Capítulo 11

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- Ainda que eu falasse a língua dos anjos, ainda que eu falasse a língua dos homens, sem amor eu nada seria. – Ignorei o nó que se formou em meu estômago ao ver o ensino médio inteiro olhando para minha cara de bosta, e disse a minha primeira fala.
- Amor não é tudo não, fofinha! E o que você faz com aquela pessoa que te fez mal? Você tem que se vingar e tratá-la da mesma maneira! – Disse a Gê que interpretava o Rancor
- Discordo! Você deve chorar e deixar toda sua raiva passar e só então, civilizadamente, conversar e expor seus problemas para a outra pessoa - Disse a Má que talvez tenha sido a que mais se encaixou no perfil de sua personagem, a Cautela.
- O que seriam dos grandes livros, séries e filmes sem uma pitada de romance e juras de amor eterno? Sem aquele casal que a gente torce para ficar junto? – Indaguei.
- Muito menos ilusórios e mais concretos, óbvio! As pessoas parariam de idealizar o amor e platonizar as pessoas! – Disse a Ana Lu no seu papel da Franqueza.
- A Franqueza claramente não sabe o que diz, acho exatamente o oposto! A gente precisa do Amor, ora merda! – a Bia, que claramente se exaltou na sua condição de Discórdia, falou e todas nós a repreendemos com o olhar ao lembrarmos da fala da nossa querida professora:

"Nada de termos chulos e palavrões durante as apresentações"

Dando continuidade a apresentação, eu segui o script notoriamente feito pela Ana, cuja lição final era a de que o amor é o sentimento mais puro, poderoso e blá blá blá. Acabamos com o diálogo entre o Amor e o Rancor:
- Então isso era tudo que você tinha pra me dizer?
- Sim, não importa quantas mortes sejam causadas por você, nem quantas guerras sejam travadas no teu nome e no dela – Apontei para a Discórdia – enquanto eu ainda viver, e for sentido pelos humanos, o mundo será um bom lugar.
Recebemos os aplausos, e eu rapidamente saí com as meninas para fora do palco.
- Foi incrível gente! – Ana Lu sorriu de um canto à outro do rosto.
- Achei poética a última frase da Ju – A Má ficou rindo da minha cara.
- Isso tudo é o Victor ou Diego? – Bia fez cócegas em mim.
- Nenhum dos dois né? Não penso só em homem não, tá galera? A frase foi ideia minha sim, mas inspirada no que estávamos fazendo juntas ali, nos apoiando, rindo internamente de cada besteira que só a gente percebeu!
- Meu Deus, acho que vou vomitar – Gê brincou.
Ficamos ali rindo umas das outras e tirando as fantasias.

Não sou muito de expressar os sentimentos assim na frente de ninguém, não curto essa história de grandes gestos, acho que é no dia a dia que mostramos ao outro como ele é importante para nós e essas quatro meninas não fazem ideia do quanto são indispensáveis na minha vida.

Fui interrompida dos meus devaneios quando o Di e o time inteiro de futebol apareceu no meu campo de visão. Ele estava lindo, daquele jeito próprio: cabelo meio bagunçado e o piercing novo reluzindo na sua sobrancelha.
- Você estava incrível no palco Ju – O Di me abraçou e me deu um pacotinho.
- Sério que depois desse espetáculo e dessa megaprodução você me traz um chiclete, Diego Duarte? – Brinquei com ele.
- Cala a boca, pé no saco! – me puxou para perto e depositou um beijo na minha testa.
- Vai ter uma festa na casa do Bruno hoje a noite depois do jogo da gente contra o colégio estadual, todo o time vai levar alguém e...
- Você é ridículo! Sabia que esse amor todo tinha de ter um motivo... – Fingi uma cara de brava com ele
- É sério Ju, queria muito te ver lá. Além do que, você pode levar suas amigas e acho que elas toparão conhecer uns novatos que vão marcar presença – Piscou e foi até onde as meninas estavam conversando, para convidá-las.

Terminei de arrumar minha bagunça e chamei o elevador para ir na minha sala pegar o resto dos meus livros, pois tínhamos sido liberados devido as atividades extras das aulas de hoje. Quando as portas se abrem, encontro um Victor cabisbaixo, olhando para o chão. Entro e espero até que ele perceba minha presença.
- Soube que você deixou o corpo estudantil masculino inteiro desse lugar aos seus pés na apresentação – Ele disse de forma acusatória.
- Você não assistiu? – Perguntei tentando não deixar transparecer minha cara de decepção.
As portas se abriram no meu andar e eu , propositalmente, não saí.
- Você não vai descer? – Ele ignorou minha pergunta anterior, claramente mudando o assunto.
- Quero saber o porquê de você ter dito isso sobre mim! – Alterando um pouco o tom de voz, sem saber o porquê exatamente.
- Talvez por ter ouvido coisas como "A mina do Di é muito gata", " Aquele shortinho tava sensacional" ou até mesmo " Vou pedir emprestada para o Victor por que para o virjão do Di sei que ela não deu"!

Puxei-o para fora do elevador assim que paramos em um andar qualquer.
- Meu Deus! Isso é sério? – Senti um misto de nojo e vontade de chorar.
- Não aguentei escutar calado Ju, sinto muito... – Ele me mostrou as marcas vermelhas nas falanges dos dedos da mão e só então percebi o que ele tinha feito.
- Por que está se desculpando? – Nesse ponto eu realmente não controlei a lágrima que escorreu.
- Não pude continuar na peça, depois disso fui levado para a coordenação para conversar com o psicólogo e o Roberto que ficaram me dizendo que não posso desc...

Não deixei que ele terminasse a frase, pois o beijei e senti nossos rostos molhados pelas minhas lágrimas idiotas.
- Obrigada – Agradeci finalmente abraçando-o.

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