Capítulo 8

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Ele não lembrava do beijo, ainda bem. Não que eu não tenha gostado. Mas ele é o meu melhor amigo, e eu não o via daquela forma, pra mim ele sempre seria o Di: o melhor amigo que eu conto tudo da minha vida, sabe todos os meus segredos, medos e inseguranças. Então já que ele não lembra, nada aconteceu.
- Eu só entrei por alguns minutos e você não falou nada com nada .
- Hmm... Você sabe que a gente precisa conversar né? Sobre a noite do acidente... - Ele diminuiu o tom de voz.
- Eu sei, eu sei! Mas é melhor agora você ir pra casa descansar. Amanhã a gente se fala no colégio. Tenho que ir, meus pais devem estar loucos, sabe como a dona Lúcia pode ser chata as vezes né?!

Ele me deu um beijo no topo da testa e eu saí do hospital.

Mais tarde, me virava de todas as maneiras na cama na falha tentativa de dormir, mas os pensamentos sobre o Di sobrevoavam a minha cabeça e não me permitiam. O que acabou gerando uma soneca na aula de literatura do professor mais irritante da história dos professores irritantes.

" Acorda dorminhoca! " recebi essa mensagem da Má

" Aula chata + sono de uma noite mal dormida"

" Essa mal dormida aí tem nome?"

" E sobrenome"

" Esquece isso amiga, o Victor não te merece, foi só uns amassos e pronto, fim!"

Quando ia responder que o motivo da minha insônia não era o Victor e sim o Di, aquele projeto de careca ambulante puxa meu celular.
- Juliana Ferreira coordenação agora! E diga para o coordenador que seu celular está confiscado até que seus pais venham buscar!

Saí da sala muito puta e fui em direção à coordenação do colégio. Sentei na cadeira para esperar que em algum dia pelos próximos 10 anos o coordenador me atendesse. Amarrei meu cabelo em um coque e peguei A Escolha* na minha bolsa para ler.

Uns vinte minutos se passaram sem que eu fosse interrompida no meu mundinho, mas é claro que a minha paz tinha que acabar.
- ...Ela não! Eu já disse que não quero fazer isso, que merda! - ele para de gritar assim que seus olhos se deparam com a minha presença.

O Victor adentra a sala gritando com a Dayse, professora de redação, que vinha logo atrás dele.
- Juliana! Que bom que você já está aqui, não sabia que já haviam te contado!
- Me contado o que?
- Bom, o mocinho aqui, está com dificuldade, quer dizer quase reprovando na minha matéria, e o colégio deu a ideia de que a minha melhor aluna, no caso você, o ajudasse, já que as dificuldades dele são referentes ao conteúdo do 1° ano e não do 2°.
- Eu disse para ela que era loucura! - um Victor ainda mais alterado gritou.

Eu não respondi nada, realmente não sabia o que dizer em relação a isso.
- É uma proposta, mas o colégio impôs, não há não como resposta.
- Mas e o que EU ganho com isso? - tentei soar o menos grossa possível diante da situação.
- Pontos é claro! Que podem ser colocados em matérias em que você precisa mais.

Essa era a minha chance de aumentar algumas notas, mas o preço a se pagar era muito alto: Ter que dar aulas pra um idiota era muito para mim.
- Você tem até amanhã para me dar a resposta. - a Dayse falou e saiu da sala.
- Eu não acredito que você tá considerando a possibilidade! - o Victor disse
- Você não ouviu o que ela disse? É imposição, e para você, burro, quer dizer que não tem como eu dizer não!!

Não sei porque estou tão nervosa com ele, afinal, tudo que ele fez foi me beijar em um dia dizendo que queria mais, e no segundo seguinte eu vejo uma qualquer sair do quarto dele semi-nua.
Pensando bem, eu sei sim porque eu estou com raiva dele.
- Eu sei que você tá louca pra me ver mais vezes e ficar mais perto de mim, mas você não é meu tipo.
- Não parecia naquele dia na festa né?
- Como eu já disse, eu já peguei, passou, me esquece Juliana!

Eu não era o tipo de menina que ele pensava, eu não corro atrás de homens, não "só fico".

Uma raiva, misturada a um sentimento de ter sido usada me subiu à cabeça e quando eu me dei conta, minha mão já tinha deixado um marca vermelha na cara dele.

As mãos dele seguraram o meu pulso contra a parede daquela sala minúscula e eu senti ele suspender meu corpo no ar.
- Quem deu o direito de você tocar em mim? - ele gritou e eu o senti cada vez mais perto de mim.
- Des...des...culpa - falei instantaneamente fechando os meus olhos
- Nunca, nem em pensamento, ouse tocar em mim novamente, você tá me ouvindo?

Fiquei calada, e um medo percorreu minha espinha.
- Ju? - reconheci a voz que vinha de trás do Victor, que bloqueava minha visão. Angélica .

Rapidamente ele saiu e sibilou um
" ainda não acabei" pra mim.
- Gé, o que você tá fazendo aqui?
- Não ia te deixar vir pra coordenação sozinha e lidar com aquele mala do coordenador, mas pelo visto você se meteu com outro mala né? Por que ele tava te olhando com cara de " vou te matar"?

" Porque talvez fosse o que ele quisesse fazer" mas preferi deixar quieto e mudar o assunto.
- Como você conseguiu fazer com que o Rafael que te ama, assim como todos os outros professores, te mandasse pra cá?
- Usei meu celular na frente dele, aprendi com alguém né?
- Porque você fez isso Gé? Vai prejudicar seu histórico impecável!
- Por que é isso que as amigas fazem Ju! Elas te ajudam.

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* Livro da Kiera Cass da série A seleção que eu amo <3

Sugestão de música para vocês lembrarem da Ju e do Victor : Unkiss me - Maroon 5

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