Beriland

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Sou a primeira a acordar, na verdade nem posso dizer que realmente dormi, já que a persistente dor não me deixou em paz nem um minuto. Me olho pelo retrovisor, meu rosto já desinchou bastante, mas as olheiras roxas em baixo dos meus olhos estão cada vez mais profundas, me deito novamente em posição fetal e fecho meus olhos com força. Como eu consegui fingir que estava tudo bem durante todo esse tempo? No começo era só uma carapuça, depois uma forma de exemplo pra Claire, mas agora, agora nada mais importa. Antes que eu perceba lágrimas rolam do meu rosto e molham o acento do banco acinzentado, me encolho mais ainda, meu medo vai aparecendo e crescendo dentro de mim, me engolindo de dentro pra fora.
Um forte cheiro de carniça invade o pequeno carro me fazendo tossir, me levanto com cuidado e olho para a rua, vejo um conjunto de mais ou menos dez zumbis vagando indo em direção ao centro. Acordo os meninos com cuidado um de cada vez.

-O que aconteceu?- pergunta Johnny ainda sonolento

-Vi uma horda passando - falo olhando para cada um- eram dez mais ou menos, mas acredito que tenham mais ao centro

Ficamos todos em silêncio, raciocinando qual o melhor passo a tomar

-OK. Vamos subir num prédio, ver quantos deles tem e depois ver qual o melhor passo à tomar- fala Mike

Concordamos. Comemos algumas bolachas e tomamos dois goles de água, Dy colocou outros curativos no lugar dos velhos, coloque minha bota, minha pistola vai na parte de trás do meu cinto, minha faça está no bolso lateral e meu arco nas minhas costas, junto com as poucas flechas que me sobraram.
Estou com medo não vou negar, por mim poderia ficar trancada no carrinho comendo bolacha sem recheio e água pra sempre, se isso significasse que eu ficaria segura.
Alguns mordedores ainda rondam as ruas, toda munição é preciosa então desviamos deles indo para rua atrás do beco, a porta estava trancada, claro.

-Gente, tem uma escada de incêndio aqui- fala Dy apontando para a lateral do prédio de tijolos marrons que devia ter uns cinco andares.

Mike começa a subir e vou logo atrás, seguida de Dylan e Jonathan. A cada degrau uma pontada, mas sigo subindo

-Escuta aqui Dylan- fala Johnny um pouco ofegante - se você olhar pra bunda da minha irmã, você vai chegar lá em cima com um olho roxo.

Começamos a rir como crianças, chegamos no terraço e conseguimos ver o centro da cidade, muito dos zumbis estão em volta de uma loja de bijuterias, o resto ou está no chão comendo os restos de alguém ou simplesmente vagando.

-Como vamos passar por eles? São muitos - falo olhando a loja de bijuterias que eles tentam de todos os jeitos invadir.

Após alguns minutos de silêncio Johnny se pronúncia

-Sabe aqueles sinalizadores de fumaça que achamos no porta-malas? Nós podíamos tentar atrair a maioria deles para cá e contornar por aquela rua- ele fala apontando para a última rua que vai em direção a rodovia e que é bifurcada por outras ruas.

-Parece uma boa idéia- admito depois de pensar no plano- mas, vamos precisar de alguém para jogar o sinalizador- eles se encaram tentando decidir.

-Tudo bem, eu fico aqui, jogo o treco, desço as escadas, entro no carro e saímos- fala Dy olhando para Mike

-Essa é a idéia- ele responde- mas, vamos deixar o carro na próxima rua, vai ser mais fácil de contornar eles por alí.

Dylan acente, Mike e Johnny desçem para pegar os sinalizadores, olho para ele, ele está visivelmente com medo. O abraço e ele me aperta mais dentro de sí.

-Vê se não demora- falo olhando no fundo dos olhos dele.

