CAPÍTULO 2

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Sem revisão




Alicia

- Vocês já se conhecem? - A voz de Jane me tirou do transe que aquelas lembranças havia me colocado. Ele estava completamente diferente do garoto por quem eu me apaixonei. Mais alto e mais forte. Seus cabelos agora estavam mais curtos e penteados para o lado, devidamente arrumados. Mas seus olhos e sorriso continuavam o mesmo e, infelizmente, ainda me causavam sensações que eu não queria mais sentir. Não depois de tanto tempo. Não depois de tudo que passamos.

- Sim, Jane. - A rouquidão de sua voz me fez estremecer. Porra! Porra! PORRA!!

- Bom, então vou deixa-los a sós para conversarem. - Jane pareceu sentir a tensão eminente entre nós dois e antes de eu se quer pensar em protestar ela já tinha saído da sala me deixando sozinha com a última pessoa que achei que veria novamente.

- Eu não imaginava que você era a Dra. Evans que Jane tanto falava. - Ele disse enquanto sorria sem graça passando a mão na nuca, o que me fez perceber que ele ainda fazia aquilo quando estava nervoso. - Eu... Você está linda!

- Obrigado. - Foi a única coisa que consegui dizer e graças a Deus minha voz saiu firme do jeito que eu queria. Ele estava mais perto de mim e o seu perfume amadeirado me atingiu em cheio fazendo com que meu coração, que já estava acelerado, começasse a sambar feito louco dentro do meu peito.

Maldito coração traidor! Oh bonitinho, não lembra a dor que esse mesmo cara te causou?

- Bem, sente-se! A gente tem tanto...

- Não. - Cortei. Ele realmente achava que depois de tudo eu iria me sentar com ele e bater um papo como velhos amigos? Tenha dó. - Eu preciso ir, logo irei começar a atender meus pacientes. - Menti, faltavam três horas para meu primeiro paciente. - Foi bom te rever, Becker! Tenha um bom dia.

Virei-me indo em direção a porta, respirando fundo para não ter um treco ali mesmo, quando senti sua mão firmes envolta do meu braço me segurando e puxando com cuidado para perto dele. Meu corpo inteiro estremeceu, senti como se minhas pernas tivesse virado geleia e o local onde sua mão estava tinha uma temperatura mais elevada do que o resto do meu corpo. Virei meu rosto em sua direção e o que vi quase fez meu coração parar: Ele tinha os olhos de cachorrinho que tinha caído da mudança e seus lábios estavam apertados, quase fazendo um biquinho, e eu sabia que estava ferrada. Oh, como eu estava ferrada!

- Me desculpa Ali. Por favor, me desculpa! Eu sei que fui um babaca com você, sei que não sou sua pessoa favorita no mundo, mas veja só! O destino nos deu mais uma chance, nos colocou frente a frente novamente e talvez possamos fazer certo dessa vez!

- Destino? Fazer certo dessa vez? - Eu rir sem humor não acreditando no que ele tinha acabado de falar. Puxei meu braço de sua mão, me afastando um pouco e olhando incrédula para ele. - Até quando? Até você encontrar outra pessoa? Ou até você cansar de brincar com a criança mimada aqui e resolver partir para mulheres mais maduras?

Ele abaixou a cabeça assim que repeti aquelas palavras, que anos atrás foram ditas por ele e que até hoje me assombravam. Talvez você pense que sou uma pessoa muito dramática e rancorosa, mas pra falar a verdade eu não sou e estou surpresa comigo mesmo. Não só pelas reações que meu corpo está tendo com ele mais uma vez por perto, mas também com essa mágoa que pensei ter enterrado anos atrás quando decidi seguir em frente e não me deixar abalar pelo o que tinha acontecido. Eu não poderia me descontrolar novamente e agir como uma adolescente magoada. Virei-me indo em direção a porta, abrindo-a e saindo, mas antes dela se fechar eu pude escutar Henrique sussurrar mais uma vez "Me desculpa, pequena" em português.

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