2| Capítulo

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  Katherine 

         Horas se passaram após o ocorrido ou talvez tenham sido minutos, na verdade não estava contando. O tempo parecia ter parado para mim, congelado naquela cena mórbida e aterrorizante presente na sala da minha casa.

Eu ainda estava lá encostada na parede segurando meus joelhos e olhando para nada específico, não queria olhar para o lado e ver minha mãe estirada no chão sem vida envolta a uma poça de sangue, seu sangue, tingindo de vermelho o piso em cerâmica com padrões em preto e branco, e o homem que eu havia matado com os olhos arregalados vidrados no nada como se estivesse em uma eterna agonia. Isso mesmo, eu matei não sei como, mas o fiz. Deixei as lágrimas caírem silenciosas traçando caminhos salgados pela minha face e pingando em meu queixo, de repente consciente da morte que rondava o ambiente de forma quase palpável de tão intensa. Tive medo de estender a mão e acabar esbarrando em sua forma etérea e cadavérica assim como os desenhos animados retratavam, de modo que apertei mais ainda os punhos contra meus joelhos como se esse ato me salvasse da realidade cruel ao qual me encontrava. Me encontrei agarrando-me as minhas pernas como uma válvula de escape, a única coisa que sobrou que ainda era minha. Eu mesma.

A dor na minha cabeça tinha acabado logo depois de tudo estourar, a casa estava escura pois as lâmpadas tinham estourado junto a vários objetos de vidro da sala. Em um rompante de coragem virei meu rosto em direção ao estrago para logo depois me arrepender.

Coragem idiota!

A sala estava um caos repleta de cacos de  vidros espalhados por todo o lugar, sangue manchando diversas partes do piso em uma mistura de cores opacas que refletiam a pouca luz que escapava das frestas das cortinas nas janelas percebi então que queria muito que as luzes continuassem acesas, pois a pouca iluminação que provinha da lua alcançando de forma precária até onde lhe era permitido, contribuíam ainda mais para me causar calafrios ao fazer presente os dois corpos inertes e ainda mais assutadores sob aquela luz pálida do astro noturno, que a algumas horas atrás me fascinava.  

Eu tinha alguns cortes por causa dos cacos que estavam espalhados por todo lado, mas eu não me importava com a dor que os ferimentos me causavam, pois a maior dor estava no meu coração, tinha perdido minha mãe a única pessoa que eu possuía na vida.

Depois de alguns minutos ou horas não sei dizer por quanto tempo fiquei ali, ouvi passos e vozes se aproximando, pessoas desconhecidas entraram enchendo a sala de barulho, eu não me mexi talvez assim eles nem me visem, mas alguém notou minha presença e veio em minha direção, se abaixou ficando da minha altura quando ia me tocar eu me encolhi mais, não sabia o que queria.

_Ela deve estar em choque. _Falou o desconhecido.

_Oque será que aconteceu aqui? _Disse outro homem olhando a bagunça e os corpos na sala, fechei os olhos com força para não olhar novamente para minha mãe.

_Acho melhor levarmos ela, isso é demais para uma criança ver. _Falou o homem próximo a mim. Mas me levar para onde? Eu não tinha mais ninguém.

_Hei, vai ficar tudo bem, eu não vou te machucar. _Se aproximou, mas eu comecei a me debater com medo do que aquele estranho poderia fazer. O homem disse algo que eu não entendi então o outro homem que estava na sala se aproximou para me segurar, eu me debati mais e senti uma picada no braço e tudo escureceu.

♦♦🔱♦♦

Acordei em um lugar estranho completamente branco, o som de um bip insistente entrava por meus ouvidos o que me fez virar o rosto e perceber que estava em um quarto de hospital, comecei a me debater com medo até que uma mulher veio até mim.

_Calma meu bem, você está segura. Ninguém vai te fazer mal aqui. _Ela disse tocando meu braço delicadamente, mas eu estava assustada demais para processar essa informação e para piorar uma dor alucinante entrou na minha mente, de novo não, comecei a ficar nervosa com a situação ouvi os bipes aumentarem gradativamente e novamente os objetos do quarto tremeram e explodiram. A mulher gritou e várias pessoas entraram no quarto e eu apaguei novamente.

♦♦🔱♦♦

       Acordei suando e com a respiração entrecortada, olhei ao redor me acalmando após confirmar que estava no lugar certo.

_Outro pesadelo? _Perguntou Zack, meu pupilo, com um tom de voz calmo.

Ah muito tempo que eu deixei de ter pesadelos, eu os vivi. Isso era uma lembrança, eu sabia, que estava me atormentando à dias.

Balanço a cabeça afirmando, me viro e deito tentando dormir novamente mesmo sabendo que não conseguirei, quando sinto uma mão no meu ombro, era Zack carinhoso como sempre, a empurro e ele desiste sabe muito bem como sou, escuto-o suspirar sei que ele só queria me confortar, mas não adianta nada mudará meu passado e eu não preciso que ninguém me conforte, nunca precisei.

Zack era meu pupilo desde os oito anos quando o encontrei machucado na estrada, sua família tinha sofrido um acidente de carruagem e caído penhasco à baixo, ele teve sorte de ter sido jogado para fora. Minha primeira reação foi deixá-lo ali, mas aqueles olhos azuis brilhando pelas lágrimas me fizeram voltar e levá-lo comigo o criei desde então, prefiro acreditar que fiz isso por pena ou por que ele se parecia comigo sozinho e abandonado, a verdade é que nem mesmo eu sei o que sinto por esse moleque, só sei que quero protegê-lo, mas não demonstro nada, apenas indiferença fui criada para não sentir.

Passo o resto da noite acordada observando o céu estrelado, estávamos dormindo na floresta o ar natural me acalma, quando amanhece levanto-me. Depois de guardas minhas coisas dentro da mochila que trazia vou chamar Zack, observo meu pupilo dormir, não sei por que ele ainda não me deixou já tem dezesseis anos e pode se virar sozinho, mas me conforta que não o tenha feito sentiria sua falta. Claro que nunca admitiria isso.

Passo a mão em seu rosto de leve, daria minha vida por ele o que é extremamente estranho para mim, mas aprendi a me acostumar com esse instinto protetor ao qual desenvolvi em relação a Zack, vejo seu olhos se abrirem e me encararem com um tímido sorriso no rosto, só aí percebo que ainda estou com a mão em seu rosto, a retiro rapidamente e me levanto virando de costas.

_Precisamos ir, arrume suas coisas. _Digo friamente e o espero guardar suas coisas. Quando ele termina e coloca a mochila nas costas e aproximo e jogo uma maçã para ele.

_Vamos. _Me viro e começo a andar sem mais nada a dizer.

_Bom dia para você também. Ouço-o falar com uma ar divertido após pegar a maçã mordendo a mesma e me seguir.

Criada para matarOnde histórias criam vida. Descubra agora