-Não vou- ele beija a minha testa e pelo canto do olho vejo Johnny com dois sinalizadores vindo na nossa direção, me afasto no mesmo instante.

-Aqui está, só jogue eles quando estivermos na próxima rua- fala Johnny entregando dois caninhos vermelhos.

Nos viramos e desçemos a escada, o carro já está ligado, me ajeito no banco de trás. Mike devagarinho segue virando a esquerda e seguindo reto até parar na esquina da outra rua. Fico apreensiva olhando para trás pra ver se nenhum zumbi nos seguiu, depois de um tempo vejo uma enorme fumaça vermelha subrir e respiro um pouco mais aliviada.

-Então Han... Assim- começa Jonathan- a quanto tempo você e o Dylan... Estão, juntos?- fico vermelha no mesmo instante

-Isso... Isso não é hora pra falar disso - respondo tentando disfarçar a vergonha.

-Ahh meu Deus- fala Mike antes de ser interrompido pela sua risada histérica- não acredito, você e o Dy ? - e ele contínua rindo enquanto eu reviro os olhos.

Mais um dois minutos se passa e nada dele aparecer, quando começo a ficar desesperada, vejo uma sombra correndo na direção do carro, abro a porta do carro e ele entra num salto enquanto Mike acelera.

-Por que você demorou tanto?- pergunto enquanto o examino

-Tinha alguns daqueles merdas no beco e tive que me livrar deles.

Siguimos em frente sem tocar mais no assunto, indo pela última rua até chegarmos no mercado, ele é de tamanho médio e tem uma fachada preta, as letras estão desgastadas de mais para se ler. Estacionamos o carro e entramos, está bem escuro e temos que usar nossas lanternas.

-Vamos nos separar, eu fico com o corredor da comida junto com o Dy, Johnny vê se acha alguma arma ou qualquer coisa do tipo e Hanna você fica com as roupas e coisas de higiene- fala Mike já se encaminhando para o corredor das comidas.

Vou para o último corredor, pego uma cestinha e vou selecionando algumas camisetas e blusas de frio, as pessoas não devem ter pensado muito em roupa, já que quase todas as peças estão no lugar. Pego mais algumas luvas, crmes, pente, pasta de dente, escova de dente essas coisas, ouço um barulho atrás de mim, tento iluminar a porta de saída de emergência, me volto para frente novamente. Escuto passos dessa vez, coloco a cesta no chão e pego meu arco, coloco a lanterna na boca e encaixo uma flecha mirando no corredor escuro, até que sinto o cano de uma arma na parte de cima da minha cabeça.

-É melhor você ficar quietinha vadia- fala uma voz masculina atrás de mim- largue o arco- o coloco no chão e tiro a lanterna da boca, ouço a voz de Mike falando com alguém que não reconheço, as vozes começam a se exaltar e escuto também uma foz fina de mulher no meio da discussão, o homem atrás de mim me empurra para dentro dos corredores até as vozes ficarem cada vez mais altas, até que chego onde eles estão e todos se voltam para mim e o silêncio é geral, olho para as pessoas desconhecidas, dois homens altos que não consigo ver o rosto direito, um garoto de uns doze anos, magricela e uma menina da minha idade mais ou menos com o cabelo preso num coque.

- Nós podemos resolver isso- começa a falar Johnny com um certo desespero nos olhos- nos vamos para um lugar seguro aqui por perto, vocês podem vir conosco- o grupo se entreolha- aqui tem bastante comida e coisa para todos.

- Esse lugar seguro que você está falando, se chama Beriland ?- pergunta um homem de jaqueta do exército.

- Não sei o nome, só sei que é em Nova Iorque, é seguro e quem manda lá é um doutor chamado Frank- responde Johnny.

Eles se entreolham de novo e a arma que estava na minha cabeça é abaixada e o homem atrás de mim fala:

-Hoje deve ser o dia de sorte de vocês- ele da uma pausa- somos de lá.

O Dia Depois De AmanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora