8 - Um risco amarelo

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- Quando você disse que estava como um zumbi eu não levei a sério, mas agora eu vejo que não era brincadeira. – O Eduardo arregalou os olhos. – Você é feio, mas, menino, passou dos limites hoje.

- Vai... – Bocejei.

- Olha só! Nem tem forças pra me xingar... – Deu dois tapas no meu braço esquerdo. - Olha o que o amor faz... – Eu reclamei de dor.

- Fiquei falando com o dono do restaurante e resolvendo tudo até tarde. – Esfreguei os olhos.

- Conseguiu alugar?

- Sim. Essa cara feia aqui é por uma boa causa.

- É, mas quem sofre sou eu, porque tenho que ficar vendo ela todo dia. – Jogou uns papéis em cima de mim e continuou a falar: - A Ivone não vem hoje, mas ela quer isso pra ontem. Até mais tarde.

- Saco. - Peguei os papeis e tentei forçar a vista pra ler. Seria um longo dia.

*

Chegamos à minha casa por volta das 21 horas. Estava tudo muito silencioso e até estranhei meus vizinhos não estarem com o som ligado em plena sexta-feira.

Quando chegamos ao quarto/sala, nem precisei falar para o Eduardo ficar à vontade. Foi para cozinha e abriu meu armário perguntando onde estava o Doritos.

- Parte de baixo. Segunda gaveta. – Eu respondi enquanto tirava meu casaco e sentava em frente ao computador. Ele pegou uma cadeira da minha mini cozinha, se sentou ao meu lado e começou a falar.

- E aí? O que temos para começar a procurar?

- Pelas minhas contas, um total de nada.

- Fala sério.

- Tô falando sério. – Apontei para a foto no computador, a dos quatro integrantes. - Tá vendo essa foto? É a única coisa que achei quando coloquei o nome da banda na pesquisa. Olhei vários sites, mas nada. Não fala nem o nome do cantor.

- Você perguntou pra aquele tal de Amador se ele sabia o nome dos integrantes?

- Sim, mas ele não sabia. Perguntei sobre o antigo dono, mas o Seu Amador disse que ele morreu há alguns meses. – Lembrei do meu primeiro encontro com a Roberta, agora eu sabia o porquê o restaurante estava fechado quando fomos. Estranho pensar que alguém tenha morrido para que eu tivesse o melhor dia da minha vida.

- Aff. – Ele colocou a mão no queixo, olhou para cima e pensou. - Hum... E o chef e a recepcionista que ainda estão vivos?

- Bem lembrado. Vou olhar se eles responderam minhas mensagens. – Abri uma nova aba no computador e acessei meu Facebook. Havia duas mensagens, uma da Maria Rita - a recepcionista - e outra da Roberta.

- "Meu amor, tô com muita saudade de você. Vê se larga a Ivone e passa aqui em casa hoje. Coraçãozinho." – Eduardo gargalhou depois de ler. Eu revirei os olhos.

- A Maria Rita disse que aceita participar do meu plano. – Respirei, aliviado. - Ufa! Menos um. – Peguei a caderneta que estava o lado do mouse e anotei um "Ok" em "Recepcionista".

- Manda mensagem perguntando sobre a banda, Caio.

- Tá.

* "Boa noite, Senhora Maria Rita! :D

Muito obrigado por ser cúmplice no meu plano. Sua presença era imprescindível e eu fico muito feliz que tenha aceitado. Já já mandarei tudo sobre o dia e como será feito. Peço que diga o preço também quando vir essa mensagem.

Só gostaria de pedir mais um favor. Saberia me informar o nome dos integrantes da banda que trabalhava lá na época? Não consigo encontrar nada sobre eles na Internet e só falta algumas semanas. Estou um pouquinho desesperado demais. Rs.

Muito agradecido desde já.

Atenciosamente, Antônio Caio Sartori."

- Espero que ela não demore a ler. – Eu comentei.

- Verdade. E o Chef?

- Ainda não deu sinal de vida, mas eu coloquei ele como última opção...

- Como assim!? Comida, cara. Comida. – Olhei para o Eduardo falando com a boca cheia de Doritos e ri.

- Eu sei. A questão é que, você sabe, eu não sou nenhum rico. Tô usando minhas economias para fazer isso e o chef profissional pode sair um pouco mais caro. E também, a Roberta teve mais contato com a recepcionista e a banda pelo o que ela me falou. Tenho que escolher prioridades, infelizmente, então ele vai ser contratado se não for além das minhas possibilidades. Tendeu? - Olhei para o computador respirando profundamente.

- Você sabe que se precisar te ajudo, né? – Olhei para o Eduardo com os olhos arregalados.

- Desde quando você tem dinheiro? – Falei, admirado.

- Quem falou de dinheiro? Estou falando dos meus dotes culinários. – Eu ri.

- Você é uma comédia.

Passamos grande parte da noite conversando e pesquisando, tentando encontrar algum vestígio da banda. Era incrível como ela parecia existir só nas histórias da Roberta, como se os integrantes fossem um risco amarelo na linha do tempo dela, que só ela lembrava.

Comecei até a pensar na hipótese de descartar esses músicos quando deu meia noite, porque eu estava muito cansado e não encontrávamos absolutamente nada sobre eles. Pensei em desistir de tudo, para falar a verdade. Comprar um presente normal, algo clichê que eu saberia que ela gostaria...

Mas não. Não poderia. Não depois de ver o sorriso da Roberta no carro quando ouviu aquela música boba. Eu tinha que dar um jeito.

Já era uma da manhã quando o Eduardo foi embora e, como já era sábado, continuei minha procura já que não trabalharia de manhã.

Decidi olhar minhas mensagens novamente e ver se havia alguma resposta da Maria Rita, mas ainda não tinha. Só tinha a mensagem da Roberta que eu esqueci de responder.

"Sou um idiota. Vai ficar brava com razão.", pensei.

* "Amor, me desculpa. Sei que combinamos de fazer algo hoje, mas eu tive que fazer uma coisa até tarde. Me perdoa. Amanhã compenso. Beijos, Love."

Torci para que ela não ficasse com raiva, mesmo depois da mensagem "meia boca" que mandei. Felizmente, a Roberta é a pessoa mais compreensível que conheço então a possibilidade de se chatear é pequena – assim espero.

Olhei para o relógio do meu pulso, já passava das três da manhã e não havia nenhum sinal de vida da Maria Rita, da Roberta ou meu. Eu precisava dormir.

Fui para o banheiro escovar os dentes e tomar banho. Voltei para o quarto/sala, peguei os resquícios do Eduardo (o resto do Doritos) e joguei no lixo. Desliguei o monitor do computador e me deitei na cama. Fechei os olhos e adormeci.

Tive uns sonhos meio loucos dos quais não lembro mais. Só lembro que foi com a Roberta e uns caras vestidos de amarelo e também pensei ao acordar: "O que foi isso?".

Acordei mais tarde que deveria, por volta das 11 horas, e fiquei pensando se tomava café ou se almoçava logo. Que dúvida.

Depois de pensar bastante, com direito a coçar a cabeça e tudo, decidi tomar café.

Fui para a cozinha e liguei a cafeteira. Depois, fui ao banheiro escovar os dentes. (Sim, eu escovo dentes antes de comer).

Voltei para o quarto e liguei o monitor do computador para verificar minhas mensagens e, por sorte e azar, havia a resposta da Maria Rita e da Roberta.

Adivinhe de quem veio a má notícia.

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E aí? Qual das duas deu uma má notícia? Tãnãnãnãn!

Comenta o que acha :p

Beijos doces

O lado bom da chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora