14 - Claustrofobia

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- O que que houve!? - Eduardo correu em minha direção. - Pra onde ela foi?

- Ela teve que ir. - Minhas lágrimas molhavam meu terno.

- O quê!? Pra onde?

- Ela foi... - Cerrei os punhos. - embora.

- Mas... - Pausou por alguns segundos. - Você quer alguma...

- Vocês podem ir embora ou... - Respirei fundo e sequei as lágrimas. - ficar. Tanto faz. - Me virei para o Eduardo. - Só tira essa peruca ridícula, por favor.

- Tá bom. - Ele puxou da cabeça a peruca loira. - Aaaaaai!

- O que foi!?

- Me ajuda, Caio! - Ele tentava puxar a peruca, mas ela não saía. - Ficou presa!

- Presa no quê!? 

- No meu piercing!

- Desde quando você tem piercing!?

- Desde ontem! Caramba! - Ele puxava e não saía. - Me ajuda logo! - Eu corri em sua direção.

- Pra quê você furou a orelha, seu burro!? - Eduardo tinha colocado um travessão que se enroscou em todo aquele cabelo amarelo sintético. Era um emaranhado de fios.

- Eu queria entrar no personagem, droga! - Ele fez cara de choro. - Corta! Corta pelo amor de Deus!

- Alguém aí tem uma tesoura!? - Olhei para o Claúdio e o Henrique e eles não conseguiam nem responder de tanto rir. Cada um caiu para um lado do palco, o que foi simétrico até demais. O seu Marcelo levantou a mão e fez sinal que não. A pança peluda dele apareceu ainda mais. Ele tentou segurar a risada, mas não aguentou. Eu não tive outra alternativa a não ser pegar a faca da mesa e tentar cortar. - Fica parado! - Apontei a faca para ele.

- Jesus! Maria! José! Me ajudem! - Nessa hora nem eu aguentei. - Caio, para de rir! Corta logo, seu filho de uma...

- Cortei! - Levantei a peruca em sinal de vitória e seu Marcelo, Cláudio, Henrique e os dois garçons foram ao delírio.

Aquela agonia toda me fez esquecer tudo por alguns segundos e eu agradecia pelo o tapado do Eduardo ser meu melhor amigo.

*


Era de se esperar que não seria fácil. No momento em que me direcionei ao palco e chamei todas aquelas pessoas que me ajudaram a fazer daquele dia tão único, me vi sendo movido por engrenagens automáticas que se encarregaram de cuidar de tudo. Juntei a todos no saguão, agradeci pelo o engajamento e a ajuda deles e os comuniquei que estavam dispensados devido a um contratempo. Nunca pensei que eu conseguiria ter a frieza do meu pai um dia.

Enquanto eu os observava sair descontentes e confusos, a parte consciente de mim entrava em colapso. Eu não demonstrava expressão facial, mas eu estava em ruínas. Não sei exatamente por quanto tempo estive em pé naquele palco olhando para o restaurante vazio, mas acho que foram horas. Só me dei conta que estava lá ainda quando estava amanhecendo e Eduardo estava sentado debruçado sobre uma mesa, roncando. Todos se foram, menos ele.

Eu desci do palco e me sentei. Apoiei os cotovelos nos joelhos e esfreguei os meus olhos. O nó em minha garganta parecia estar mais apertado que antes e minha respiração descompensava ao pensar nisso. Como o lugar ficou tão abafado em segundos?

Tirei a parte de cima do terno e desfrouxei a gravata, ainda assim não mudou muita coisa. Eu estava preso dentro da agonia de pensar viver longe dela. Era quente, incômodo, claustrofóbico e não havia nenhuma saída.

Eram tantos pensamentos ao mesmo tempo que tudo parecia ainda mais apertado e pequeno. Não havia mais espaço, mas a cada segundo enchia mais... e mais... e mais... E a cada procura por sentido naquilo tudo, eu me via envolto pelas incertezas de um futuro que eu não imaginava ter até ontem à noite, até o momento em que ela deu as costas para mim sem nem pestanejar. Uau! Eu não imaginava ser tão descartável assim. Talvez eu só estivesse criando expectativas como sempre faço: exageradamente. 

Que droga! 

Olha o que estou pensando? O pai dela está doente e eu, aqui, questionando o sentimento dela por mim? Que se dane o que ela sente por mim! Mesmo que ela não se importasse comigo e isso me triturasse de dentro para fora, ainda assim não mudaria o que sinto, porque meu amor por ela não está condicionado ao que ela pode me dar em troca. Eu a amo porque a amo e, cara, como isso é assustador! Como ter a clareza disso nesse momento é tão ruim e como não poder ir atrás dela e contar agora é tão sufocante! Estou afogando nas palavras que eu deveria ter dito ontem e é o pior jeito que alguém poderia morrer.

Não posso deixar que isso tome conta de mim. Preciso usar o que estou sentindo como forma de me impulsionar ao que mais quero, que é dizer à ela o quanto a amo e agora não é o momento ideal, apesar de eu estar morrendo aos poucos por isso. Vou esperar encontrá-la de novo e não vou perder a chance na próxima vez. Se tem uma coisa que aprendi é que não devemos nos arrepender por não ter dito algo. Eu sempre aprendo a lição.

- Cara, que horas são? - Eduardo me tirou dos devaneios. - Que dor no pescoço! - Colocou a mão na nuca enquanto olhava seu relógio. - Meu Deus! Preciso me arrumar! Ivone vai nos matar!

- Hoje é sábado, besta. 

- Ah. É. - Ele ficou em pé e se espreguiçou. - Mesmo assim vou trabalhar. - Foi em minha direção, pegou meu terno e me entregou. - Mete o pé.

- O quê?

- Vou cuidar de tudo aqui e você vai para casa dormir.

- Não. Eu que vou arrumar... - Me puxou pelo braço.

- Vai logo. Antes que eu me irrite. - Me empurrou.

- Mas...

- Mas nada. - Me colocou pra fora do Florian.

- Pensa que eu não sei que tá fazendo isso pra comer o que sobrou!? Não sou idiota!

- Não é mesmo! - Ouvi ele gritar.

Eduardo teve uma boa intenção, mas ele sabia que eu não conseguiria dormir. Eu estava pensativo e preocupado demais para isso. Além do mais, ainda tinha esperança de que ela me ligasse antes de viajar e, se eu dormisse, eu não conseguiria ouvir, pois me torno uma pedra dormindo, todos sabem. Decidi, então, caminhar antes de ir para casa, quem sabe assim não passasse um tempo e ela me ligasse? Talvez me fizesse bem andar um pouco... Contudo, nós sabemos que não era esse o principal motivo de eu caminhar por ali, não é? Eu queria apertar mais a ferida, porque é isso que fazemos quando estamos nos sentindo mal, nos martirizamos. Nós não queremos o nosso bem, então nós nos mutilamos e comigo não seria diferente, figurativamente falando, é claro. Eu estava mal, mas não usaria desses artifícios... Usaria piores, como ir ao nosso lugar do primeiro encontro.

Deus, como sou burro.

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Mas que Caio burro!!!! kkk

 Gente, me falem o que sentiram ao ler, porque eu chorei muito ao escrever :'( To mal.

Não esquece minha estrela, ta? Pfvrzinho s2

O lado bom da chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora