Conto de fadas na vida real [Revisado]

11 - O Jogo

 Davi começa e já dando uma excelente tacada e encaçapa duas bolas de uma vez, isso me deixa feliz e cria a esperança de uma possível vitória.

A cada joga há vibrações, torcidas e comemorações para os dois times.

Com o tempo eu começo a me divertir e esqueço que estou participando de uma aposta, já percebi que onde Davi está sempre há curiosos por perto e agora não é diferente.

Existe uma pequena plateia à nossa volta e a maioria está a favor dele, ninguém ouviu sobre a aposta, então, eles não sabem que no final há um grande risco de ter um pequeno show com ele como protagonista.

Toda vez que ele se movimenta ao redor da mesa e passa por mim, procurando o melhor ângulo para a próxima jogada, Davi faz questão de que os nossos corpos se toquem de alguma maneira.

Ele sempre dá um jeito, ou de esbarrar, ou de encostar sua mão na minha sem que ninguém perceba e espero muito que isso não o distraia ao ponto de colocar o jogo em risco.

Com o tempo, Rafael e Paula percebem isso e se entreolham, porém, não falam nada.

Ainda acho estranho o fato de eles estarem sempre por perto, rondando o Davi a todo o momento, mas devem ser como os outros curiosos.

O problema é que eu sou muito ruim mesmo e no outro time os dois são bons, não sei muito bem como funciona a pontuação, mas vejo que a fisionomia de Davi está mudando e que pelo jeito as coisas não estão tão boas para o nosso lado.

De repente o Rafael começa a eliminar todas as poucas bolas que ainda estavam sobre a mesa e quando a última desce pelo buraco a Paula começa a pular e vibrar.

Meu coração aperta quando a ficha cai, NÓS PERDEMOS!

Davi joga com raiva o taco sobre a mesa e as pessoas a nossa volta começam a se dispersar uma a uma, achando que era só mais um jogo.

Leandro observar de longe a minha reação que até o momento é neutra, Davi e eu nos olhamos sem se falar durante um tempo.

Até que ele mexe os seus lábios em um "Desculpas" sem som e eu respondo com um "sem problema", no mesmo tom.

O fato é que a culpa não foi dele, ele joga muito bem, eu é que atrapalhei, mas sei que ele nunca vai falar isso.

Mas eu avisei!

Desde o início eu disse não queria entrar nesse jogo, agora já era.

Essa era a pior das hipóteses e aconteceu.

Nos distraímos olhando um para o outro quando do nada a Paula pulou no pescoço dele e o beijou.

Ai que raiva, eu me esqueci que essa derrota teria consequências.

Tem gente vibrando e eu sei que a aposta dizia que o beijo tinha que ser de verdade, mas vê-lo corresponder no lugar de afastá-la está dilacerando o meu coração.

Tento manter a postura como se tudo estivesse sobre o meu controle, mas é mentira.

Estou arrasada, meus olhos estão ardendo e não sei dizer se a vontade de ir lá e tirá-la dos braços dele é mais forte do que a de sair correndo e sumir.

Primeiro estou sentindo ódio dessa oferecida e com raiva de toda essa situação que ela mesma fez questão de criar, como esse pessoal pode estar feliz por ele está com ela, sabendo que o certo era ele estar comigo?

Não, eles não sabem!

Na verdade, não somos nada, ou somos?

Não, não somos!

Será que de fato nós deveríamos estar juntos?

Fico observando as mãos dele para ver se ele a toca da mesma forma que faz comigo.

Sim, adotei uma posição de autoflagelação!

Acho que ele está começando a gostar do beijo porque a sua postura relaxou.

Tenho certeza de que a torcida está influenciando, ele é muito competitivo, talvez o beijo dela também esteja ajudando-o a relaxar, deve estar gostando, afinal ela é linda e é o tipo de mulher perfeita para ele.

Quem sabe isso não tenha acontecido à toa?

Pode ser que o ajude a perceber que está correndo atrás da pessoa errada!

Por que um beijo tão demorado?

Na verdade, não sei se realmente está demorando porque parece que o tempo parou.

Fico com a impressão de que Davi leu os meus pensamentos porque a afasta imediatamente e em seguida me procura com desespero nos olhos, porém, a impressão que eu tenho é que ele ficou mais preocupado que eu estivesse beijando o Rafael do que quisesse de fato parar de beijá-la.

Percebo que estou certa quanto ao seu medo quando o vejo procurando o Rafael na multidão até encontrar e ficar com um ar de interrogação.

Só aí me dou conta que também tenho que beijar o Rafael!

Não é que o Rafael seja feio, muito pelo contrário!

Ou que beijá-lo irá ser um tormento, ainda mais agora que tive que aturar essa cena ridícula do beijo entre Davi e Paula.

O meu único problema é que não sou mulher de ficar com vários caras.

Para ser sincera eu nunca fico com ninguém, se resolvo me envolver é para ter um relacionamento sério.

Mas desde que cheguei a esse lugar tudo está virando de cabeça para baixo e agora ainda tem mais essa.

Estou muito mexida pelo Davi, não consigo nem me reconhecer quando estou perto dele.

Porém, vai ser difícil beijar um gato como o Rafael e não sentir nada com isso, mas também se o Davi pode curtir a loira nojenta porque eu não posso curtir o gatinho?

Caramba, como vou sair dessa agora?