11| Capítulo

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Sonhos

As luzes atacavam meus olhos forçando-me a fechá-los novamente, formas entravam e saíam de foco. Minha cabeça doía como o inferno e meu corpo pesava uma tonelada.

_Isso é incrível! Nunca vi nada parecido. _Ouvi alguém dizer.

_Ela é inacreditável! Faz ideia do avanço tecnológico que poderemos alcançar estudando-a. _Outra voz.

Mexo-me e percebo que estou presa, puxo meu braço e resmungo pela dor que sinto no meu pulso preso.

_Ela está acordando. _
Uma das duas vozes anteriores diz. Ouço uma movimentação ao meu redor, consigo finalmente abrir os olhos e encontro dois pares de olhos me observando.
Tento me soltar, mas está impossível.

_Calma, garotinha. Não vamos te machucar. Um homem careca com uma barba negra e olhos castanhos diz, pondo a mão em meu ombro. Sua voz era calma e estranhamente me deixou relaxada.

_Sabe o seu nome? _Me perguntou calmamente.

_S-Sim. _Digo hesitante.
_Me chamo Katherine.

_Bom. Sua memória não está comprometida. _O outro homem com uma aparência mais velha disse.
Ele possuía cabelos grisalhos e usava óculos.

De repente a cena mudou, e eu me vi mais velha, talvez uns dois anos. Estava em um quarto escuro, parecia feito de metal sem nenhuma janela ou qualquer outro móvel, apenas uma porta que estava trancada. Eu estava tremendo de frio encolhida em um canto qualquer do quarto vazio.

A porta se abriu e o mesmo homem careca de barba veio me buscar, eu sabia para onde iria, mas preferia não saber. Eu iria fazer os testes, testes esses que duravam o dia inteiro ou ate mais de um, me forçando a treinar com vários objetos pesados seja em sol ou chuva, não era autorizada a sair até ter eliminado todos os objetos. Por muitas vezes fiquei sem comer ou beber.

Eu treinava com sacos de areia sendo jogados em minha direção para que desviasse, com robôs que me obrigavam a lutar, até mesmo com animais selvagens dentro da mata para sobreviver sem nada para me ajudar, apenas o meu poder telecinético que eles queriam explorar, e nunca, nunca tive uma palavra de carinho, nunca os vi orgulhosos de mim, faziam questão de me humilhar toda vez que eu falhava, para mim não era permitido emoções eu precisava ser uma máquina.

E eu me tornei.

Fui levada então, para o pior dia da minha vida, o dia que começariam as experiências.
Não quero me lembrar disso, essas malditas experiências, esses estudos tortuosos me fizeram sofrer como ninguém deveria, por eles eu fui torturada, cortada, estudada... como uma cobaia.
Essas malditas experiências retiraram qualquer resquício de humanidade que eu ainda poderia ter, me tornei como eles tanto queriam uma máquina, máquina essa que os levou à seu fim.

Chega!
Eu não queria mais ver, eu não queria relembrar, queria sair daquele lugar daquelas lembranças. Sinto alguém me segurar, um rosto aparece, mas eu não consigo identifica-lo está com um sorriso perverso no rosto.

Não eu não queria voltar para aquele lugar horrível de novo, eu não iria voltar.

_Não! _Ouço-me gritar e empurrar alguém.
Percebo ofegante que tudo não passou de um sonho, uma lembrança do meu tortuoso passado. Olho para frente e vejo Henrique caído no chão, então era ele que me segurava.

_O que você estava fazendo! _Grito com ele brava e ao mesmo tempo assustada pelo sonho. Ele me olha com dúvida e raiva estampadas em seu rosto.

_Como assim o que eu fiz? Só estava tentando acordá-la. _Ele diz com um tom de voz contido, e eu percebo que os outros ainda estão dormindo.

_Nunca mais toque em mim. _Digo entre dentes, aquele pesadelo me afetou bastante.

_Não seja ingrata, você queria que eu fizesse o quê? Devia ver como estava, parecia a beira de um ataque! Eu só queria ajudar. _Ele levanta as mãos para cima. Eu reconheço que está certo, mas nunca admitirei, passo a mão no rosto suado e me levanto, preciso espairecer.

_Aonde você vai?  _Henrique me pergunta.

_Não é da sua conta. _Digo saindo, e espero que ele não me siga.

Caminho por uma trilha e encontro uma colina, sento-me no topo com as pernas encolhidas no peito e a cabeça sobre meus joelhos, observo o céu tomado de estrelas, fecho os olhos e sinto a brisa noturna bater em meu rosto, como eu adoro a sensação que o vento trás.

_Você está bem? _Escuto e fecho ainda mais meus olhos com força. Por que ele me seguiu? Como eu queria um pouco de paz, e aquele garoto despertava tudo em mim, exceto paz.

_Vá embora. _O expulso.

_Você é sempre assim? _Ele ignora o que eu disse sentando do meu lado.

_Qual é o seu problema? O encaro.

Ele sorri de lado e cruza os braços, para depois me encarar com um semblante sério, seus olhos negros intensos parecem vasculhar minha alma. Me sinto tão exposta.

_Não vou embora até que você me diga o que está acontecendo.

Criada para matarOnde histórias criam vida. Descubra agora