Cirurgias de emergência

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Logo que entraram pelas portas do pronto-socorro, Poncho exigiu que o menino fosse atendido de imediato, explicando suas suspeitas.
Os médicos de pronto já o levaram para a emergência, porém eles não puderam acompanha-lo.
- Aí meu Deus... É o meu menino... - Anahi chorava. - Se acontecer algo com ele, eu não sei o que vou fazer... Juro que não sei Poncho..
- Se acalma Annie, vai dar tudo certo! O Léo é um garotão forte!  Ele não vai se deixar abalar por isso... Princesa, você tem que se acalmar!
- Eu sei Poncho... Eu sei... - ela passava a mão pelo rosto, ele a abraçou e logo percebeu que ela tremia nos braços dele. - Mas não da... Eu estou muito preocupada...
- Eu também estou Baby... - ele admitiu a apertando nos braços. - Mas vamos ter fé...
- Sim... Vamos ter fé... - Anahi se agarrou a camisa de Poncho, o abraçando pela cintura.
Eles se sentaram nas cadeiras da sala de espera, Poncho ficou abraçado com Anahi o tempo todo, um dando forças para o outro.
- Responsáveis pelo paciente Leonardo?
O casal se assustou com a chamada inesperada e levantou em um pulo.
- Sim doutor! Somos nós!  - Poncho tomou a frente agarrando a mão da namorada.
- Como está o Léo?
- Ele está a base de remédios para aliviar a dor... Porém, como os senhores suspeitavam, é realmente o seu apêndice inflamado. Graças a Deus o trouxeram correndo para cá, pois senão poderia ser tarde demais... Vamos ter que levá-lo para o centro cirúrgico para já dar início aos procedimentos de retirada do apêndice.
O coração de Anahi se apertou quando percebeu que seu pequeno teria que ser submetido a uma cirurgia.
- Quando vão levá-lo doutor?
- Aí que está o ponto, e por isso vim conversar com vocês... Aqui no hospital temos a regra de operar apenas quando há uma bolsa de sangue compatível para o caso de acontecer algo no decorrer da cirurgia.. Porém, o tipo sangüíneo do Leonardo é raríssimo, apenas 9% da população mundial tem esse tipo sangüíneo, o tipo O e infelizmente, ele só pode receber esse tipo de sangue e a maioria das pessoas se esquece como doar sangue é importante. Nossos estoques de O estão vazios!
- COMO ASSIM? MEU DEUS DO CÉU! - Anahi exclamou já passando a mão pelos cabelos, desesperada. - Mas e agora?
- Ligamos em hospitais próximos, porém o único que tem bolsas disponíveis desse tipo sangüíneo é quase 3 horas daqui... E temo que o apêndice possa supurar, ou seja, acontecer o rompimento do apêndice, atingindo assim todos os órgãos do paciente.
Anahi já se colocou a chorar, enquanto Poncho coçava a cabeça, preocupado. De repente como se tivesse tomado um tapa na cara, ele pareceu se lembrar de algo.
- Doutor, qual é o tipo sangüíneo do Léo mesmo?
- O-.
- Então pode me levar... Eu também sou O-!
Anahi arregalou os olhos, ainda cheios de lágrimas.
- Oh meu Deus! Vamos rápido então, quanto mais rápido formos, mais rápido realizamos a cirurgia!
Foram correndo para o local de coleta de sangue, onde Poncho já se sentou, respondeu as perguntas devidas e já começou o processo de doação. Anahi segurou sua mão o tempo todo, sorrindo e agradecendo sem parar.
O médico ficou ao seu lado monitorando a bolsa se encher de sangue.
- Claro! - de repente ele balançou a cabeça. - Como pude me esquecer de perguntar para vocês, na maioria das vezes, os pais podem doar sangue para os seus filhos...
- Mas o Léo não é meu filho... - Poncho falou confuso.
- Oh não? - o médico pareceu constrangido. - Me desculpem, é que vocês são tão parecidos que eu pensei... E além de terem o mesmo tipo sangüíneo... Isso é estranho..
- O Léo é órfão doutor.. - Anahi o interrompeu. - Nós somos voluntários no orfanato, e como Poncho é o único que tem carro, e a diretora teve que ficar cuidando das demais crianças, nós que o trouxemos.
- Oh, eu realmente sinto muito pelo engano!
- Não tem problema doutor! - Poncho falou já sentindo os primeiros efeitos da perda de sangue.

-/-

- ANABELLE!!! - Thomas gritou assim que chegou em casa tarde da noite.
- Thomas, vai acordar Johanna! - Anabelle saiu do quarto se enrolando no roupão.
- Cale a boca! - ele disse grosseiro enquanto apertava o braço da mulher.
- Thomas! - ela falou e ele a soltou. - Você está cheirando bebida! Você andou bebendo Thomas?
- E se andei? - ele respondeu debochando. - O que você tem a ver com isso?
- Tudo Thomas! Sou sua mulher... Me preocupo com você! - ela respondeu em um suspiro, cansada.
- Na hora de fugir de mim você não lembra que sou seu marido né? Mas na hora de cobrar algo de mim é a primeira coisa que sai dessa sua boquinha atrevida... Você é uma vagabunda!
O barulho do tapa estalado que Thomas deu no rosto de Anabelle ecoou pelo apartamento, a mesma foi ao chão de joelhos, tamanha a força que ele aplicou no tapa.
- Pare Thomas! - Anabelle suplicou ainda de joelhos, massageando seu rosto. - Eu não fiz nada... Eu tenho te obedecido... Por favor, pare!
- Hm.. Prefere que eu faça isso na Johanna então? - ele perguntou debochando, Anabelle se levantou como uma leoa, defenderia as filhas acima de tudo.
- Você prometeu! - sibilou com fúria nos olhos.
- Promessas não valem de nada.. Se me der vontade eu entro naquele quarto e faço um estrago ainda pior nas pernas daquela menina mal educada!
- Só por cima de mim Thomas! - Anabelle falou seria, se postando na frente do marido.
- Será um prazer! - ele sussurrou já partindo para cima dela, que protegeu a barriga como pôde, recebendo um tapa ardido que fez seu rosto arder.
Uma série de tapas, chutes, apertões, se seguiu, onde Anabelle apenas chorava, tentava se defender com uma mão, enquanto a outra abraçava a barriga.
- Tho-Tho-Thomas... Por favor, pare!  - ele se afastou, cuspindo no rosto dela.
- Você é fraca... Anahi pode ser a vagabunda que é... Mas pelo menos é milhões de vezes mais mulher do que você!
E então lhe deu um empurrão forte. Anabelle cambaleou para trás, pisando em falso na ponta do tapete e caindo no chão, batendo o quadril com força.
Uma dor alucinante atingiu sua barriga, e no momento que ela ia gritar pela ajuda de Thomas, o mesmo saiu pela porta, a batendo com força.
Olhou para baixo, desesperada, e viu uma poça de água misturada com sangue.
- Oh meu Deus... Não... Não... - ela bem que tentou se levantar, mas a dor a atingiu ainda mais forte. - JOHANNA!!! JOHANNA!!!!!!!
A filha saiu do quarto abraçada com seu cobertorzinho, chupando dedo e coçando os olhinhos. Assustou-se largando tudo no chão quando viu a mãe e a poça que se formava em volta dela.
- Bebê! Eu preciso da sua ajuda!
- Mamãe, o que aconteceu com você??? - ela correu tocando o rosto da mão que gemeu.
- Eu cai princesa... Eu preciso que você chame a tia Sophia aqui na frente, corre la e fala que eu preciso de ajuda!
Johanna assentiu e segundos depois estava saindo pela porta, de pijamas, com os cabelos enormes batendo em suas costas, lutando contra as lagrimas que queriam cair.
- TIA SOPHIA!!! TIA SO-SO-SOPHIA!!! - ela gritou gaguejando um pouco.
Ouviu um bater de pés, e em seguida Sophia apareceu na porta, assustada.
- Johanna, o que houve?
- A mamãe! Ela caiu.. Está na sala, está toda molhada e está com muita dor... Ajuda ela tia... Por favor!
Sophia correu em seguida, com Johanna em seu encalço.
- ANABELLE!!! O que aconteceu? - perguntou já tentando ajudá-la a se levantar.
- Eu cai Sophia... O Thomas... Er.. - ela tinha que pensar rápido. - Viajou à trabalho... Minha bolsa estourou.. Mas ainda não está na hora.. Eu estou apenas de 6 meses Sophia...
- Vem! Eu vou te levar para o hospital... - Sophia apoiou a amiga nos ombros, que soltou um grito agudo de dor. - Johis... Vá para a minha casa e fique lá com a Sam... Nós logo voltaremos...
- Ta bom Tia Sophia.. - Johanna concordou com medo.
- Princesa, vai ficar tudo bem ta? Eu te prometo.. Fique lá com a Sam!
- Ta mamãe... Eu te amo... Fica bem ta?

