Capítulo 9

82 8 2
                                    

Abracei a Gé, e ficamos conversando, instantaneamente lembrei da frase do pequeno príncipe que diz : " Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" e cheguei a conclusão que a Gé se sente responsável por mim, assim como eu, de alguma forma, também me sinto por ela. Com esse pensamento, ficamos sentadas nas cadeiras do último lugar que eu imaginaria que estaria com a minha melhor amiga mais nerd, a coordenação.
- Meninas, o coordenador Roberto está esperando-lhes - uma mulher que aparentava ter uns 30 anos, e que provavelmente era a secretária do Roberto falou.

Sentamos e esperamos, já rezando para todos os santos e anjos que o Roberto não chamasse nossos pais, mas ele nos surpreendeu dizendo:
- Bom, vocês são boas alunas, deslizes acontecem, não vou manchar o nome da Angélica e da sua amiga...qual seu nome mesmo?
- Juliana.
- E o da Juliana, por uma coisa tão insignificante. Só peço que isto não se repita, e que vocês levem esse papel para os senhores vossos pais assinarem e vocês possam receber os celulares amanhã.

" Privilégios de amiga certinha e babada pelo colégio" pensei e ri de mim mesma.

Sem celular pelas próximas 24 horas, confusa em relação as aulas de redação para o Victor, nervosa com a conversa que adiei com o Di. E essa sou eu Juliana; em uma sexta a noite, deitada na minha cama, relendo a mesma página do mesmo livro pelo menos umas 30 vezes sem conseguir prestar atenção.
- Ju! Telefone! - minha mãe gritou do quarto dela.

Peguei o telefone fixo da sala e voltei para a minha caverna, também conhecida como meu quarto.
- Alô?
- Ju? Oi, é o Di, será que a gente pode sair? posso passar pra te pegar de taxi, já que não da pra dirigir de gesso, daqui a meia hora.
- Pode ser, vou me arrumar aqui.
- Ok, Beijo!

Tomei um banho pra tirar aquela cara de sono e lavar aquele cabelo, mas não passei muita maquiagem, só pó e rímel, vesti um short e uma blusa mais soltinha. Como já estava atrasada 5 minutos, para variar, cheguei na portaria do prédio e o táxi já estava me esperando.

Foi bem esquisito estar em um táxi com o meu melhor amigo e não falar nada, só me manifestei quando percebi o lugar que ele havia me levado.
- Livraria Cultura, eu amo esse lugar!
- Eu sei, por isso mesmo que te trouxe aqui, queria conversar em um lugar que você se sentisse bem, vamos subir para o café?
- Vamos sim, e obrigada Di.
Sentamos, pedi chá e pães de queijo e ele me copiou.
- Bom, o que eu queria te falar é que não queria ter sido tão agressivo como fui naquela noite, você pode beijar e se apaixonar por quem você quiser, eu não posso interferir nisso.
- Quem falou em se apaixonar? O Victor é um idiota, beijá-lo foi um erro!
- Então quer dizer que você e ele ... acabou?
- Na verdade nem começou né? Nós somos completamente opostos, não conseguimos não brigar, nunca daria certo.
- Eu sei, o Victor é mesmo um babaca...
- Mas não vamos perder nosso tempo falando de pessoas que não merecem. Como está o seu braço?
- Um pouco melhor eu diria, mas algo me diz que você quer perguntar outra coisa, pode falar Ju, eu sou o Di, lembra? Seu melhor amigo, você pode perguntar o que quiser.
- Porque você mentiu pra mim sobre ter dormido com aquela menina? Você sabe que eu não ligo para essas coisas, e caso você não lembre, eu continuo sendo virgem.
- Sinceramente, eu não sei, acho que me arrependi no momento em que terminei de falar...
- Na minha casa, na noite do acidente você disse algo sobre ter mentido para me fazer ciúme, o quão estúpido isso soa agora?
- Eu não me lembro de metade do que fiz e falei naquele dia e com certeza falei sem pensar, eu estava nervoso e preocupado com você...mas já vi que você recuperou o juízo e percebeu que o Victor não é boa companhia.
Fiquei calada e só assenti, de fato ele não merecia que eu o defendesse, afinal, tudo que ele fez até agora só mostrou o quão ruim eu fico perto dele.

Passamos mais algumas horas comendo e conversando sobre coisas leves e evitando qualquer coisa relacionada ao dia do acidente ou sobre o Victor.

Abri a porta de casa e minha mãe conversava animadamente com um garoto que percebi ser nada mais nada menos que o meu futuro ( ou não) "aluno" de redação.
- Filha, que bom que você chegou! O seu amigo estava me contando sobre como você foi desastrada e derramou suco no coitado e então viraram amigos! - ele mentiu para a minha mãe só para sair bem na fita.
- Ah... É claro - fuzilei aquele par de olhos "muito lindos", quero dizer mentirosos.
- Como já está tarde eu vou dormir, conversem o tempo que precisarem. Boa noite! - Ela me deu um beijo na testa e acenou para o Victor.

Esperei até que ouvisse a porta do quarto dos meu pais batesse para começar a falar:
- O que você tá fazendo na minha casa?
- Eu disse pra você que a gente não tinha terminado ainda, vim aqui terminar o que eu tinha para dizer - ele puxou meus braços como havia feito de manhã.
- Você vai tentar de todas as maneiras fazer com que a Dayse desista dessa ideia ridícula!
- Posso saber como vou fazer isso?
- Isso aí já não é comigo, dá seu jeito! - Seu rosto se aproximou e eu senti o tom de ameaça em presente em sua voz.
- Posso fazer uma pergunta? - já fazendo - Porque essa necessidade tão urgente de se ver livre de mim? O que eu fiz de tão ruim pra você? - falei com raiva
" Eu que fui usada" pensei
- Você não entende mesmo né?

Não sabia se era uma pergunta retórica, mas resolvi não responder.
- Você me deixa diferente Juliana!
- Como assim? - retruquei
- Quando estou com você não sou eu mesmo! Sou um projeto de garoto possessivo, ciumento, e agressivo. Não gosto de me sentir assim, controlado, quando eu vejo você, mesmo que de longe, só tenho vontade de fazer isso - Ele cola seus labios nos meus quase que bruscamente e pede passagem com a língua o que eu instantaneamente permito.

O gosto de menta, misturado com um leve toque de alguma bebida alcoólica envolveu - me e eu não conseguia me desvencilhar daquele beijo tão desesperado e ao mesmo tempo calmo, reconfortante e envolvente.
- Jujuba? - ouvi a voz do meu pestinha
Me soltei rapidamente dos braços do Victor.
- João... Esse é o Victor, meu...é... amigo.
- Oi Victor. Ju, eu tive um pesadelo e não consigo mais dormir, será que você pode deitar comigo? - ele fez uma carinha de sono e eu não pude resistir.
-Deita lá que eu vou só levar o meu amigo até a porta ok?
- Ta bom - falou e saiu em direção ao quarto dele.
- Acho melhor você ir, meu irmão pode parecer fofo, mas só parece mesmo e se ele ficar com raiva de mim pode usar o que ele viu contra mim.
- Eu vou, mas dessa vez, vamos começar do jeito certo. Sem acidentes de carro e socos na minha cara?
- Combinado, e nem quero ver mais nenhuma garota saindo do seu quarto nua.
- Certo, a não ser que seja você não é? - de um tapinha de leve nele com o comentário idiota.
- Vai lá idiota...Boa noite - abri a porta para ele.
- Boa noite e sonha comigo! - ele piscou e eu bati a porta na cara dele.

StalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora