10 - A outra Roberta

98 7 7
                                    



- Não é porque te deixei entrar que não tô mais com raiva. – Disse se sentando em sua poltrona vermelha na sala.

- Eu sei. – Eu sorri meio zombeteiro. – Mas está menos. – Ela revirou os olhos, séria.

- Se cubra e tome a xícara de café. - Pegou o celular. – Não quero que fique resfriado e ponha a culpa em mim depois. – Eu dei um meio sorriso. Quando ela está com raiva levanta muito a sobrancelha esquerda. Seria estranho achar isso fofo?

- Está bem. – Me sentei no sofá enrolado ao edredom marrom. Estava frio. – Chapeuzinho... – Tomei um gole do café. – Você tem mil motivos para ficar chateada comigo e...

- Você tem outra, né? – Ela me interrompeu.

- O quê!? – Eu quase derrubei o café. – De onde tirou isso?

- Você tá muito estranho, Caio. – Respirou olhando para o chão. - Só pode ser isso. – Colocou o celular na mesa de centro, levantou as pernas e abraçou os joelhos. – Se não for isso, é o que, então? – Olhou para mim.

- Roberta, - Me levantei colocando o café na mesa e me ajoelhei de frente à ela. – não existe ninguém além de você na minha vida.

- Então por que está agindo tão estranho? Por que me ignora? Por que quando estamos juntos você parece estar pensando em outra coisa? Ou... Outra pessoa? – Olhou para o lado.

Nossa! Como ela conseguiu interpretar tudo tão errado?

- Chapeuzinho, olha pra mim. – Peguei o seu queixo e a fiz virar o rosto. – Olha nos meus olhos. Você acha mesmo que eu trocaria o meu maior bem por outra coisa ou pessoa? – Percebi que ela iria sorrir, mas se segurou.

- Tá bem. – Tirou a minha mão do seu rosto. – Me explica a razão de você estar assim então.

- Bom... – Pensei no que o Eduardo disse e pensei em dizer a verdade logo, tudo isso em dois segundos. Tomar uma decisão abruptamente é tão desgastante... Não sei como tem gente que consegue trabalhar com a bolsa de valores. – É tudo culpa do Edu. – Como fui inteligente, para não dizer o contrário.

- Como assim "culpa do Edu"? – Ela abaixou as pernas e cruzou os braços.

Pensa, Caio. Pensa, Caio.

- Quer dizer... – Fiquei de pé e me virei de costas. – Ele tem a ver com isso...

- E... - Ela disse esperando minha continuação. Mas eu travei. Não consegui continuar a falar. Fiquei lá parado procurando como terminar a frase e ouvindo a respiração dela cada vez mais alto.

Eu sempre fui o "péssimo mentiroso" da minha família. Do tipo que gagueja e que sua bastante enquanto está inventando algo.

Quando eu tirava notas ruins e escondia da minha mãe, ela sempre descobria. Bastava me perguntar "Antônio Caio, você não está mentindo pra mim, está?" e já via minha bochecha começar a tremer tamanho o meu nervosismo. Não sei se isso é um defeito ou uma qualidade.

- Caio, você não sabe mentir. – Ela por fim falou me tirando do momento de nostalgia raro. Foi aí que meu telefone tocou. – Não vai atender? – Olhei para a tela e tinha um número desconhecido.

- Não. – Pela hora, provavelmente, era a Maria Rita para tratarmos sobre o jantar. Travei o celular temendo que a Roberta descobrisse. – Vamos conversar primeiro.

- Por que ficou estranho assim? – Me virou. – É ela, né?

- Ela quem, Roberta? – Droga. Ela entendeu tudo errado.

O lado bom da chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora