Meias verdades

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Thomas deixou o quarto de Anabelle em seguida. A loira passou as mãos pelos cabelos, incrédula.

Flash-back
"Era o dia do casamento de Anabelle. Anahi estava com ela, para ajudá-la e seria ela que entraria na igreja com a irmã.
- Você tem mesmo certeza disso?
- Claro que sim Annie... Eu amo o Thom... Ele é o homem da minha vida... Pai do meu bebê... - ela acariciou a barriga sob o vestido de noiva.
Thomas havia pedido Anabelle em casamento logo que descobriu que ela estava gravida. E decidiram agilizar tudo e casar rápido para que a barriga não aparecesse tanto.
- Eu só acho que ele não é o cara certo para você!
- E por que diz isso?
- Sexto sentido... - Anahi suspirou balançando a cabeça. - Não acho que ele seja de confiança... Tem cara de ser um homem que trai...
- Da onde você tirou isso Anahi??? - Anabelle falou surpresa. - Está louca? Você mal o conhece...
- Eu sei... - ela suspirou. - Só estou preocupada com a minha irmãzinha..."

Anabelle passou a mão pelo cabelo... Ela tinha todos os indícios, e foi tola o suficiente para cair nessa armadilha.

Flash-back
"- Eu já disse que não Thomas.. Isso é ridículo!!
- Vamos Anahi! O que custa? Será apenas uma noite!
Eles sussurravam em um canto da sala, Anahi visivelmente incomodada.
- O que será apenas uma noite? - Anabelle se aproximou acariciando a barriga já grande de 6 meses que carregava Johanna.
- Hã.. O que? Quer dizer... Como?
- Pedi ajuda de Anahi para comprar um presente para você.. Afinal, ela sabe muito mais os seus gostos do que eu!
- Ownn!!!! Meu maridinho lindo! - ela apertou as bochechas do marido, sensível pela gestação. - Ora vamos Annie... Acompanhe o Thom!
-  Mas... - ela tentou protestar.
- Mas nada! Vamos... Faça pela sua irmãzinha!
Anahi bufou em seguida."

Como foi possível que nunca tivesse desconfiado de nada? Claro, confiava tanto em Anahi e Thomas que nunca sequer suspeitou de algo tão podre da parte deles.
E então flashs da última briga com Thomas a atingiram, na verdade, um momento em particular.

Flash-back
"- Só por cima de mim Thomas! - Anabelle falou seria, se postando na frente do marido.
- Será um prazer! - ele sussurrou já partindo para cima dela, que protegeu a barriga como pôde, recebendo um tapa ardido que fez seu rosto arder.
Uma série de tapas, chutes, apertões, se seguiu, onde Anabelle apenas chorava, tentava se defender com uma mão, enquanto a outra abraçava a barriga.
- Tho-Tho-Thomas... Por favor, pare!  - ele se afastou, cuspindo no rosto dela.
- Você é fraca... Anahi pode ser a vagabunda que é... Mas pelo menos é milhões de vezes mais mulher do que você!"

Anabelle levou as mãos aos cabelos, afundando os dedos desesperada.
- Como nunca percebi isso antes? - sussurrou para si mesma.
Toc-toc
- Belle? - a voz da irmã a atingiu como uma facada no peito.
Anahi entrou no quarto em silêncio, fechando a porta atras de si. Anabelle apenas a encarou, os olhos cheios de lágrimas de mágoa.
- Como você pôde Anahi? - perguntou friamente enquanto uma lágrima escorria solitária por sua face.

-/-

Leonardo acordou um tempo depois, perguntando por Anahi.
- Ela foi ver a irmã dela que também está nesse hospital... Jajá ela está de volta..
- A irmã dela? A Tia Belle? - perguntou curioso.
- Sim! - respondeu sorrindo. - Você também a conhece?
- Aham.. Elas sempre iam juntas no orfanato pra contar histórias... Ela também é legal, mas claro que sempre gostei mais da Nany... - se defendeu rindo, e Poncho o acompanhou.
- Realmente elas tem uma história especial com aquele orfanato! - ele falou.
- É.. Elas também foram abandonadas... - ele sussurrou baixando os olhinhos.
- Hey.. Não fique assim garotão.. - Poncho suspirou passando a mão no cabelo dele.
- Sabe tio Poncho.. Não reclamo de viver no orfanato porque tenho tudo o que uma criança precisa... Amor, carinho, comida, estudos, brinquedos, amigos... Mas sempre vai faltar algo, sempre vai faltar aquele pedacinho no coração que só é preenchido por um pai ou uma mãe..
Poncho engoliu em seco, realmente nunca havia parado para pensar no sofrimento do coração de uma criança por ter que passar por isso.
- Você sabe o que aconteceu com seus pais? - Poncho perguntou e o menino balançou a cabeça, negando.
- Só sei que minha mãe me deixou na porta do orfanato com dias de vida, junto com um ursinho de pelúcia amarelo.. - Poncho estreitou os olhos, havia dado um ursinho de pelúcia amarelo para Sabrina quando soube da gravidez. - Meu pai nem deve saber que eu existo porque nunca nem ouvi nada sobre ele...
- Eu sinto muito Léo... Eu realmente sinto muito por tanta dor...
- Está tudo bem Tio Poncho... - ele deu os ombros. - Eu tenho pessoas que me amam... A Nany, você, a tia Helena, a Dona Chica, todos os meus amigos...
- Mas sente falta de um carinho de mãe...
- Eu nem sei o que é isso.. - ele suspirou. - Mas o carinho que eu mais gosto é o da Nany comigo...
- Isso é carinho de mãe... - Poncho respondeu tocando o cabelo dele, que retesou na hora. - Ué.. O que foi?
- Não quero me animar... Não quero pensar bobagens para depois ficar triste... - ele falou tão baixo que se o hospital não estivesse silencioso, Poncho não teria ouvido.
- Do que está falando?
- Quando eu era menor, os meninos mais velhos diziam que a Nany ia me adotar... Há anos atras... Aí eu criei esperanças, sonhava todos os dias com o momento que eu a chamaria de mãe... Mas aí, ela sumiu... E meu coração ficou tão quebradinho... Demorou para eu ficar bem de novo... E agora ela apareceu de novo, com você! Vocês são muito legais comigo... E eu amo vocês demais... Tenho medo de criar esperanças de novo, e me decepcionar de novo..

-/-

- Do que você está falando?
- Não se faça de idiota!!! - mais uma lágrima escorreu. - Eu quero que você me conte, com detalhes, como tudo começou... Eu quero ouvir essa história da sua boca para tentar entender porque fez isso comigo!
- Do que está falando?
- Estou falando do fato de você ter sido amante do Thomas esses anos todos! - Anahi arregalou os olhos. - Me fala Anahi!
- Eu NUNCA fui amante do seu marido Anabelle! - ela sibilou estreitando os olhos. - Isso é extremamente ultrajante! Ser acusada assim depois de ficar ao seu lado!
Mesmo com essa frase da irmã, Anabelle não arredou.
- E por que o Thomas veio me falar isso?
- Talvez porque ele não nos queira juntas...? Mas se você prefere acreditar no homem que te agride e à sua filha do que na sua irmã... Não posso fazer nada!
- Ele sabe de muita coisa sobre você Anahi! Como você explica isso?
Anabelle percebeu Anahi engolir em seco.
- Como assim? Do que está falando?
- Ele sabe da sua tatuagem, sabe da sua mancha abaixo do seio... Anahi, fala sério? Como ele saberia?
Anahi engoliu em seco novamente, como responderia aquilo?
- Er... As vezes ele ouviu...
- PARA ANAHI! - Anabelle gritou com lágrimas nos olhos. - Eu te conheço desde sempre... Eu sei mais do que ninguém quando você está mentindo... Me fala a verdade... Pelo amor de Deus, me fala!
Anahi já não se agüentou mais, grossas lágrimas começaram a descer de seus olhos. E então ela caiu no choro sôfrego.
- Eu... Eu... Eu não estou mentindo... Eu juro por tudo que é mais sagrado, Anabelle...
- Então me explica... Como ele sabe de tudo isso?
- E-e-eu não po-posso...
- Como não pode?
- Não posso.. - sussurrou e saiu correndo do quarto em seguida.

