sempre sobra alguma coisa para mim, então eu não reclamo muito de viver sozinho. Acho que acabei me conformando com a situação e apenas mudei meu jeito de viver. Nos dias comemorativos, eles sempre ligam para mim, dizendo o quanto queriam estar comigo, que as coisas no trabalho estão difíceis e coisas assim. Não que eu me importe mais com isso. Depois de anos sem vê-los, talvez eu nem os reconheceria mesmo.
Sorte ou não, a situação me tornou uma pessoa bastante independente. Pode não parecer, mas eu mando muito bem na cozinha e em gerenciar o dinheiro que recebo. Isso me coloca a pensar vez ou outra se este não foi o objetivo dos meus pais desde o início, mas talvez isso seja apenas uma forma de justificar a ausência deles.
Preparei um café da manhã reforçado e uma marmita com bastante carne e vegetais, afinal, ainda estou em fase de crescimento. É ideal manter uma dieta saudável para se sentir bem e crescer forte, algo que eu estava mesmo precisando. Comi um pouco de arroz, alguns legumes em conserva e um peixe grelhado bem grande antes de olhar novamente para o relógio, que já indicavam seis e dez da manhã. Peguei minha mala, guardei minha marmita lá dentro e sai de casa.
O caminho para minha nova escola não era muito longe. Cerca de vinte minutos se eu fosse direto para a escola, sem correr. Era tempo mais do que o suficiente para mim. Caminhei tranquilo até chegar na escola Sakura Koyo, lugar onde passaria a estudar por mais três anos. Vários dos meus ex-colegas de classe também fizeram a prova para a mesma escola, então acreditava que alguns deles também estariam presentes. Não sabia ao certo quais, afinal eu não tinha muitos amigos. Minha... 'aparência' era um fator bastante problemático nesse sentido.
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Metamorfose: A Outra Face
RomanceSatsuki Mikoto é um jovem estudante prestes a ingressar no primeiro ano do ensino médio. Devido a sua aparência um tanto feminina, Satsuki é constantemente confundido com uma garota por seus colegas de classe, recebendo cantadas ou até mesmo declara...