1 - O dia

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Eu estava voltando do trabalho, como fazia todos os dias, quando a chuva começou a cair. Começou devagar e eu pensei que daria tempo de chegar ao ponto de ônibus sem me molhar muito, mas eu estava muito errado. De uma hora para outra, caiu tanta água que pensei que eu desmancharia.

Tentei correr, mas não conseguia ver direito. Tentei procurar algum lugar para ficar, mas as lojas já haviam fechado e não havia cobertura na frente de nenhuma delas. Foi então que decidi aceitar o meu destino e ir caminhando na chuva mesmo.

Durante a caminhada escorregadia, uma menina de cabelos dourados veio em minha direção com um guarda-chuva vermelho e, juro, ela era o ser mais lindo que eu já tinha visto. Confesso que fiquei meio estático observando-a chegar próximo a mim e, quando ainda tentava me recompor de uma espécie de"transe", ela começou a falar comigo.

- Quer dividir o chapéu comigo?

- Claro! Tô encharcado! Obrigado! - Ela veio em minha direção e fomos caminhando juntos. Eu me perguntava que menina ofereceria ajuda a um estranho na rua, mas, ao mesmo tempo, meus pensamentos se voltavam aos olhos dela que pareciam me hipnotizar. Tinham uma cor diferente. 

- Dia ruim pra esquecer o chapéu, não? - Ela disse um pouco tímida. Eu ri. - Que foi? 

- É que você falou "chapéu" e não guarda-chuva.

- Ah, tá! - Ela riu. - Acho que é culpa da minha avó. 

- Por quê?

- Porque sempre a ouvi chamar assim. 

- Hum... Faz sentido. Sempre herdamos algumas frases da família. Eu tenho algumas, mas só uso às vezes. Se eu falasse algumas delas no trabalho ririam de mim até o outro dia. 

- Mas por quê? - Ela sorriu. - Não há nada de mau em falar frases assim... Hum... Engraçadas? É. Engraçadas!

- É verdade, mas quando se é jornalista é mais complicado. - Eu ri sem jeito. 

- Ah! Jornalista! Que legal! 

- Quer dizer, estagiário, na verdade. - Nós já estávamos chegando perto do ponto de ônibus e eu não podia perder a chance de saber quem era aquela menina de olhos tão doces. - Qual é o seu nome? 

- Roberta. E o seu?

- Caio. Bom, na verdade é Antônio Caio, mas não gosto de Antônio. 

- Acho Antônio um nome adorável. - Logo depois, ela deu sinal a um ônibus.
Eu quis ser mais rápido, então peguei o celular da mão dela e digitei o meu número.

- Espero que ligue para eu agradecer a "carona". - Ela sorriu sem dizer nada e subiu no ônibus acenando para mim.

Desde aquele momento, não tiro o celular de perto de mim e não vejo a hora de ouvi-lo tocar e ser a menina dos olhos de avelã.

O lado bom da chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora