Sombras Do Passado

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- Vamos preguiçosas, acordem- abro meus olhos e me deparo com o teto verde oliva do orfanato, me levanto da cama de nadeira e olho em volta, todos estão lá, estou com o uniforme cinza que tanto odeio. Corro pelo quarto e desço a escadaria até o refeitório, ele está vazio, pela janela à minha esquerda consigo ver o "Jardim da paz" onde enterrávamos os já faleciados, olho para o jardim e vejo a Madre Ângela abaixada perto de cinco lápides colocando tulipas brancas nelas. Saio do orfanato e contorno o bosque até achar a velha casa de madeira, Rick está sentado em uma cadeira de balanço com um arco em suas mãos.

- Oi Hanna- ele fala indo na minha direção.

- Oi - repondo com um pouco de falta de ar. Ele estava com uma blusa preta, o dia estava ensolarado e a copa das árvores deixava somente alguns raios de luz passarem.

- Está tudo bem? - ele pergunta quando chega mais perto.

-Só preciso de um copo d' água- falo caminhando até o casebre
Ao entrar está tudo como sempre esteve, ou melhor, como era para estar. A mãe de Rick está sentada no velho sofá cor de terra tricotando uma linda echarpe azul.

-Bom dia senhora Leager- falo com um sorriso no rosto.

-Bom dia Hanna- ela fala tirando os olhos da echarpe e posso ver seus escuros olhos castanho através da lente do óculos. Vou para a cozinha atrás da água, abro a torneira encho um copo e tomo toda a água com um único gole.

-Bom dia Hanna- fala uma voz grave atrás de mim.

-Bom dia senhor Leager- falo ao me virar e me deparar com o homem alto em pé encostado na porta com a camisa coberta de sangue e seu magestoso arco em suas mãos
Saio da cozinha e vou para a varanda, Rick está sentado na velha cadeira de balanço e me sento ao seu lado, ele olha meu rosto atentamente.

- O que houve com seu rosto?- ele pergunta passando a mão nas minhas bochechas que estão inchadas.

-Eu peguei comida na dispensa- falo me lembrando vagamente do ocorrido, logo depois de pegar uma colher generosa de pudim de chocolate a Freira Eunice me flagra saindo da cozinha e me da um tapa que me faz cair no chão.

-Um dia vou te tirar daquele lugar - ele fala mais para ele mesmo do que para mim.

-Está tudo bem, lá não é tão ruim assim- falo sem acreditar nas minhas proprias palavras- quando eu fizer dezoito vou sair de lá e ai vamos ficar juntos- falo sorrindo, por um minuto realmente acreditando naquilo- mas, agora eu tenho que voltar- falo me levantando- fala para sua mãe que a echarpe dela está linda- ele também se levanta e caminha na minha direção até chegar perto suficiente para que eu sinta sua respiração no meu rosto, ele tira uma mecha de cabelo do meu rosto e me beija suavemente, me afasto e olho para aqueles olhos escuros- até amanhã- e saio da varanda refazendo todo o caminho até o orfanato
Olho pela janela e vejo que a Madre Ângela ainda está lá, vou até o jardim.

- Madre Ângela, a senhora esta bem?- ela se levanta vagarosamente com os olhos brancos e leitosos, caminhando na minha direção com os braçoes esticados tentando agarar o ar, atrás dela posso ver os nomes nas lápides: MIKE, CLAIRE, JONATHAN, DYLAN e HANNA. Eu quero gritar, mas nem um som sai da minha boca, até que eu acordo em um salto com alguém me chacoalhando.

-Hanna, acorda- uma rodinha de pessoas está a minha volta me observando atentamente com expressões assustadas.

- Desculpe, tive um pesadelo- estuto suspiros de alívio.

-Ok, já que você não virou um zumbi, vamos dar o fora daqui- fala Mike com pressa.

Me levanto e vou até a pequena pia que tem do outro lado da oficina e abro a torneira, jogo um pouco de água no rosto e bebo um pouco, ele tem um gosto mio metálico, coloco minha jaqueta e ponho as minhas botas.