-/-

- Príncipe! - Anahi falou assim que entrou no quarto do Léo.
O pequeno estava um pouco desnorteado pelos remédios fortes, mas sorriu assim que ouviu a voz dela.
- Oi Nany... E o Tio Poncho?
- Ele esta se recuperando porque teve que tirar sangue... Sabia que vocês tem o mesmo sangue? - o menino sorriu. - Ele tirou para poderem colocar em você se precisar na cirurgia...
- Eu vou ter que fazer isso mesmo Nany?
- Vai Gatito.. Mas não fica com medo... Vai dar tudo certo e a Nany vai estar aqui te esperando quando sair da cirurgia para cuidar de você!
- Não estou com medo Nany! Sou um homenzinho né?
- Sim! Você é o meu homenzinho! - ela concordou beijando a cabeça dele.
- Hey!  Assim eu fico com ciúmes! - Poncho entrou no quarto sorrindo.
- TIO PONCHO! - o menino falou animado e Anahi o olhou na mesma hora, incrédula.
- HEY! Assim eu que fico com ciúmes! - Anahi falou cruzando os braços, emburrada.
- Não fique.. Você sabe que eu te amo mais do que tudo Nany! - ele disse tocando o rosto dela que sorriu.
- E eu sinto a mesma coisa!  - Poncho se abaixou e lhe deu um selinho.
- ECA! Ahhh não!  Beijo não! - ele falou mostrando a língua, fazendo os dois caírem na gargalhada.
Toc-toc
- Com licença... Viemos levá-lo para a cirurgia.. - uma enfermeira apareceu.
- Mas já? - Anahi sussurrou.
- Quanto antes, melhor, meu amor!  - Poncho falou dando um beijo em sua bochecha, que assentiu.
- Vai dar tudo certo Gatito... Eu vou estar aqui fora te esperando.. Eu prometo! Eu te amo Léo! - Anahi se abaixou acariciando o rosto dele enquanto dava um beijo na ponta de seu nariz.
- Eu também te amo Nany! - a abraçou forte.
- Garotão, seja forte hein! Vai dar tudo certo! - abaixou dando um beijo na testa do menino, que o agarrou pelo pescoço.
- Eu te amo Tio Poncho! - aquela frase, tão espontânea, fez o coração de Poncho se aquecer.
- Eu também te amo Léo! - sussurrou o apertando forte.

-/-

Saíram do quarto, indo para a área de espera da cirurgia. Poncho abraçou Anahi, que deitou a cabeça no ombro dele.
- Engraçado o Léo ter o mesmo tipo sangüíneo que o seu, não é?
- Só os mais lindos e charmosos tem esse tipo sangüíneo... - ela falou dando os ombros e ela riu.
- Poncho... Quais as chances de dar algo errado nessa cirurgia? - ela perguntou o encarando preocupada.
- Como o médico disse, Baby... Se o apêndice supurar, acontece o rompimento e isso atinge todos os órgãos.
- E o quanto isso é perigoso?
- É muito perigoso Annie, não vou mentir... No meu caso, os médicos disseram que o apêndice não supurou por segundos... Mas um conhecido meu ficou entre a vida e a morte...
- Ah meu Deus... - ela exclamou soluçando.
- Mas fique calma.. Os médicos estão otimistas... Não vai acontecer nada com o nosso Léo!
Anahi sorriu de canto, olhando nos olhos dele.
- Nosso Léo?
- Sim Baby... Sei que você o ama... E eu também já me encantei por esse menino... Então nada mais justo do que chamá-lo de nosso!
- Sim amor... É o nosso Léo!
Trocaram um selinho rápido e Anahi voltou a descansar a cabeça no ombro de Poncho.
Uma mulher entrou na sala de espera, segurando um celular na mão, parecia desesperada e nem olhou para os outros dois que estavam na sala.
- Oi amor! - colocou o celular no ouvido. - Sim.. Acabaram de levá-la para a preparação para a cirurgia.. A bolsa dela estourou e a placenta deslocou.. - ficou em silêncio um tempo. - Sim amor, o bebê corre risco de vida! - soltou um suspiro. - E como Johanna está? - Anahi ergueu os olhos na mesma hora, isso só podia ser uma coincidência, não é mesmo? - Tadinha... Mas que bom que ela dormiu... Anabelle estava muito preocupada com ela!
- Você disse Anabelle? - Anahi levantou e a mulher tomou um susto tão grande ao vê-la que derrubou o celular no chão.
- Meu Deus.. Vocês são iguais!
- Somos gêmeas! - falou sem paciência. - O que houve com ela?
Sophia passou a mão no cabelo, tentando colocar as idéias no lugar. Poncho já logo se levantou, postando-se ao lado de Anahi.
- Ela caiu... A bolsa estourou, o bebê corre risco de vida... Ela entrará em cirurgia em minutos...
- Ai meu Deus! Não pode ser! - Anahi saiu da sala, procurando uma enfermeira. - Com licença, procuro Anabelle Portilla!
- Ela entrará em cirurgia, você é irmã dela, certo? Vocês são iguais!
- Sim.. Eu preciso vê-la!
- Ela já entrará na sala de parto e falou que o marido está viajando, como você é da família, gostaria de acompanhar a cirurgia?
Anahi assentiu sem pensar muito, seguindo a enfermeira para a sala de preparação. Colocou a roupa especial, e assim que saiu viu Poncho a olhando, orgulhoso.
- Cuide de sua irmã... Eu vou cuidar do Léo!
- Obrigada meu amor.. - sussurrou dando-lhe um selinho e seguiu a enfermeira.
Anabelle já estava preparada na sala de cirurgia, deitada com o pano que tamparia a cesariana. Ela chorava muito.
Levantou os olhos e viu a irmã, assustou-se de início, mas Anahi pegou a mão dela, segurando forte enquanto também lutava contra as lágrimas.
- Por-Por-Por que está aqui? Por que está fazendo isso?
- Eu nunca te abandonaria Belle! - Anahi sussurrou dando-lhe um beijo na testa, fazendo com que Anabelle chorasse ainda mais.

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