2 - Dia ruim? Talvez

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Eu estava caminhando quando, do outro lado da avenida, vi um "chapéu" semelhante... Tentei olhar com mais cuidado para que não fosse um engano e, felizmente, não era. Roberta estava do outro lado da rua andando rápido em meio às pessoas.

Comecei a gritar seu nome e a correr. Atravessei na faixa de pedestres e estava ficando bem próximo. Quando, finalmente, eu ia colocar a mão em seu ombro, ouvi um barulho muito alto que fez com que... eu acordasse.
Sim, era meu despertador. E, para piorar a situação, eu caí da cama ao tentar desligá-lo.

"Ótimo jeito de começar o dia, Caio", pensei alto.

Essa foi a segunda vez que sonhei com Roberta desde que nos vimos pela primeira/única/última vez, e isso faz duas semanas. Acho que nunca mais a verei. Tenho que me lembrar da próxima vez de anotar o número da garota e não o contrário. 

Mas, também, pudera!  Eu fui muito sonhador em achar que aquela menina linda ligaria para mim. A vida tem dessas coisas mesmo...

Como eu estava com um sono muito pesado, demorei a ouvir o despertador, o que fez com que eu me atrasasse. Cheguei ao trabalho 25 minutos depois de todo mundo e minha chefe também não estava em um dia bom.

- Isso são horas, Antônio? - Ela começou.

- Me desculpe, Ivone. Tive uns problemas... E, por favor, eu não gosto de Antônio. 

- Tá bem, Carlos... Vai fazer o que eu te pedi ontem. - Ela saiu de nariz em pé como sempre e nem esperou a minha resposta.

- Ivone, é Caio e não Carlos... - Foi quase um cochicho.

- Dia ruim, Carlinhos? – Eduardo disse caçoando de mim como sempre.

- Sim. Muito. E ainda vem a Ivone me chamar de Carlos de novo... 

-Ah! Mas  Antônio CAIO nem existe! Antônio Carlos é o normal, né. Nem dá pra culpar a velha de errar. - Eu ri. - Como eu já disse antes, sua mãe quis te zoar, não adianta ficar tristinho... - Ele riu de mim enquanto dava dois tapas nas minhas costas.

- Está bem! Está bem. - Suspirei. - Agora me deixa em paz, porque preciso atender o que a "Poderosa Chefona" mandou. - Comecei a digitar sem parar.

Os erros estúpidos que cometi no trabalho me fizeram ter certeza que não era o meu dia de sorte. E, para melhorar, fiquei fazendo hora extra, como no dia que peguei aquela chuva forte.

Terminei de fazer minhas tarefas e arrumei tudo em minha mesa para o outro dia. Arrumei a do Eduardo também, para variar. Tive que descer 11 andares de escada porque o elevador estava em manutenção. Meu Deus, não era o meu dia.

Quando consegui chegar à rua, uni a energia que me faltava e caminhei muito rápido em direção ao ponto de ônibus. Queria fugir e me esconder daquele dia o mais breve possível. De repente senti alguém bater em meu ombro.

- Ei, moço! Deixou sua carteira cair! - Quando eu me virei para pegar a carteira, era ela: a menina dos olhos de avelã. Me ajudando de novo. Até pensei por um momento que estava sonhando pela terceira vez, mas percebi que não era sonho quando ela me reconheceu.

- Antônio? É você? É você! Que coincidência.

- Primeiro o guarda-chuva, agora a carteira. Acho que você nasceu para me salvar.

- Primeiro o chapéu, agora a carteira. Acho que você nasceu para ser salvo. - Ela retrucou ao me entregar a carteira que nem conferi para ver se era mesmo a minha.

- Você tá indo para o ponto de ônibus? 

- Tô.

- Posso te acompanhar? 

- É claro. - Um silêncio incômodo se instalou até ela voltar a falar. - Ah! Você não sabe o que aconteceu! Quando anotou seu número no meu celular e eu peguei o ônibus, fui salvar, mas meu telefone descarregou na hora e não consegui recuperar... 

- Ah, que pena... Posso dar meu número de novo se quiser. Anoto em um papel até. - Ela riu.

- Está bem. - Peguei uma folha de papel do meu caderno e anotei. 

O ônibus dela - que só chega na hora errada - apareceu e ela teve que ir. Nos despedimos e ela subiu. Passou-se uns 15 minutos, recebi uma mensagem.

"Olá, Antônio! Roberta aqui. Anota o meu número aí. ><"

"Já está anotado, Roberta. :)"

Começamos a conversar no restante daquela noite via mensagem de texto. Depois de um tempo vi que ela não era só bonita, era inteligente também. Percebi isso quando comecei a falar que tive que escrever sobre a economia do Brasil e do mundo e ela sabia, com propriedade, tudo o que eu estava falando e respondia sobre todos os assuntos. Eu fiquei extremamente impressionado e admito que meio abobado também - tomara que ela não tenha percebido. 

Às 01:15 hora da manhã ela teve que parar de conversar pois, assim como eu, teria que acordar cedo. Combinamos de conversar mais outro dia e assim fizemos. 

Com as conversas diárias, percebi que nós nos parecíamos muito. Acho que ela também percebeu, pois depois das últimas três semanas de contato nos tornamos praticamente amigos - não que eu quisesse ser só isso, é claro.

Achei que já estava na hora de nos vermos pessoalmente de novo, então, depois de eu chegar em casa, liguei para Roberta.

- Olá, Chapeuzinho Vermelho! 

- De novo com esse "Chapeuzinho Vermelho"? - Ela disse sem entusiasmo.

- Claro! Esse nome é perfeito pra você! Você tem um guarda-chuva vermelho que chama de chapéu, esqueceu? Então, nada melhor que Chapeuzinho Vermelho. - Eu impliquei.

- Sim, eu chamo. Mas tô pensando seriamente em chamar de guarda-chuva como todo mundo, só para você não me chamar mais assim! - Ela espirrou.

- Tá resfriada?

- Um pouquinho. Eu já tô bem melhor. Mas, diga, o que queria me perguntar que não podia ser por mensagem?

- Gostaria de saber se você quer almoçar comigo nesse sábado. – Eu estava um pouco apreensivo.

- Ah... Esse sábado? Onde? 

- Você escolhe o lugar. 

- Hum... Está bem! Vou te mandar por mensagem meu restaurante favorito! Agora tenho que desligar, pois estão me chamando... Adeus, Antônio Caaaaaaarlos! - Ela riu. - Brincadeira, Caio!

- Não começa com isso, Chapeuzinho Vermelho! Já disse que pode me chamar só de Antônio.

- Está bem, Antônio. Boa noite. Até depois...

- Boa noite, Roberta. Até amanhã. - Com pesar, desliguei.

Tive que me contentar com as nossas conversas e com a ansiedade de vê-la logo. Não via a hora de encontrar a minha menina dos olhos de avelã.

O lado bom da chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora