OITO

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Estava sendo complicado para minha mãe aceitar o que eu fiz com meu cabelo, eu apenas não conseguia entender o motivo de tanta raiva, ela queria tanto que eu fosse tão diferente assim? Para mim, ser diferente era doloso, causava hematomas em meu corpo e um corte profundo na alma. Se ela queria que eu passasse por um processo de auto aceitação suas atitudes não ajudavam em nada.

— Ei! — Ouvi alguém gritar pelo corredor e não dei atenção, levando em conta que eu era a única pessoa ali além de quem chamava. Sua mão tocou meu ombro e congelei protegendo meu rosto. — O que... Abaixe esses braços! — Sehun abaixou um braço e ficou segurando. — Você viu o Baek?

— Vocês são amigos, imaginei que andassem juntos.

Sehun tinha um leve sorriso nos lábios. Ele coçou a nuca e semicerrou os olhos como se estive com vergonha de dizer algo.

— Aquele bastardo vai me deixar almoçar sozinho de novo... — Ele murmurou olhando para nenhum ponto fixo e depois me encarou. — Almoça comigo?

— Eu não sei... Olha, Sehun...

— Você não quer ser vista comigo? Quem te falou que eu não me misturo com o pessoal daqui?

— É mais fácil você não querer ser visto comigo. — Ele me lançou um olhar significativo.

— Acho meio difícil depois daquela nossa apresentação. Que, aliás, me garantiu uma ótima nota pela primeira vez na vida. — Disse levantando os polegares.

— Gostaria de entender como você acabou se tornando amigo de Baekhyun. Ainda me é uma ideia inconcebível.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e ficou encarando o chão, como se revirasse sua mente atrás de alguma coisa que fosse justificável.

— Eu... Bom, Baekhyun é muito semelhante a mim, talvez isso tenha nos colocado juntos...

A essa altura já caminhávamos lado a lado em direção ao refeitório.

— Não, você não é como Baekhyun. — Um frio percorreu minha espinha ao me recordar das coisas que ele fez comigo e que ficavam enterradas em minha memória.

— Sim, sei que nossos padrões de vida nos difere. Mas há tantas outras coisas, tantas tragédias pessoais e casualidades. Nós só precisávamos de alguém que não fosse dar um tapinha em nossos ombros e dizer que é tudo coisa da nossa cabeça.

Não passava pela minha cabeça nenhuma tragédia possível que possa ter acontecido a Baekhyun. Nada parecia o afetar, ele tinha uma couraça impenetrável. Um olhar atroz e mãos ardilosas. Byun Baekhyun era imune a tragédias pessoais.

— Então conhecemos pessoas diferentes. — Disse me desvencilhando entre os alunos para pegar meu almoço. Dando a Sehun algum tempo para se articular.

Sehun, que vinha logo atrás de mim, apontou para uma mesa vazia e mudei minha direção até ela. Sentamos frente a frente sem intenção alguma de tocar na comida.

— É verdade que assumimos papéis em diferentes cenários de nossas vidas. Eu tenho vários, Baekhyun possui apenas um.

— O que você quer dizer com isso? É como se Baekhyun fingisse ser incontrolável? — Sehun assentia enquanto mastigava o arroz com algas.

— Baekhyun é uma pessoa incrível. — Não pude segurar minha vontade de rir, mas isso não interrompeu Oh Sehun. — Ele certamente possui cicatrizes dolorosas em sua vida, para algumas pessoas compartilhar ajuda, mas para ele destruir as coisas é o que lhe cura.

Aquela ideia de um Baekhyun com coração frágil que Sehun estava me apresentando não se conectava com a realidade ocre que presenciei. Se Byun Baekhyun passava por algum tipo de sofrimento, sua terapia, que era agir como um bastardo, estava sendo um tanto ineficaz. Era impossível comprar aquela ideia.

BLACK HAPPINESS [EM PROCESSO DE REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora