Stalker

Capítulo 15

Sugestão de música: Ou some ou soma – Jorge e Mateus
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Acordei na quarta-feira animada com a possibilidade de encontrar o Victor e finalmente poder terminar qualquer envolvimento amoroso que a gente pudesse ter, afinal tinha tomado a decisão de ficar com o Di.

No dia anterior tinha procurado o Victor em cada canto daquele colégio e não consegui encontra-lo. Hoje, ele teria de aparecer na tal aula de redação que eu daria, pois dependia dela para passar de ano.

Após as aulas regulares, almocei no colégio com o Di e em seguida subi para a biblioteca para arrumar meu material para a aula.
- Boa tarde inspetor! – Cumprimentei educadamente o funcionário que nos vigiaria.
Depois de colocar tudo que seria necessário sob a mesa, esperei 15 minutos e o Victor chegou.
- Eai Xico, Beleza? – Falou com o inspetor.

Ele não deu uma palavra comigo que não fosse estritamente educacional durante a meia hora em que eu lhe explicava sobre o emprego da vírgula.
- Tudo bem... o que tá acontecendo? – Sussurrei.
- "Coloca-se a vírgula quando queremos dar uma pausa entre as frases" você mesmo que disse – O Victor sussurrou de volta.
- Não to falando de redação, quero saber por que você tá estranho comigo!
- Você primeiro me evita, foge de mim, diz que não quer mais nada comigo e depois quer que eu volte como um cachorrinho? – Ele fala mais alto do que deveria e eu entro em pânico.
- Hã? Do que você tá falando? Eu nunca fugi de você!
- E segunda na festa do Bruno? O que foi aquilo? Eu fiquei parecendo um idiota te procurando, preocupado com o que tinha acontecido com você...
- Calma, você tava lá?
- Não se faz de cínica, Juliana. O seu namoradinho me contou tudo enquanto você tomava um banho na casa dele – Ele falou com um tom irônico.
- O quê? Você foi na casa do Di?
- Eu te liguei e ele atendeu.
- Eu nunca fiquei sabendo dessa ligação! Ele disse o quê, exatamente?
- Que você fugiu de mim na festa, queria que eu não ficasse mais atrás de você "como um stalker" – ele citou como se dissesse as exatas palavras do Di.
- Eu nunca disse isso,Victor. Eu juro! – Meus sentimentos se dividiam entre indignação e raiva – Ele deve ter falado isso por ciúme, a gente tava ficando e ele deve ter achado que tinha o direito de sair dizendo o que ele quisesse pra você...
- Então você não quer que eu fique longe?
- Claro que não, eu te conheço há tão pouco tempo e mesmo assim, já tenho um carinho muito grande por você...- estava voltando a minha confusão de sempre – Eu realmente estava determinada a dar uma chance para o Di, mas eu não posso ficar com alguém que mente pelas minhas costas e inventa coisas, como ele fez com você.
- Você vai "terminar" com ele?
- Não sei... parecia que tava tudo bem, sabe? Eu ia conversar com você hoje, ia dizer que a gente não podia continuar com isso.
- Isso o quê?
- Eu e você, esses beijos do nada! – Tentei não parecer ridícula explicando uma situação que não tinha nome, afinal a gente não tava exatamente "ficando", nem tava só na amizade – ia te propor que a gente continuasse sendo amigos, mas sem a parte dos beijos.
- Tudo bem...eu entendi o que você quis dizer e concordo, podemos sim ser amigos – Ele falou – Se é isso que você quer, tá de boa.
Continuamos com os assuntos programados para a aula e seguimos a conversa apenas com dúvidas que ele tinha seguidas das minhas explicações.
Quando a aula acabou, o Victor me deu carona para casa e nos despedirmos com um abraço desastrado e constrangedor, que fez com que nós dois ríssemos depois.

Quando finalmente tive paz para deitar na minha cama, parei pra pensar um pouco sobre o que o Victor me disse. Por um curto período de 2 dias, minha vida tinha tomado um caminho, tinha feito uma escolha de ficar com o Di e agora só consigo pensar na péssima ideia que foi.
Não sou o tipo de menina que chora por tudo ou aquelas desesperadas que saem falando da própria vida para qualquer um, sei lidar com meus problemas na medida do possível, mas sempre posso ligar para a Ana Lu. Apesar de amar e confiar em todas minhas amigas, a Ana é sempre quem posso ligar, não importa a hora ela vai me atender.
- Que é, Juliana? – A Ana Lu diz do outro lado da linha, sempre muito delicada.
- Preciso ouvir seus dramas para conseguir esquecer os meus – Digo, fazendo o pedido mais estranho, por que sempre tenho que mandar ela me escutar e não o contrário. Afinal, difícil é fazer essa minha amiga calar a boca.
- Bom, achei que você fosse esperar até sexta na casa da Má pra ouvir sobre o drama de sempre.
- Lucas? - perguntei já entediada.
- Quem mais seria? – Não consigo identificar se ela está feliz que o idiota voltou ou se está com vontade de bater nele do mesmo jeito que eu.

O Lucas é um menino que a Ana Lu fica, esporadicamente, desde o ano passado. Ele sempre aparece e desaparece na velocidade da luz. Eles se encontram em alguma festa, aí conversam sem parar durante uma semana no whatsapp, saem de novo, ficam e ele desaparece. Nessa ordem.
- O que ele fez dessa vez?
- A gente se viu na casa do Bruno e ele tava com a ex dele! Você acredita? – Já vi que deu merda.
- Ele é assim amiga! Todo mundo percebe, inclusive você. Não sei porque o choque.
- Isso não é o pior. A gente ficou e ele ta conversando comigo no whatsapp, todo fofinho e falando pra a gente sair pra o Micas.
Micas é uma espécie de balada e restaurante que eu e as meninas sempre vamos juntas, inclusive a Ana já foi com ele lá antes.
- Você sabe que tá tudo se repetindo, né? Ele não vai mudar Ana Luísa! Acho que você precisa mais que eu dessa nossa reunião de sexta, sério!
- Eu sei, eu sei. Mas não sei o que fazer, como responder, se aceito sair!
- Inventa que vai para algum lugar no dia em que ele tiver te chamando e lembre-se: respostas o mais curtas e secas possíveis, pelo amor de Deus!
- Beleza! Tenho quase certeza de que você não me ligou só para me escutar, porque você não está doente nem sob efeito de drogas muito pesadas, pelo menos até onde eu sei.
- Realmente, queria te ouvir primeiro, mas também tenho que contar algo que aconteceu hoje na aula com o Victor. – Repassei rapidamente os acontecimentos em ordem na minha cabeça – Ele me disse que o Di falou que eu estava fugindo dele! Dá pra acreditar?
- Quê? Como assim Juliana?
- O Diego simplesmente se achou no direito de atender uma ligação do Victor enquanto eu não tava por perto e dizer o que queria pra ele. – Controlei minha raiva para não gritar no telefone – Não consigo acreditar que meu mais que melhor amigo pôde fazer isso.
- Bem mais que melhor amigo, né? – Ana Lu sempre enfatizando as coisas.
- Pois é, justamente por ser mais que amigo, esperava uma atitude diferente dele! Voltei para o estágio de não saber o que fazer.
- Parece que você nasceu pra ficar nessa, amiga. Sério!