| Worst day |

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Com Alaska ao colo sentia mexer nos meus cabelos, ao mesmo tempo que caminhava para fora de casa. Disse a Harry que voltava depressa mas ele decidiu que não queria que eu fosse sozinha. Ele e as suas cismas de camelo.

Mal abro a porta ele decide atravessar-se e tirar-me Alaska dos braços brincando com ela por entre o jardim que decorava a parte exterior da casa.

Observei o dia de sol de hoje, estava bom eu podia dizer, o clima estava finalmente ameno e o dia estava convidativo até para uma ida ao parque e não a casa da Ellen.

Mas se faz a Alaska feliz, também me faz feliz a mim.

Observo Harry a fazer cócegas na barriga de Alaska e ela puxar-lhe parte dos caracóis. O que me fez rir quando Harry gemeu de dor e mordeu ao de leve a bochecha de Alaska.

Ao chegar a casa do pai de Alaska, segundo as indicações da pequena, deparámo-nos com a porta fechada e acabei por dar um passo em frente para lhe bater um pouco com os nós dos dedos.

- Viemos trazer a Alaska a casa! - eu digo num sorriso largo e observo Alaska no colo do Harry.

- Não quero ver ninguém! - ouço uma voz masculina do lado de dentro.

O meu queixo cai quando me aparecebo que aquela não era a voz do pai de Alaska e Harry passa Alaska para os meus braços rapidamente, depois de ouvir semelhante voz junto de mim.

Desta vez Harry chegou-se à frente, repetindo o meu ato.

- Preciso de ver o Sr.Spring! - Harry pronuncia alto o suficiente para que abram a porta.

- Aqui não mora nenhum Spring! Não mais! - o homem alto que abrira a porta, pronuncia-se com um monte de pelos abaixo do nariz.

- Deixe-me entrar apenas para verificar. - Harry pede.

- Não! - ele firma uma mão sobre o ombro de Harry e observo-o erguer uma faca lentamente com a outra.

Não queria alertar o homem, ele poderia ter um movimento brusco por isso decidi chamar a atenção para que Harry se desse conta.

- Cenouras! - eu digo e faço o homem virar a cara para mim.

Harry puxa a faca do homem e atira-a para o chão, do seu lado. O homem furioso agarra Harry pelo pescoço e atira-o ao chão pressionando os dois polegares sobre o pescoço de Harry.

Pouso a pequena Alaska e esta corre até ao jardim, decido aproximar-me do homem e consigo puxá-lo para fora do campo de visão do Harry impedindo-o de sufocar tudo o que tenho.

Sinto o seu corpo cair sobre o meu quando o puxo. O desequilíbrio faz-me cair e dá-me um campo melhorado de visão para a sua cara. Com um olho desmanchado, a boca tensa, um ouriço cacheiro debaixo do nariz e um horrível mau hálito. Tresandava a ratos de esgoto e sinceramente a sua roupa estava tão démodé.

- É assim que vou morrer? - eu surpreendo-o.

- O que queres dizer? Vais ser estrangulada pelos meus bíceps. - ele diz beijando um deles e Harry parece divertido ainda sem se conseguir levantar-se.

- Desculpa? Estás a falar dessas batatas mal colocadas nos teus braços pendurados? Falemos então desse ouriço cacheiro debaixo do nariz ou então dessa relva implantada no lugar do cabelo. Que coisa feia, homem! Consegues achar isso normal? - ele começa a ficar nervoso mas noto algumas fragilidades que começam a escorrer-lhe pela cara - O teu cheiro a esgoto enoja qualquer vitíma que tu tens e essa roupa ugh parece que foi escolhida pela tua mãe da pré-historia, moço. - eu digo.

Consigo agora ter a atenção dele e algumas gotas de água provenientes dos seus olhos embatem nas minhas bochechas.

- Foda-se - ele diz completamente lixado com as minhas palavras - Como pode isso afetar alguém tão grande como eu?

- Às vezes as pessoas pensam que têm tudo, mas não tem nada. - eu digo-lhe e no momento que ele pousa os polegares ao meu pescoço ouço um vazo entornado e alguns pedaços de barro caem na minha cara.

- Quero que a florzinha vermelha vá para o céu, ámen. - eu ouço uma voz baixa e observo a cara de Alaska.

Com a cabeça baixa e as mãos erguidas juntas uma na outra ela rezava pela perda da flor que aparentava estar no vaso antes dela o atirar.

- O papá não está a fazer panquecas. - ela diz a fungar.

- Deve de estar algures. - Harry diz já se levantado e sacode as calças.

- Vamos ver. - digo e dou a mão a Alaska.

Entramos na casa de Alaska, estava num pranto. Loiça partida no chão, sala completamente desarrumada e tudo o que envolvia o desastre, estava concentrado no espaço que aquela casa ocupava.

Ao entrar na sala observo o pai de Alaska, deitado sobre o chão com algumas seringas junto dele. Pareciam terem sido ejectadas por alguém que não ele uma vez que as suas mãos estavam atadas. A sua cabeça pendurada com meio corpo encostado ao sofá deixou todos em choque.

- Pa.Pai? - ouço Alaska com as mãos agora erguidas no ar.

- Alaska, ele...

Os olhos dela estavam completamente desiludidos, as lágrimas a caírem dos seus olhos eram como as contas de um colar sem fim. A respiração atordoada pelo facto de estar a acelarar junto dos seus batimentos cardíacos e a pele pálida.

Baixamo-nos ao nível dela, ajoelhámo-nos. Ela pousou a cabeça sobre o colo do pai depois de desatar euforicamente os seus pulsos. Deitou-se sobre ele, nas suas pernas e rezava baixinho. Rezava para ele, para ele estar bem, para se lembrar dela e dizia vezes sem conta que o amava e nunca iria esquecer.

Alaska era uma menina esperta, demasiado esperta para a pouca idade, ela ultrapassa tudo de uma maneira diferente de qualquer outra criança, ela é diferente, mas neste momento, Alaska estava sozinha e o meu maior medo era de alguém a levar para longe de mim, não sabendo bem o porquê, eu queria a Alaska para mim, eu não queria vê-la sofrer mais do que o que ela está a sofrer.

OUR DEMONS : hs (disponível também em livro)Onde histórias criam vida. Descubra agora