-Claire, vem aqui vou por outra blusa em você- ela está de meias e vem caminhando na minha direção, por cima do casaco amarelo coloco outra blusa de moletom bem maior que ela, tiro seu cabelo do rosto e percebo como ela esta quente - Mike, você sabe se temos um termômetro aqui? - pergunto procurando ele pela oficina, ele está enchendo as garrafas na pia.

- Não por quê?- ele pergunta se virando da pia.

- Acho que a Claire está com febre- ele me olha sério.

-Você tem certeza disso?- ele pergunta se aproximando.

- Não, por isso preciso da droga do termômetro- falo nervosa.

-Hoje de manhã vi uma farmácia aqui perto, lá deve ter até um remédio se precisarmos.

Faço que sim com a cabeça e me volto para ela colocando os sapatos, terminamos de arrumar tudo. Saio da loja e me sento no chão perto das bombas de gasolina vazias, estava muito frio e quando respirava podia ver a fumaça saindo do meu nariz, Claire se aproxima de mim e se senta ao meu lado.

-Quando você ficou gritando... Eu achei que você tinha se transformado- ela fala olhando para o chão frio.

-Pois pode ir tirando seu cavalinho da chuva, vai ter que me aguentar por muito tempo ainda- falo rindo e ela começa a rir também.

-Hanna, meu pai foi para um lugar melhor né? - ela pergunta agora olhando para mim, aceno com a cabeça - então porque não vamos com ele? É fácil não é? Não séria melhor? Nós podíamos ir juntas- seus olhinhos castanhos brilham na penumbra da manhã e por um minuto considero a possibilidade de enfiar uma bala na minha cabeça e acabar com tudo, mas me lembro do que Mike falou para mim noite passada, sobre Nova Iorque e todas as esperanças que eu tenho estão colocadas na quele lugar.

- Até que seria uma boa, mas vou te contar um segredo- falo me aproximando dela- ontem a noite Mike me falo que em New York tem um lugar seguro onde podemos viver a salvo- ela olha para mim com os olhos iluminados- o que acha dessa idéia? - ela abre um largo sorriso e me abraça.

Os meninos saem da loja e vamos andando pela pista por mais dez minutos até avistarmos mais a frente a loja JOY REMÉDIOS com o letreiro meio apagado, entramos na loja e ela esta toda saqueada, prateleiras vazias e quase tudo revirado, mas estava sem zumbis. Demoramos um pouco até acharmos em baixo da mesa o pequeno termômetro branco intacto.

-Melhor vermos se ela está com febre primeiro e depois vamos procurar o remedio- fala Dy se sentando em cima da mesa.

Coloco o termômetro em baixo do seu braço e espero ele apitar, como eu imaginava ela esta com quase quarenta graus.
Ouço um barulho do lado de fora, Mike pega sua pistola 9mm e ele e os meninos vão ver o que está acontecendo, pego meu arco e coloco uma flecha nele, o sino em cima da porta toca, avisando que a porta da frente foi aberta, por entre as prateleiras vazias vou caminhando com meu arco erguido, estou tremendo, passo mais uma fileira até ter a visão ampla da porta da frente, vejo sete pessoas empunhando rifles e armas de nível militar, uma mulher negra se aproxima com um rifle apoiado no seu braço.

- Eu abaixaria essa arma se fosse você- ela ameaça- você está sozinha?- a mulher pergunta olhando para mim de cima a baixo, faço que sim com a cabeça- isso é o que vamos ver- ela olha para trás e com gestos faz com que todos se espalhem pela pequena loja.

-Marie, achei uma garotinha- fala um garoto alto e esguio que parece ter dezenove anos, meu coração congela, quase choro ao ver Claire sobre a mira de uma espingarda. A porta dos fundos se abre e posso ver Dylan, Mike e Johnny com armas sobre suas cabeças se contorcendo e tentando se livrar das fortes mãos que os seguram.

- Não gostamos de mentiroso sabia?- ela fala voltando se novamente para mim, os homens os fazem ajoelhar e outro tira meu arco, coloca uma arma sobre a minha cabeça me fazendo ajoelhar também- Agora vamos decidir o que vamos fazer com vocês.

O Dia Depois De AmanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora