Abro meus olhos e toda a minha cabeça lateja de dor, aos poucos o som ríspido do meu ouvido vai passnado, olho para frente e vejo Johnny com a cabeça abaixada dormindo, depois de alguns segundos de confusão finalmente percebo que estou no banco de trás de um carro, ele freia bruscamente e caio batendo as costelas esquerdas no apoio do freio de mão, solto um gemido e tento me levantar sem sucesso, Jonathan percebe minhas tentativas frustantes de levantar e me ajuda a sentar.
-Ei, esta tudo bem?- faço uma careta, levanto a camiseta um pouco acima do umbigo e alí se encontra um enorme vergão vermelho que lateja- porque paramos afinal?- ele pergunta
Mike se vira do banco do motorista e nos encara enquanto Johnny tenta achar uma caixa de primeiro socorros sem sucesso.
-Achamos um terrenos vazio- ele responde abaixando a cabeça
-Um terreno? Para que? Como conseguimos o carro? Onde estamos? O que aconteceu? - pergunto desorientada
-Ei calma ai, uma coisa de cada vez - responde Dy rindo, eles estacionam o carro e saímos um de cada vez, a cada passo que dou uma pontada do lado esquerdo me faz parar e respirar profundamente, então começo a andar mancando tentando evitar a dor da possível costela quebrada- o terreno é para enterramos Claire com o minimo de dignidade- ele responde por fim
Mike e Johnny vão ao porta-malas e pegam um pequeno embulho enrolado em um tapete colorido. Vinte minutos depois eles terminam de cavar uma pequena cova, nesse tempo faço um crucifixo com dois pedaços de madeira de uma arvore e um elástico que tinha no porta-luvas do carro. Eles a colocam na cova ainda envolvida no tapete e começam a cobri-la com terra, aos poucos seu rostinho juvenil vai desaparecendo no meio da terra vermelha e um pouco úmida que à cobre. Depois de terminado com a terra, cravo o crucifixo improvisado um pouco mais a frente, me levanto todos estão de cabeças baixas olhando para a pequena elevação que se faz na terra, em baixo daquela terra onde se encontrava uma menina cheia de alegria e fé, agora só o que resta é a vaga lembranço do que ela foi um dia. Dou a mão para Jonathan, que da para Mike, que da para Dylan, olho para o rosto de cada um, seus olhos vermelhos tanto de cansaço quanto de chorar pela morte da nossa menininha parecem mais vermelhos e seus rostos mais cansados. Começo a rezar baixinho um pai nosso, sou seguida de Dylan e em pouco tempo estamos ali em pé de mãos dadas rezando e pedindo com todas as nossas forças para que ela realmente vá para um lugar melhor.
Voltamos para o carro e seguimos em silêncio por um tempo, pela janela do banco de trás olho para o céu, o dia está cinzento e um forte vento sopra, desde que saímos do hospital não teve um dia que fez calor e sol de verdade e isso não é bom, afinal não temos roupas para o inverno que se aproxima. Estamos quase chegando no centro da cidade quando Mike vira a direito num estreito beco.
-Melhor darmos uma checada mais ao centro, ver se achamos algum supermercado ou loja que possa nos ajudar a passar a noite, caso contrario vamos ter que passar a noite aqui no carro mesmo- todos concordamos, apesar da ideia de passar a noite esmagado num carro não parecer muito agradável
Mike e Johnny saem do carro
-Não vamos demorar - fala Mike vendo quantas balas ainda lhe-restam na pistola- Dy tem como você fazer uns curativos na Han, por que sério, olhar para essa cara inchada dela me da medo- reviro os olhos enquanto eles saem rindo.