-/-

- Eu jamais te decepcionaria Léo! - Poncho falou acarinhando o menino. - Nem e muito menos a Nany...
- Mas... - ele tentou mas Poncho o cortou.
- Léo... Não conversei com a Annie sobre isso, mas eu quero sim... Eu quero te adotar... O que você acharia disso?
- O que eu acho? - ele arregalou os olhos. - E-e-eu... Quer dizer... Você tem certeza?
- Claro que sim! Por que não teria?
O menino abriu um lindo sorriso, com os olhos cheios de lágrimas.
- Claro que eu quero isso... - falou baixinho.
- Então assim que você melhorar, vamos resolver essa questão.. Ok?
- Resolver? - ele perguntou com os olhinhos curiosos.
- Sim... Entrar com o processo de adoção.. O que acha de morar comigo?
- MORAR?? Com você?? E com a Nany???
- Sim.. Comigo e com a Nany!
- CLARO QUE SIM!!!! Isso é o MÁXIMO!!!!! Quando posso ir? Já amanha?
- Calma garotão... - Poncho riu com a empolgação do menino. - Isso pode demorar um pouco..
O menino murchou na hora.
- Ah... - ele sussurrou.
- Calma... Pode demorar para sair a questão da adoção, porque envolve muita burocracia... Mas eu não vou desistir de você Leo... Nunca!
- Você jura? - arregalou os olhinhos de novo.
- Com a minha vida garotão...
Léo sorriu empolgado e abraçou Poncho pelo pescoço, pouco se importando com a própria cirurgia.
- Obrigado Tio Poncho! Você vai ser o melhor pai do mundo!
Poncho sentiu seus olhos se enchendo de lágrimas com essa frase tão sincera.
- E você vai ser o melhor filho do mundo!
Léo sorriu, aconchegado ao pescoço do novo pai.

-/-

Anahi sumiu por um tempo. Sentou em uma escadaria do hospital, torcendo os dedos nas mãos, tentando conter as lágrimas, que insistiam em querer cair.
Tentou esconder seu passado por tanto tempo... Tanto tempo que achou que esquecendo, essa parte de sua história seria apagada.. Ou ao menos, nunca revelada para ninguém.
Tocou os braços, sentindo nojo de si mesma por um dia ter tido as mãos dele tocando seu corpo, e com esse pensamento, as lágrimas voltaram a cair insistentemente.
Todos os toques, todas as vezes que ele disse que a amava, todas as vezes que ele disse que largaria tudo por ela...
- E eu, como uma bela trouxa que sou, acreditei... - sussurrou para si mesma. - E logo depois ele destruiu minha vida...
Agora estava mais viva do que nunca... Thomas havia contado para Anabelle, e em breve, quem sabe o que mais aconteceria...
De repente um medo apoderou-se dela. E se Poncho descobrisse? Ele a odiaria, a julgaria, como todos.
Enfiou os dedos no cabelo castanho, abaixando a cabeça entre as pernas, respirando em lufadas, para ver se com isso seu cérebro voltava a trabalhar.
- Baby? - ouviu uma voz conhecida a chamando, sentiu que todos os pelos do seu corpo se arrepiaram. - O Léo dormiu de novo.. Aí vim te procurar para saber como sua irmã está...
Agora era a hora, ela sabia que Poncho tinha que saber dessa história, e o melhor seria que fosse por ela.
Levantou a cabeça e o encarou.
- Baby.. O que houve? Está chorando? - perguntou preocupado já se aproximando dela.
- Precisamos conversar... - ela sussurrou simplesmente, sem conseguir olhar nos olhos dele.

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