-Bom então já que vamos ficar aqui melhor você me explicar tudo
-OK eu te explico enquanto faço os curativos. Bem...- ele faz uma pausa enquanto olha meu rosto inchado da briga- depois que a Claire...- ele respira fundo escolhendo bem as palavras- morreu e você ficou gritando, precisávamos acalmar e entender as coisas então Mike fez você desmaiar, ficamos perplexos com a cena dela atirado no chão- ele coloca alguns band-aids no meu rosto, seus olhos estão enchendo de lágrimas- aparentemente Marie também. Então ela falou que na casa da frente tinha um carro que talvez fosse útil.
-É, acho que essa lata velha vai nos ajudar - falo batendo no capô do velho carrinho branco
Rimos, no entreolhamos, ele já remendou toda a minha cara, agora só falta a minha costela, ele olha para minha barriga com se pedisse permissão para toca-la, faço que sim com a cabeça. Ele levanta a minha surrada regata amarela e o vergão que antes estava vermelho agora está roxo, ele me encara novamente, pega um esparadrapo e coloca no lugar machucado
-...E agora, vamos para Nova Iorque, e quem sabe podemos... Ser felizes lá
-Seria perfeito- respondo sem pensar
Ele da um leve sorriso e coloca sua mão esquerda na minha cintura, ele tira uma mecha de cabelo do meu rosto que se desprendeu da trança, também vou me aproximando, já faz três quase meses desde que essa merda aconteceu e os únicos momentos em que sorri ou estive feliz foi ao lado dele, eu queria aquilo, eu realmente queria ele, meu Deus estou apaixonada, mas nesse momento nada importa, meus braços se penduram no seu pescoço e o trago mais para perto, nossos lábios se encostam e sinto sua pulsação acelerar, sua mão desse e sobe na minha cintura e a outra mão esta na minha nuca me causando arrepios
-Vai dar tudo certo, eu prometo- ele fala se afastando.
-Eu sei que vai- falo o abraçando. É isso que eu falo mais o que realmente penso é: nunca faça promessas que não pode cumprir.
Voltamos para o carro, pois o vento vai ficando cada vez mais forte, durante meia hora jogamos cartas com o baralho que achamos no carro e ficamos criando situações hipotéticas se conseguíssemos chegar até lá, mais dez minutos se passaram e os meninos voltaram, ofegantes e de mãos vazias
-A cidade está meio limpa, só alguns vagantes dispersos, à umas quatro quadras mais a frente tem um supermercado, meio pequeno mais para nos que não temos nada vai servir- fala Johnny entrando no carro.
-Mas, nos temos comida, não muita mais ela deve durar uma semana no mínimo- respondo.
-Bem o grupinho lá do casarão não devolveu nossa comida e completou dizendo: " agora tudo é uma questão de sobrevivência meu jovem" - fala Mike tentando imitar a voz de Marie- temos somente um pacote de bolacha água e sal e água para três dias.
- Mas amanhã vamos conseguir chegar naquele mercado pegar tudo que pudermos e em três dias vamos estar em Nova Iorque deitados em uma cama de verdade- fala Dy confiante e sonhando alto
- Que assim seja- falamos todos juntos
Quanto mais a tarde se aproxima mais frio fica, pegamos algumas cobertas e nos viramos como podemos dentro do apertado carro. Cada um comeu três bolachas e tomou um gole de água, não consegui dormir quase nada por conta das dores constantes na costela. A única coisa que me reconfortava alí dentro daquele cubículo, cheia de dores, com fome e quase congelando era a ideia de que possa haver um refugio seguro.
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Aos poucos Hanna vai pegando no sono, imaginando seu refúgio seguro, a única coisa que eles não sabem enquanto estão ali dormindo "seguros" é que uma enorme horda de mortos se aproxima do centro da cidade e centenas deles marcham em busca de algo ou alguem que possa satisfazer sua enorme e insaciável fome
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O Dia Depois De Amanhã
AcciónQuando você finalmente começa a aceitar sua vida como ela é, a vida te da uma rasteira e você cai de cara no chão, foi o que aconteceu com Hanna que após superar uma perda o mundo vira de cabeça para baixo novamente, e o que talvez podemos chamar de...